De passagem por São Paulo, fui até a Pinacoteca apreciar a visão das obras do artista suíço Alberto Giacometti. A Mostra é um fruto da paciência. Foi preciso um trabalho de
contatos internacionais -- que durou três anos -- com a “Fundação Alberto e Annette
Giacometti”, de Paris. Significante, traça as etapas da trajetória deste
inclassificável artista cuja produção acompanha os grandes movimentos da
modernidade: cubismo, surrealismo, abstração e retorno à figuração.
Um exigente caminho independente.
Lá estava, por exemplo, uma das mais queridas estátuas
de Giacometti, a monumental escultura do
Homem Caminhando, concebida para o
projeto do Chase Manhattan Plaza de New York (
a foto é da internet, não houve permissão para fotos na mostra paulistana).
A primeira escultura desta série – um bronze de 1,83m -- tornou-se uma
das obras de arte mais caras já vendida num leilão da Sotheby’s. O lance inicial era 12 milhões de libras esterlinas. Oito minutos depois foi arrematado por 65 milhões, por um
tycoon anônimo que apostava pelo telefone. Jamais
saberemos o que Giacometti teria feito com esta fortuna; a ironia consiste em
saber que ele passou a maior parte de sua vida num estúdio diminuto em Paris.
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Giacometti em seu estúdio (fotografado por Robert Doisneau) |
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Antes de "L'Homme qui marche" o recorde financeiro de obra de arte pertencia a uma tela de Picasso -- Menino com cachimbo -- inspirado na figura de um adolescente da vizinhança. Retrata um jovem pálido em meio a flores que formam
uma coroa sobre sua cabeça e sugerem asas de anjo às suas costas. Na mão ele
segura um cachimbo – referência ao ópio consumido no enfumaçado ateliê daquela fase boêmia (e rosa) do pintor catalão, afirma a crítica.
Voltando para o Giacometti: Mulher Colher é uma de suas obras que mostra a influência da arte primitiva em seu trabalho. A metáfora africana servia para representar o útero feminino em colheres utilizadas nos rituais de fertilidade. A escultura de
Giacometti reverte esta equivalência. Os críticos de arte dizem que ao tomar a metáfora e invertê-la ("a colher é como uma mulher" torna-se "uma mulher é como uma colher") o artista conseguiu intensificar a idéia e torná-la universal, elevando as formas das esculturas africanas para um prisma abstrato.
Este homem alto que caminha a passos largos e decididos me fez lembrar um amigo poeta, um homem antigo que no momento é um jovem professor da UnB, Piero Eyben -- na foto com a mulher, Fabrícia Wallace. Foi ele que me deu a dica do livro - "O Ateliê de Giacometti", de Jean Genet. (foto de Giacometti por Cartier-Bresson)
Lembro-o sempre do livro do Genet sobre esse que é um dos mais instigantes mestres do estatismo escultural:
“Mas também despertam em mim um curioso sentimento: são-me familiares,
cruzam-se comigo na rua. Ora elas vêm do fim dos tempos, do princípio de
tudo, e não cessam de vir ou recuar com soberana imobilidade. Se os
meus olhos tentam aprisioná-las, aproximar-se, elas - sem fúria nem
cólera nem ira, apenas pela distância entre nós, que eu ainda não
notara, de tal modo reduzida e escassa, a ponto de as julgar ali mesmo -
afastam-se a perder de vista: desdobra-se subitamente a distância. Para
onde vão? Embora a sua imagem continue visível, onde estão elas?”
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Na saída não consegui resistir à tentação -- transgredi o código da Pinacoteca... cliquei rapidinho o professor conversando sobre Giacometti com os alunos ...
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