

E é bem mais reveladora que a memória da razão ou percepção associativa.
Eu acho que a senhora não pôde ver a cerimônia que se passou na sua despedida lá em Belmonte, ontem. Ou se viu, foi de modo muito diferente do nosso. A senhora estava de corpo presente, logo na primeira sala à direita de quando a gente entra no casarão bonito de traço colonial, típico da época que Belmonte era um próspero lugar para se viver à sombra do cacau. Tanto que a casa, que hoje pertence à sua filha, tem um mundo de quartos e nunca vi tanta porta. A senhora estava lá, e também vi os seus livros de cerâmica, inclusive aquele da Catalunha, deve ter sido comprado na época que viajou para a Espanha. (agora acho tão bom que tenha feito esta viagem) Entramos, a casa estava cheia – a senhora nem imagina o tanto de pessoas que acorreram para lá, tão logo souberam da notícia. Nunca vira tanta gente de Santo André junta para evento particular, a não ser no aniversário dos 80 anos de Dudu, duas ou três estações para trás. Como de costume, a senhora estava toda arrumadinha, era um de seus traços, o gosto pela elegância, as roupas sempre adequadas, os desenhos delicados de tons pastéis nos seus pratos de porcelana, as orquídeas florescentes no jardim de sua casa. Sua família estava chorosa e triste ao mesmo tempo que tão bonitos, todos vestidos de branco, as filhas, os genros e os netos. Só não deu tempo para sua neta mais velha chegar, a senhora lembra, não é, Yasmim mora na Alemanha.Tudo aconteceu bem devagar, neste seu último dia entre nós, Da. Josefina. O tempo estava quente e abafado, as pessoas se espalhavam quietas pelas salas, cozinha, calçada, algumas assistiam um vídeo de um programa especial de Roberto Carlos ou conversavam com amigos que há tempos não viam. Aguardávamos com paciência, de qualquer maneira dias assim têm sempre um toque de irrealidade, malgrado pouca coisa desta vida seja mais real do que a morte. Mais tarde a banda chegou, eram quatro homens e quatro instrumentos de sopro – tocaram uma música de melodia tranqüila e foi com suavidade que pousaram a senhora na parte de cima da camionete branca. Nesse momento sua família e vários dos demais se emocionaram e choraram muito, talvez por não ser possível esque
cer a infalibilidade da última jornada. Saímos, um cortejo de carros, os netos maiores ao seu lado com as faces vermelhas do choro, a gente notava o olhar respeitoso das pessoas nas ruas, passamos no farol antigo, alguém mencionou que foi construído pela mesma companhia que fez a Torre Eiffel, outro traço do antigo fausto de Belmonte. No cemitério daqui, meu marido me contou, a divisão social persiste pela eternidade: à parte dos comuns mortais, tem um lugar chamado de Baixada Fluminense – é onde se enterram os bandidos – e outro espaço reservado para os índios.
Eu poderia falar dos coqueirais laterais ou da proximidade do mar no lugar onde agora a senhora repousa, Da. Josefina, ou ainda das cores e leveza das flores soltas – buganvílias, helicônias, hibiscos – mas a parte da cerimônia mais tocante não é possível explicar com palavras e aqui eu me despeço mas não de todo, porque da senhora ficam vários descendentes, essa gente bonita e de valor que a gente tem a sorte de conviver aqui no povoado.
De Seu Bené que ainda outro dia andava lépido pelas ruelas perto da igrejinha, que fazia cercas e plantava cereais no terreno baldio em frente à sua casa e que babava por este neto, o João Igor. Seu Bené morreu de infarto, foi rápido, não sofreu.
Para finalizar, um número de dança protagonizado por Elisa e dois amigos.
Foi uma noite e tanto! Não é à toa que o Restaurante Casapraia, dirigido pelos argentinos Pablo e Amadeo (foto) tenha conquistado um lugar de proa na diversão da Costa do Descobrimento. Olhei uma matéria que o Ricardo Freire fez sobre o Casapraia no ano passado e encontrei alguns comentários que faço questão de reproduzir
- "Ricardo, todo ano vou a Porto Seguro e sempre volto no Casa da Praia... Sou fã do Pablo e Amadeo. Adorei essa reportagem. (Tati)"
- "Ricardo, sou sua fã, adorei a maneira como descreveu a Casa da Praia, realmente é um lugar único e mágico. Frequento o lugar há 5 anos e sempre tenho vontade de voltar e rever os amigos Pablo e Amadeo. Parbéns para eles (Márcia Cristalli) "
"- RICARDO, SOU SEU FÃ, SEGUIDOR E DISCÍPULO, TENHO GRANDE RESPEITO POR VOCÊ E SEU MODO DE VIDA, A MATERIA ACIMA É ABSOLUTAMENTE VERDADEIRA, O LUGAR É FANTASTICO E OS DOIS, AMADEU E PABLO SÃO UNICOS (Geraldo Bretas)"
- "Ler sobre sua experiência, faz-me lembrar também um itinerário semelhante que fiz em 2007, Santo André, Itacaré, Barra Grande, Morro de São Paulo... Em Santo André, num jantar com a lua mais linda como luz natural a Casapraia também nos fascinou bem como a sofisticada gastronomia apresentada. Um abraço para Pablo e Amadeo (Pedro Alexandre - Portugal)"
- "RICARDO ADOREI.........sou paulistana mas, moro em Porto Seguro há 15 anos. Passo bons momentos na CASA PRAIA. Adoro os meninos, amo o lugar e é claro,como muito bem e bebo muito bem lá. Não troco aquele lugar por nada...bjs...Elza ".
Pois é: a gente mora aqui na roça, mas a gente se diverte. (fotos: a primeira, de Léa Penteado, as demais de Achilles Luciano)