Ontem de manhã um impulso misterioso me fez sentar no banco do motorista para sair da Vila Mariana de São Paulo até Paraty. Combinei com meu – surpreso -- marido que seguiria dirigindo até o Frango Assado, um posto de serviços perto de São José dos Campos onde pretendíamos almoçar. Sentia uma urgência irrefreável de combater dois bloqueios: o de dirigir na pauliceia e o dirigir na estrada. Uma chuva fina caía sem pressa. Não tive medo. Concentrei-me no trânsito e logo estava na Avenida 23 de Maio a caminho de Guarulhos.
Cadê o limpador do para-brisa? O farol de neblina? O botão para girar o espelho retrovisor? Meu marido explicava o painel de controle: esquisito vê-lo como passageiro depois de milhares de quilômetros rodados sempre com ele ao volante. Décadas de estrada onde minhas tarefas consistiam em olhar os mapas -- quando a gente ainda usava mapas -- ou descascar frutas, contar as moedas para o pedágio, tagarelar, guardar o lixo, procurar hotel, essas coisas.
Paguei o primeiro pedágio de minha vida em Itaquaquecetuba, na Rodovia Carvalho Pinto. Era uma cobradora gordinha, de batom rosado, a gente se cumprimentou com bons dias. Estiquei o braço com as moedas na mão pensando se a itaquaquecetubana estaria vestida com um moletom velho da cintura para baixo ou sem sapatos, pequenas liberdades a que se pode dar no aperto daquela cápsula.
A melhor parte foi ouvir o elogio do companheiro – vindo de um motorista que dirigiu sozinho e sem nenhum incidente cerca de 16.500 kms numa só viagem pela Patagônia profunda. Ele me corrigiu umas duas vezes, mas disse que se sentiu seguro comigo na direção: e que agora temos dois motoristas em casa, uma efetiva e um suplente.
Cadê o limpador do para-brisa? O farol de neblina? O botão para girar o espelho retrovisor? Meu marido explicava o painel de controle: esquisito vê-lo como passageiro depois de milhares de quilômetros rodados sempre com ele ao volante. Décadas de estrada onde minhas tarefas consistiam em olhar os mapas -- quando a gente ainda usava mapas -- ou descascar frutas, contar as moedas para o pedágio, tagarelar, guardar o lixo, procurar hotel, essas coisas.
Paguei o primeiro pedágio de minha vida em Itaquaquecetuba, na Rodovia Carvalho Pinto. Era uma cobradora gordinha, de batom rosado, a gente se cumprimentou com bons dias. Estiquei o braço com as moedas na mão pensando se a itaquaquecetubana estaria vestida com um moletom velho da cintura para baixo ou sem sapatos, pequenas liberdades a que se pode dar no aperto daquela cápsula.
A melhor parte foi ouvir o elogio do companheiro – vindo de um motorista que dirigiu sozinho e sem nenhum incidente cerca de 16.500 kms numa só viagem pela Patagônia profunda. Ele me corrigiu umas duas vezes, mas disse que se sentiu seguro comigo na direção: e que agora temos dois motoristas em casa, uma efetiva e um suplente.