Texto do cineasta Cacá Diegues, publicada no jornal "O Globo", em 2010
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"Em 1865, o quadro "Olympia", do pintor Edouard Manet, pai do
impressionismo, foi recusado pelo Salão de Belas Artes de Paris. Exposto
então no Salão dos Recusados, "Olympia" provocou escândalo sem
precedentes. O quadro retratava uma mulher nua deitada na cama, enquanto
uma criada negra lhe traz flores e um gato preto, aos pés da moça, nos
encara do canto direito da tela. Além de mal pintado, um borrão de
cores, atentado à boa pintura de uma época neoclássica, paródica e
acadêmica, "Olympia" foi acusado também de indecente e pornográfico.
Jornalistas e escritores zombavam de Manet, professores e estudantes de
Belas Artes indignavam-se com ele, mães de família em passeatas cobriam o
quadro para que não fosse visto. Paris inteira linchava "Olympia".
Somente o escritor e jornalista Émile Zola ousou defender publicamente o pintor e sua obra. Num artigo em que anunciava o nascimento de uma nova arte e de uma nova moral na produção artística francesa, Zola só lamentava a presença do gato preto no canto da tela que, segundo ele, servia apenas como ornamento desnecessário, elemento de distração no rigor poético da composição. Diante do clamor geral, o diretor de seu jornal exigiu que Zola se retratasse e, como o escritor se recusasse a fazê-lo, foi despedido e viu as portas de todos os jornais franceses se fecharem para ele. Manet, como agradecimento por seu gesto, pintou-lhe então um retrato que se encontra exposto no Museu d"Orsay, ao lado do "Olympia".
Somente o escritor e jornalista Émile Zola ousou defender publicamente o pintor e sua obra. Num artigo em que anunciava o nascimento de uma nova arte e de uma nova moral na produção artística francesa, Zola só lamentava a presença do gato preto no canto da tela que, segundo ele, servia apenas como ornamento desnecessário, elemento de distração no rigor poético da composição. Diante do clamor geral, o diretor de seu jornal exigiu que Zola se retratasse e, como o escritor se recusasse a fazê-lo, foi despedido e viu as portas de todos os jornais franceses se fecharem para ele. Manet, como agradecimento por seu gesto, pintou-lhe então um retrato que se encontra exposto no Museu d"Orsay, ao lado do "Olympia".
Nesse quadro, Zola está a escrever, cercado de livros e, na parede do
cômodo, o pintor reproduziu o "Olympia", sem o gato preto no canto da
tela."
Um comentário:
A Olympia também está no Georges Pompidou, numa releitura pop do Larry Rivers, que também tinha suas preferências e idéias próprias para o quadro. Gato preto... gato branco... Vou te mandar uma imagem. Bjks.
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