Nova York, manhã de 17 de julho
de 1959. A cantora Billie Holiday morre
aos 44 anos num hospital do Harlem com o organismo debilitado pelo uso
descontrolado de álcool e drogas. Silencia a voz de uma grande cantora de jazz. A história dolorosa de Billie é bem
conhecida – quando ela nasceu seu pai tinha 17 e a mãe apenas 13 anos. O pai era
guitarrista, banjoísta e egoísta. Largou as duas. Saiu da cidade. Na infância sem inocência Billie foi violentada por um vizinho. Mudou-se
com a mãe para New York. Passou fome, se
prostituiu ainda adolescente, teve casamentos e relacionamentos tumultuados,
adquiriu o vício da heroína e a fama eterna. Foi o saxofonista norte-americano Lester Young
que lhe deu o apelido de Lady Day. Os dois gravaram juntos cerca de cinqüenta canções
repletas de swing, cumplicidade e
talento invulgar.
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quadro mostrando Lady Day com orquestra |
Se fosse pela biografia, Lady Day seria Lady
Night – até porque passou boa parte da existência apresentando-se em casas
noturnas. A primeira negra a se tornar cantora
em bandas de branco no auge da segregação racial nos Estados Unidos. Costumava terminar os shows cantando Strange
Fruit, uma canção de protesto contra o racismo. A música compara "as estranhas frutas" com os cadáveres dos negros
linchados e dependurados pelos pescoços nas árvores do Sul do país. Em 1999 –
quarenta anos depois da morte de Billie – a revista Time elegeu Strange Fruit
como a canção do século.
Há uma versão em português de Carlos Rennó
"Árvores do Sul dão uma fruta estranha
Folha ou raiz em sangue se
banha
Corpo negro balançando, lento
Fruta pendendo de um galho ao
vento", dizem os primeiros versos.
A sequência é de arrepiar:
"Cena pastoril do Sul celebrado
A boca torta e o olho inchado
A sequência é de arrepiar:
"Cena pastoril do Sul celebrado
A boca torta e o olho inchado
Cheiro de
magnólia chega e passa
De repente o odor de carne em brasa
Eis uma fruta
para que o vento sugue
Pra que um corvo puxe, pra que a chuva
enrugue
Pra que o sol resseque, pra que o chão degluta
Eis uma estranha e
amarga fruta".
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"Lady Sings the Blues" |
Dona de voz única, Eleanora Fagan (seu nome de batismo) se fez conhecida pela interpretação emocional doce
e sensual de suas músicas, repletas de elementos trágicos,
melancólicos, transbordantes de dor e tristeza. Reflexo da experiência
pessoal de uma mulher negra, marginalizada pela sociedade de seu
tempo.
A artista influenciou os rumos do jazz -- virou mito. Fazia da voz um requintado instrumento e não cantava uma música duas vezes da mesma forma. De 1933 a 1944, Lady Day viveu seu apogeu – depois o descontrole do vício começou a afetar o frescor e a jovialidade de sua voz. Mesmo vivendo a decadência, bastava Lady Day interpretar os primeiros versos de um blues, para o fiapo de voz assumir proporções gigantescas.
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A artista influenciou os rumos do jazz -- virou mito. Fazia da voz um requintado instrumento e não cantava uma música duas vezes da mesma forma. De 1933 a 1944, Lady Day viveu seu apogeu – depois o descontrole do vício começou a afetar o frescor e a jovialidade de sua voz. Mesmo vivendo a decadência, bastava Lady Day interpretar os primeiros versos de um blues, para o fiapo de voz assumir proporções gigantescas.
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ouça strange fruit
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