terça-feira, 10 de junho de 2014

Que estranho chamar-se Federico



 “Um álbum que reúne fotografias, recortes, flores secas e até mesmo uma mosca imprensada entre as páginas”: é assim que Ettore Scola descreve seu último filme “Que estranho chamar-se Federico”.  O diretor octogenário volta ao passado para contar um pouco de sua infância, sua amizade com Fellini desde o tempo de “artista de jornal” , como a obra do mestre de Rimini esteve presente em toda sua obra e como marcou definitivamente o cinema italiano e  mundial. Filmado inteiramente no Estúdio 5 da legendária Cinecittà, onde  Fellini criou a maior parte de sua obra,  Scola faz um  “retrato cubista” de Fellini.
No início o espectador se depara com o jovem Federico (então com 19 anos) chegando à redação do jornal humorístico romano “Marco Aurélio”, onde não apenas escreveu, mas se tornou “ghost writer” de seus colegas. Cinco anos mais tarde, seria a vez do próprio Ettore chegar à redação com seu portfólio debaixo do braço. Foi assim que começaram a amizade que perduraria pela vida. Ambos tinham o gosto pelo design, frequentavam os mesmos bares e tinham um grande amigo comum – Marcello Mastroiani, o ator predileto desses dois grandes diretores da “italianice”.  Essa convivência permite a Ettore aprofundar o retrato das manias do amigo. Quando tinha insônia Federico entrava em seu automóvel e fazia longos passeios noturnos pelas ruas de Roma em busca de sono e de inspiração, dando caronas a desconhecidos que abordava nas ruas. Em uma das cenas mais emblemáticas entra no carro a prostituta Wanda cujas desgraças lembram a personagem imortalizada pela atriz  Giuletta Massina, em “Noites de Cabíria”.  
Palhaços, mágicos, mulheres de seios fartos, figuras bizarras, os cinco Oscars que Fellini ganhou, tudo é relembrado através de pedaços de filmes, entrevistas, a música de Nino Rota.    Até a capacidade de Federico para reinventar suas memórias, como visto no documentário  “Fellini: sou um grande mentiroso”.  Gostava de contar, por exemplo, que aos 5 anos tinha fugido de casa para se juntar à trupe de um circo o que nunca aconteceu.
Gostei especialmente da montagem no final do filme, feita a partir de imagens das obras-primas de Fellini. Uma homenagem apaixonada que faz o espectador nem tanto “entender” Fellini, mas experimentar um pouco de sua fabulosa imaginação.

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