terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A Marinha e as mulheres


Esta semana Cláudio está pegando a balsa diariamente; dirige-se à Cabrália, na outra margem do rio João de Tiba, para fazer um curso de navegação ministrado por militares da Marinha, numa loja maçônica que fica ao lado do Banco do Brasil.

O curso é necessário para conseguir a carteira de pescador profissional. Desde Brasília temos (ambos) as carteiras de arrais, lembrança física da época do veleirinho que compramos para navegar no lago Paranoá; esse documento agora não serve mais, porque o Bacana é próprio para navegação em mar aberto. Serviria, se fosse para barco de mar interior, a faixa d’água de 4 ou 5 milhas a partir da costa para o mar profundo, mas como Cláudio sonha em pescar no litoral africano...

Há cerca de 40 alunos, a maioria, na verdade, pesca no mar alto há muito tempo e conhece bem de navegação marítima, querem apenas ficar regularizados porque a Marinha faz blitz no mar, pede documentos, equipamento de salvatagem, rádio, bússola ou GPS, a lista é longa. Mulheres não são aceitas: deve ser um dos últimos redutos do bolinha, uma incongruência, já que a Marinha admite o sexo feminino em suas tropas desde 1992.

A mãe de um aluno faz questão de ir todos os dias, pretensamente para conversar um pouco com o filho na hora do recreio. Na verdade, penso, vai para se exibir um pouco: não se cansa de mostrar a carteira dela “antigamente eles deixavam, tinha pouca gente” e de lembrar aos conhecidos que é proprietária de vários barcos.

Apareceu uma mulher jovem para fazer o curso, não foi admitida, e achei melhor: queria a carteirinha para dirigir a lancha que arrasta os banana-boats de Porto Seguro.

Banana boat é como jet ski: ninguém merece.

Nenhum comentário: