O olho da meia-noite
Madrugada, que tempo bom! Nas horas mortas e lindas da noite, olho para a casa desembrulhada, os cantos cheios de pacotes empilhados, o sono espalhado pelos seres.
Madrugada, que tempo bom! Nas horas mortas e lindas da noite, olho para a casa desembrulhada, os cantos cheios de pacotes empilhados, o sono espalhado pelos seres.
Exceto nesse quarto de música sussurrada com os vestígios do dia, onde uma mulher canta que já é tarde, que não vai mais dormir, e que vai sair sem direção.
O olhar perambula e se detém no livro de cabeceira do momento: um autor que discursa sobre o seu desânimo para discutir ou questionar os paradigmas da civilização que se esborralha, e dá seu veredicto: vivemos agora dos rendimentos da criatividade já instalada.
Nietzsche fala do pensamento como se falasse de uma festa, e agora?
Estamos vivendo aquele clima indefinível de fim de festa, José.
Se uma nova festa virá, não se sabe ainda. Estamos passando para outro estado, e não sabemos qual será este novo tempo. Talvez se caracterize por dispensar – e talvez nem sentir necessidade – de controlar tudo, o presente, o passado e o futuro.
Depreendo que a contribuição ao pensamento de hoje já não pode ser sistemática; ela tende a ser ensaística. Passa por aceitar a fragmentação de questões e perguntas, o pensamento como um processo de libertação, e o grande desafio: deixar-se atravessar pelo movimento de liberdade, sem que a liberdade inclua negar a dependência.
Toda a provocação da liberdade criativa é aprender a pensar.
O resto é agregado.
Idéias intrigantes de Emmanuel Carneiro Leão, e seu (excelente) livro “Aprendendo a pensar”.
É difícil pensar – diz ele – “porque temos os ouvidos entupidos com o ruído dos tempos e do alarido da civilização."
É uma turbulência curiosa.
Não se escuta o barulho que faz.
Em agradecimento às pessoas de Brasília que trouxeram preciosidades para a minha própria festa – e que, agora, na minha preciosa idade, continuam trazendo – registro nessa vacilante página virtual a certeza da gratidão e a continuidade de um bem-querer.
Parto para outras festas, outros convidados, e outros penetras, essas pessoas inesperadas que surgem do nada e deixam muito.
“É tarde eu já vou indo... preciso ir embora... até amanhã...”
-------------------------------------------
Uma madrugada qualquer de maio de 2006.
Passo as últimas horas na casa de Brasília, onde cresceram meus filhos, minhas esperanças e nossas árvores.
Nela, moro há décadas.
Amanhã, a partida para viver na Bahia.
O olhar perambula e se detém no livro de cabeceira do momento: um autor que discursa sobre o seu desânimo para discutir ou questionar os paradigmas da civilização que se esborralha, e dá seu veredicto: vivemos agora dos rendimentos da criatividade já instalada.
Nietzsche fala do pensamento como se falasse de uma festa, e agora?
Estamos vivendo aquele clima indefinível de fim de festa, José.
Se uma nova festa virá, não se sabe ainda. Estamos passando para outro estado, e não sabemos qual será este novo tempo. Talvez se caracterize por dispensar – e talvez nem sentir necessidade – de controlar tudo, o presente, o passado e o futuro.
Depreendo que a contribuição ao pensamento de hoje já não pode ser sistemática; ela tende a ser ensaística. Passa por aceitar a fragmentação de questões e perguntas, o pensamento como um processo de libertação, e o grande desafio: deixar-se atravessar pelo movimento de liberdade, sem que a liberdade inclua negar a dependência.
Toda a provocação da liberdade criativa é aprender a pensar.
O resto é agregado.
Idéias intrigantes de Emmanuel Carneiro Leão, e seu (excelente) livro “Aprendendo a pensar”.
É difícil pensar – diz ele – “porque temos os ouvidos entupidos com o ruído dos tempos e do alarido da civilização."
É uma turbulência curiosa.
Não se escuta o barulho que faz.
Em agradecimento às pessoas de Brasília que trouxeram preciosidades para a minha própria festa – e que, agora, na minha preciosa idade, continuam trazendo – registro nessa vacilante página virtual a certeza da gratidão e a continuidade de um bem-querer.
Parto para outras festas, outros convidados, e outros penetras, essas pessoas inesperadas que surgem do nada e deixam muito.
“É tarde eu já vou indo... preciso ir embora... até amanhã...”
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Uma madrugada qualquer de maio de 2006.
Passo as últimas horas na casa de Brasília, onde cresceram meus filhos, minhas esperanças e nossas árvores.
Nela, moro há décadas.
Amanhã, a partida para viver na Bahia.
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