sexta-feira, 30 de março de 2012

Navegar é preciso

Hoje trago o depoimento de uma amiga que acabou de voltar para Brasília, depois de um ano estudando em Paris estudando para o doutorado. O rede furada a-d-o-r-a  histórias assim: de viagens, de caminhos percorridos em cidades, matas, oceanos ou livros. Hoje quem fala é Fabrícia:
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Fabrícia e Piero
"Deixei Paris há exatos 15 dias. Sinto falta da cadeira onde eu sentava na biblioteca. Do ça va do segurança do Carrefour. De caminhar pelas ruas com aquele sentimento estranho. Olhar o azul estonteante dos olhos da Anca. De comer queijo de cabra da Fernanda. Receber visitinhas inesperadas no meio da tarde. De cuidar da Elline. Como eu queria repetir sua festa de despedida! Tenho saudade de beber vinho até o dente ficar roxo. E comer torta de frutas vermelhas com a Désiree, falando da vida e do futuro. Observar a organização dos mendigos da rue de Rennes, imaginando sua história. De receber os primeiros ventos de inverno com o bom dia sorridente da Juliana no caminho do Collège de France. Hum, os sanduíches dos libaneses. Os banquetes romenos da Anca. E o “oi gata” da Fernanda, que vinha pessoalmente ou numa mensagem para saber se estava tudo bem. Ficará a imagem da minha mãe lendo sem parar no sofá, esquecendo do almoço. E o dia em que meu pai me acompanhou no Ofício de Imigração, tal fosse meu primeiro dia de escola. Queria repetir o dia incrível com minha irmã na Disney. Bater no meu cunhado porque ficou pedindo neve, e ela veio. Cobiço o início da primavera e seus piqueniques. Rita, Fred e o homem nu no Canal Saint Martin. A saudade sem fim do Piero. Os encontros surpreendentemente divertidos com meu co-orientador.  Queria comer escargot de novo pela primeira vez. E também aquele couscous em Belleville. A Alís comigo na segunda, na quinta, na sexta e no sábado. E no domingo. O Vasco chegando agora com mais uma garrafa de rum, nem me lembraria da última ressaca. Ah! Receber as mensagens da Olímpia, que me dizia as coisas como se eu estivesse lendo um romance em que eu fosse a personagem. Viajar de carro com o Piero. Os campos de lavanda. Bem que eu queria demorar mais uns minutos na madrugada do Sena. Ousaria com a Anca mais alguns passos, de pijama, no Boulevard Saint Germain! Rever e rever a delicadeza do olhar do André em suas fotos enquanto alivio os pés do dia de passeio. E a cidade cruzada de braços dados com a Ana Luísa, na nossa cumplicidade de sempre. Queria ver de novo a cara do Wilton chegando em casa com o djembe, embevecido com o hibridismo do mercado de pulgas. A Marie dançando com o peru de natal, sendo legal como só ela sabe ser. E que a Alís chegasse já lavando a louça, que a gente comesse e falasse e experimentasse vestidos, sem me deixar tempo de me sentir triste. Ouvir com ela Deolinda como se fosse a única banda que existisse no mundo, relembrar histórias de uma Lisboa quase inventada de tão interessante. Quem poderia fazer isso comigo agora?
Oui, Paris, je t’aime"

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