
Cadê o limpador do para-brisa? O farol de neblina? O botão para girar o espelho retrovisor? Meu marido explicava o painel de controle: esquisito vê-lo como passageiro depois de milhares de quilômetros rodados sempre com ele ao volante. Décadas de estrada onde minhas tarefas consistiam em olhar os mapas -- quando a gente ainda usava mapas -- ou descascar frutas, contar as moedas para o pedágio, tagarelar, guardar o lixo, procurar hotel, essas coisas.
Paguei o primeiro pedágio de minha vida em Itaquaquecetuba, na Rodovia Carvalho Pinto. Era uma cobradora gordinha, de batom rosado, a gente se cumprimentou com bons dias. Estiquei o braço com as moedas na mão pensando se a itaquaquecetubana estaria vestida com um moletom velho da cintura para baixo ou sem sapatos, pequenas liberdades a que se pode dar no aperto daquela cápsula.
A melhor parte foi ouvir o elogio do companheiro – vindo de um motorista que dirigiu sozinho e sem nenhum incidente cerca de 16.500 kms numa só viagem pela Patagônia profunda. Ele me corrigiu umas duas vezes, mas disse que se sentiu seguro comigo na direção: e que agora temos dois motoristas em casa, uma efetiva e um suplente.