Tirei todos os livros da estante grande e espalhei no chão; é preciso tirar a poeira, arejar, organizar. Pelo jeito, vai levar meses: leio as orelhas, a capa, as dedicatórias, anotações à margem.
É como ver foto antiga: entra-se na máquina do tempo.
Quando “O Senhor Brecht” apareceu, sentei na cama com ele. Lembrei que havia gostado muito de nosso primeiro encontro. São micro-contos de um autor angolano contemporâneo, Gonçalo M. Tavares, cujo romance “Jerusalém” venceu um dos prêmios mais respeitados em língua portuguesa (o Ler/Millenium). Sua escrita é simples, mesmo tratando de problemas universais complexos.
Levam à reflexão pela via do absurdo.
Seu estilo deveria arejar a cabeça de muitos teóricos que hoje escrevem tratados herméticos para anuviar o prazer de nossas leituras; parecem que não sonham mais e, talvez por isso, tornaram-se uma massa indistinta encastelada dentro de referências carimbadas da Academia.
Mas vamos às parábolas do Gonçalo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário