Na manhã seguinte, tomaram
ônibus para Ciudad Bolívar, distante 700 kms, um trecho da viagem dentro do Parque
Nacional Camaina (Gran Sabana), patrimônio ecológico da Venezuela. Cheio de lagoas e rios, o parque dá oportunidade de se apreciar os tapuis, formações
naturais altíssimas parecidas com mesas gigantes. É
de Ciudad Bolívar que os viajantes decolam para a Laguna de Camaina, na rota do
Salto Ángel. O frete aéreo mais barato é
de tecoteco, velhos e minúsculos Cessnas de precário chão de tábuas, cordinhas enroladas nas maçanetas das portas. Chovia dentro e fora do Cessna. O pouso é no acampamento da aldeia Camaina,
uma ilhota defronte a 3 cachoeiras estrepitosas. Quartos amplos, agradáveis ao olhar, redondos. A noite foi de conversas e risos no jantar com um casal de turistas da
própria Venezuela. O marido ardoroso adepto de Chavez, a mulher uma oposição medonha. Discutiram e brigaram ao longo de todos os pratos e copos, sempre
por motivos políticos. Antes de deitar, a lavagem da roupa suja nas tinas, algumas páginas de Machado de Assis.
Únicos brasileiros naquela penca de turistas, variada de espanhóis alemães escandinavos japoneses. Dali para o Salto Ángel segue-se em curiaras (uma canoa indígena comprida). Numa delas coube os três brasileiros, um casal de franceses, um belga, e três indíos bilíngües em espanhol e kamarakoto. Um autêntico e maravilhoso programa com índios. A subida do rio leva quatro horas de luta com as corredeiras, aparecem pedras antigas à superfície, é preciso desviar-se delas a todo momento, parece sinistro, conta-se com a perícia dos remadores.
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fotografia david dominguez |
A visão embarca os altíssimos tepuis, a rica vegetação, cascatas, pássaros. A canoa não virou. Próximo ao local de acampamento, no meio da mata amazônica que se espalha pela Venezuela, é preciso passar repelente químico. Selva é lugar estranho pra quem vem da cidade. O percurso até a cachoeira é curto, a pé dá uma hora, e meia, montanha, acima, acima. Esfalfa-se. Uma plantinha delicada, de frutos lilás, chamou a atenção de Cécille, a moça francesa. Estendeu a mão para colher o fruto.
Parou, quando o guia gritou:
“No lo toques”.
Era a planta do curare. Que toque sinistro.
Um esforço final na subida e -- ecco -- surge o poço formado com água da cachoeira. É preciso torcer o pescoço todo pra cima pra enxergar de onde vem a água. Esse shangrilá foi encontrado pelos próprios venezuelanos em 1910. Em 1937, um aventureiro americano que procurava ouro, Jimmy Angel, "redescobriu" o lugar e conseguiu batizar a cachoeira com o nome dele: Angel Falls. Oscar, o guia índio faz um comentário em tom baixo... "nossos antepassados viviam aqui desde sempre...desde antes dos estrangeiros"
Parou, quando o guia gritou:
“No lo toques”.
Era a planta do curare. Que toque sinistro.
Um esforço final na subida e -- ecco -- surge o poço formado com água da cachoeira. É preciso torcer o pescoço todo pra cima pra enxergar de onde vem a água. Esse shangrilá foi encontrado pelos próprios venezuelanos em 1910. Em 1937, um aventureiro americano que procurava ouro, Jimmy Angel, "redescobriu" o lugar e conseguiu batizar a cachoeira com o nome dele: Angel Falls. Oscar, o guia índio faz um comentário em tom baixo... "nossos antepassados viviam aqui desde sempre...desde antes dos estrangeiros"
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(continua no próximo - e último -- post)
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