TAM: a perícia do piloto

suspense no ar

A voz do comandante era suave na transmissão dos avisos rotineiros: coloque o cinto, levante o espaldar das poltrona e a mesinha à sua frente -- vamos iniciar os procedimentos de descida no aeroporto de Congonhas, temperatura de 22 graus.

O céu claro, sem nuvens, o tipico incômodo no ouvido. 

Toda a tranquilidade foi para o espaço no momento seguinte: o avião arremeteu.

Corajosos, os passageiros. Ninguém gritou, nem entrou em pânico visível -- malgrado a péssima sensação. Pensei que as pistas estavam repletas de aviões, sem espaço pra gente estacionar. Pensei que ficaríamos voando em círculos. Pensei nos filhos e netos; no companheiro ao meu lado. Minuto lento...

Volta a voz do comandante para explicar que o movimento brusco fora "apenas" para desviar de uma aeronave menor que trafegava em rota errada. 

Um avião na contramão. Vindo na nossa direção.

Um quase-acidente, acho que é este o nome técnico.

Que sorte, acho que a tesoura encantada estava cega, naquele instante. Ou talvez Átropos -- a dama sombria que corta o fio da vida -- estava tão enrolada com as zonas das guerras e dos conflitos sangrentos que não pode se ocupar de nós, parcas dezenas de viventes.

Na saída, o comandante postado na porta da cabine; baixinho, oriental, idade indefinida, os olhos e a boca eram só riscos, um sorriso turbinado. Apertava as mãos dos viajantes. Tive vontade de abraçá-lo, mas consegui conter meu ímpeto emocional.

O homem mais lindo do mundo.