(fotos de Pedro Guida) |
Ela saiu de casa vestida de notas
musicais; ele deixou o prédio com maleta de viagem. Ao lado dela, o companheiro de uma vida; no
carro dele, três amigos da faculdade. Cinco horas e trezentos quilômetros separavam os
dois grupos. Haviam marcado encontro no Festival de Jazz de Paraty, uma festa
que acontece há quatro anos – sempre em maio – na pequena cidade litorânea. Os palcos estavam espalhados pelas ruas pedregosas
do centro histórico: o mais bonito fica em frente à Igreja Santa Rita: o
público sentou ao ar livre, no gramado, no embalo do suingue. Ali perto, o
porto provisório, a tarde evanescente e o mar eterno.
Quando chegaram ao Palco da
Matriz Cinthya Girtley cantava acompanhada de sua banda gospel -- a
música vinda dos evangelhos que ajudou a moldar toda a música negra do século
passado nos EUA - ragtime, blues, jazz... O som era ótimo, envolvente, o que não impedia a mulher de checar o celular continuamente: e se o filho ligasse da estrada? Em dado momento viu que havia duas chamadas perdidas: reconheceu o número, tão familiar. Discou, ele atendeu de pronto. A mulher não conseguia ouvir bem, o filho pediu para ela se afastar do palco, procurar um lugar menos sonoro. Ela foi para a frente da Matriz, o único lugar razoavelmente silencioso naquele momento cheio de bares, restaurantes e vozes. Sons de festa caíam sobre a praça. Ainda colocou o celular no ar, para que o filho sentisse a vibração... No outro lado do telefone, o cenário era totalmente diferente: a estrada escura, estreita, sinuosa, chuva forte, o chão cheio de buracos cobertos de água. O carro deslizou...
Estamos bem, não aconteceu nada conosco, mãe
Mãe, não aconteceu nada conosco, estamos bem
O acidente foi perto da divisa que separa os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro; ali há uma curva com lúgubre número de desastres. O casal saiu do show imediatamente; pegaram o rumo da estrada. Ela só via os pingos grossos batendo no parabrisa do carro -- numa espécie de hipnose. A mão do marido apertando a sua. De súbito eles surgiram um tanto indistintos pela névoa da água. Estavam embaixo de uma árvore: os quatro jovens, intactos, nem um dedinho quebrado, nada de mal lhes acontecera, afora o susto. Do outro lado da estrada, o carro irreconhecível com as quatro rodas para cima: só conseguiram sair de dentro do veículo com a ajuda das pessoas que pararam para socorrer: solidariedade de estrada. Para o mundo, foi só um pequeno milagre: acontece todo dia. Para a mãe, ver o filho e os amigos ilesos, foi de uma felicidade tamanha que talvez a foto abaixo, da cantora Yanel Naim consiga ilustrar
Aleluia!
6 comentários:
Garota!
Que delícia!
Viva Parati!
E viva Paris!
bjks
Olá, Olimpia!
Que mais eu posso dizer? Aleluia!
Boa festa literária para vocês.
Abraços.
Vera Sabino (Recife-PE).
Cara Vera,
Você já conhece Paraty?
Se não, venha para a FLIP no próximo ano. OU para o Bourbon Street festival
abraços,
olimpia
Oi Olímpia!
Não conheço Paraty não, mas já coloquei essa terra bonita na agenda da minha vida, para o próximo ano. Aleluia de novo.
Abração. Vera.
Cara Vera,
Obrigada pelo compartilhamento
A palavra que você escolheu, Aleluia, diz muito do que senti.
Pelo jeito, você deve ter filhos
também
Abração
esses dias vi um filme passado em Recife "A febre do rato" - gostei tanto. Pernambuco e sua música, sua gente, seu cinema
abraço
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