segunda-feira, 28 de maio de 2012

V Festival da Mantiqueira - Diálogos com a Literatura. São Francisco Xavier.

No final de semana passado, nós estávamos programando ir para Cunha, uma cidade nas alturas da Serra do Mar quando  o comentário da sobrinha Mônica surgiu no FB repentinamente avisando sobre o “V Festival da Mantiqueira – diálogos com a literatura” no vilarejo em São Francisco Xavier (SFX), Serra da Mantiqueira, São Paulo.  Entre olhar o mapa e decidir trocar de serra bastou uma hora e meia, o tempo que fiquei telefonando para as pousadas procurando vaga para casal e cachorro. O cachorro ficou em Paraty, mas nós achamos pouso na Pousada Kolibri, uma antiga fazenda a 6 kms do centro da Vila de SFX, charmosa, situada em sítio esplêndido e muito bem administrada pelo Glaico.
Tomamos o rumo de Ubatuba-Taubaté para pegar a Dutra, subindo a serra. Moradores recentes da região, achamos ainda "estrangeiro" andar pelas BR 101 e 116 a todo momento. Moramos anos a fio no Centro-Oeste, depois 6 anos no Nordeste; de forma que pegar a Dutra, a Tamoios, a Carvalho Pinto ou Osvaldo Cruz me dá uma sensação de estar viajando pra fora do Brasil. A estrada que sai de São José dos Campos para Monteiro Lobato (e depois SFX) é uma tetéia cheia de alamedas e vista bonita.  Diversas vezes na estrada lembramos das amigas Malu e Geno porque foram elas que primeiro deram notícia deste lugar: têm casa lá. Haviam comentado particularmente sobre o Festival da Mantiqueira, de como fora gracioso, o do ano passado.
A gente lamentou a ausência delas; estão viajando pela Itália, olha aí a Malu na campagna lombarda (acho)...  Afinal o festival nem era tão literário assim, como os próprios organizadores comentam nas palestras. Diria que segue o modelo sarau literário -- mais próximo ao estímulo à leitura do que ao debate dos grandes temas de escritura... Mais bucólico do que teórico -- mas com excelente resultado. Tudo se encaixava bem, as "intervenções poéticas" de figuras locais na praça em frente à Matriz
o lado bonito do vilarejo, que conservou um traçado urbano regular, é limpa e graciosa, com uma variedade de lojinhas surpreendente para um lugar tão pequeno... espaços cheirosos e silenciosos... que maravilha, lojas sem "som ambiente" nas alturas, como está em voga ultimamente...
cremes e cores

o toque orgânico do comércio

cores quentes em dias frio azulados
outra  agradável característica local são os restaurantes-nas-varandas... nada melhor que mesa externa em dia bonito: provar guloseimas e observar os passantes

delícias da Mantiqueira: os pinhões banhados no azeite  em ervas finas; trutas, tilápias, queijos e cervejas artesanais, cogumelos paris e shitake
o segmento de turismo cultural só cresce
um ponto alto da programação: show com Zeca Baleiro e banda no Gramado
na tenda das palestras, a platéia era eclética..rsss
o pessoal da produção sem o qual nada acontece
Salve São Francisco Xavier!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Pequena história de uma velhinha em quadrinhos

Recentemente, quando chegamos no aeroporto internacional Juscelino Kubitschek em Brasília, não foi possível deixar de perceber esta velhinha que bradava frases incompreensíveis. Estava alojada atrás dos estandes das companhias que alugam automóveis. O que ela está falando? Quem é esta senhora? A atendente deu de ombros, disse que ela mora lá no aeroporto, fez a cama na janela deste banco duro. Tem banheiro, comida, movimento - e público para ouvir sua pregação de caráter religioso. Enquanto meu marido lidava com a burocracia da Avis, resolvi tentar fotografá-la. Não foi possível: era uma velhinha sagaz e desconfiada, cada vez que eu me aproximava ela me lançava um amedrontador olhar carrancudo. Melhor assim: fotografei de costas, um dos meus ângulos prediletos (menos invasivo...)
Em seguida, tomei a escada rolante para olhar a casa dela de cima: um quarto-e-sala não muito confortável, mas bem espaçoso, viu? Com direito a jardim, fontes e faxina grátis

Apesar de o livro ser um dos mais conhecidos do mundo (a bíblia), o jeito dela ler faz tudo ficar incompreensível - mesmo as frases escritas em seu armário não fazem o menor sentido...No próximo mês irei até Brasília novamente... Após o desembarque vou checar se ela ainda está lá. Se estiver, faço uma visita, ponto.

domingo, 20 de maio de 2012

Homem Caminhando - Alberto Giacometti


De passagem por São Paulo, fui até a Pinacoteca apreciar a visão das obras do artista suíço Alberto Giacometti. A Mostra é um fruto da paciência. Foi preciso um trabalho de  contatos internacionais -- que durou três anos -- com a “Fundação Alberto e Annette Giacometti”, de Paris. Significante, traça as etapas da trajetória deste inclassificável artista cuja produção acompanha os grandes movimentos da modernidade: cubismo, surrealismo, abstração e retorno à figuração.
Um exigente caminho independente.
Lá estava, por exemplo, uma das mais queridas estátuas de Giacometti, a monumental escultura do Homem Caminhando, concebida para o projeto do Chase Manhattan Plaza de New York (a foto é da internet, não houve permissão para fotos na mostra paulistana).  A primeira escultura desta série – um bronze de 1,83m -- tornou-se uma das obras de arte mais caras já vendida num leilão da Sotheby’s. O lance inicial era 12 milhões de libras esterlinas. Oito minutos depois  foi arrematado por 65 milhões, por um tycoon anônimo que apostava pelo telefone. Jamais saberemos o que Giacometti teria feito com esta fortuna; a ironia consiste em saber que ele passou a maior parte de sua vida num estúdio diminuto em Paris.
Giacometti em seu estúdio (fotografado por Robert Doisneau)

Antes de "L'Homme qui marche" o recorde financeiro de obra de arte pertencia a uma tela de Picasso -- Menino com cachimbo -- inspirado na figura de um adolescente da vizinhança. Retrata um jovem pálido em meio a flores que formam uma coroa sobre sua cabeça e sugerem asas de anjo às suas costas. Na mão ele segura um cachimbo – referência ao ópio consumido no enfumaçado ateliê daquela fase boêmia (e rosa) do pintor catalão,  afirma a crítica.
Voltando para o Giacometti:  Mulher Colher é uma de suas obras que mostra a influência da arte primitiva em seu trabalho. A metáfora africana servia para representar o útero feminino em colheres utilizadas nos rituais de fertilidade. A escultura de Giacometti  reverte esta equivalência. Os críticos de arte dizem que ao tomar a metáfora e invertê-la ("a colher é como uma mulher" torna-se "uma mulher é como uma colher") o artista conseguiu intensificar a idéia e torná-la universal, elevando as formas das esculturas africanas para um prisma abstrato.
Este homem alto que caminha a passos largos e decididos me fez lembrar um amigo poeta, um homem antigo que no momento é um jovem professor da UnB, Piero Eyben -- na foto com a mulher, Fabrícia Wallace. Foi ele que me deu  a dica do livro - "O Ateliê de Giacometti", de Jean Genet.            (foto de Giacometti por Cartier-Bresson)

Lembro-o sempre do livro do Genet sobre esse que é um dos mais instigantes mestres do estatismo escultural:
“Mas também despertam em mim um curioso sentimento: são-me familiares, cruzam-se comigo na rua. Ora elas vêm do fim dos tempos, do princípio de tudo, e não cessam de vir ou recuar com soberana imobilidade. Se os meus olhos tentam aprisioná-las, aproximar-se, elas - sem fúria nem cólera nem ira, apenas pela distância entre nós, que eu ainda não notara, de tal modo reduzida e escassa, a ponto de as julgar ali mesmo - afastam-se a perder de vista: desdobra-se subitamente a distância. Para onde vão? Embora a sua imagem continue visível, onde estão elas?”

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Na saída não consegui resistir à tentação -- transgredi o código da Pinacoteca... cliquei rapidinho o professor conversando sobre Giacometti com os alunos ...

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Chapada dos Veadeiros


Em meados do mês passado deixamos o povoado de Santo André com destino a Paraty e até agora não paramos de rodar. Mal passados 20 dias morando no estado do Rio, foi preciso viajar para o coração do Brasil: a capital federal e o Alto Paraíso de Goiás, a cidadezinha bucólica que está nas cercanias do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. A região é uma flor do cerrado,  uma preciosidade ecológica, um patrimônio geológico antiquíssimo, repleta de cachoeiras, de cânions  rasgados na pedra, cavernas, e...
“ É a área com maior luminosidade vista da órbita da terra, segundo a NASA. Isso ocorre devido à quantidade de cristais de quartzo que afloram do solo, além de inúmeros outros metais e minérios. Por isso, os místicos costumam buscar energia neste local.”
as cachoeiras da Chapada (foto Marcio Coimbra)
 Para entrar no astral local, experimente a Pousada Camelot, por exemplo. Lá tudo gira em torno dos cavalheiros da Távola Redonda e da procura do Santo Graal – repare a decoração dos aposentos de  Arthur e Guinevere. 
 
Tomamos o rumo do sertão para verificar o estado dos lotes de terra que compramos anos atrás (só Deus sabe porquê),  uma área urbana de 4 mil e tantos metros que precisamos vender com urgência; bem entendido, a urgência fica no nosso lado, os possíveis compradores não parecem ter pressa... Ficamos sabendo que está ocorrendo um pequeno boom imobiliário gerado na esteira da Profecia Maia. Por motivos que ninguém sabe explicar, o fim do mundo não acontecerá na Chapada – vai rolar apenas no resto do planeta... Temerosos, os estrangeiros e outros brasileiros estão se agregando à população nativa. É a nossa chance, pensamos, quem sabe agora alguém compra nossos terrenos? A idéia era conversar com o pessoal da imobiliária, contratar a roçadura do mato, e rever o lugar.   A entrada da cidade ganhou duas novas instalações...
homenagem aos discosvoadores
e aos extraterrestres: o clássico marciano verdinho
Nota de rodapé: li no jornal de hoje que acharam outro manuscrito sobre a profecia maia... foi adiada em alguns milênios... adeus, venda dos terrenos!
:(

domingo, 13 de maio de 2012

segunda-feira, 7 de maio de 2012

o primeiro festival de inverno de Santo André

 

 

Festival de Inverno de Santo André






O texto abaixo veio do blog que a jornalista Léa Penteado (aqui) criou para auxiliar as escolhas dos viajantes que se dirigem para este curioso -- e lindo -- povoado baiano. Ela está coordenando a primeira edição de um festival cultural que acontecerá em julho de 2012.  Se você ainda não conhece Santo André -- ou quer voltar -- creio que será uma excelente ocasião.
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Vila de Santo André tem uma orquestra jovem, uma pequena companhia de dança e a paixão pelo cinema. Esses são os diferenciais da vila com menos de 800 habitantes que tem no turismo a sua sustentabilidade.

A orquestra de cordas do IASA (Instituto Amigos de Santo André) integra o projeto Ojiba–Orquestra Jovem da Bahia e atende a 90 jovens e crianças. A companhia de dança desenvolvida pelo Centro de Cultura e Convivência tem o suporte do Grupo Corpo Cidadão, um projeto social do consagrado Grupo Corpo de Dança, de Minas Gerais. O Cine Cajueiro, projeto implantado pelo casal Olímpia e Cláudio Calmon em 5 anos exibiu mais de 300 filmes para crianças e jovens, formando uma geração de cinéfilos e cineastas experimentais.

Com o objetivo de reforçar a arte e a cultura em sua comunidade e estimular o turismo, foi criado o 1º Festival de Inverno de Santo André que será realizado dias 27, 28 e 29 de julho com a seguinte agenda:

Dia 27 – Noite de Danças

  • ·        Apresentação dos alunos do Centro de Convivencia e Cultura com apresentação de         coreografias diversas, uma viagem do tango ao xaxado;
  • ·        Apresentação de Dança Afro - Profa. Vivian Lee;
  • ·        Convidada : Marilia Viegas, cenógrafa e professora de dança.

Dia 28 – Tarde Literária : Encontro dos jovens com aum autor.

  Noite Musical

  • ·         Apresentação da Orquestra de Cordas do IASA com a participação de 40 músicos da Ojiba (Orquestra Jovem da Bahia)
  • ·         Apresentação de percussão (os instrumentos são criados em oficina no IASA) tendo o  percussionista Dalua como convidado.
  • ·         Convidados: músicos mineiros Tininha Castro (clarinetista) e Vito Duarte (oboísta). 

Dia 29 – Noite do Cinema

  • ·         Apresentação de curtas criados pelo grupo jovem de Santo André com escolha dos 3 melhores que serão premiados.
  • ·         Apresentação de filme nacional recém lançado com a presença do diretor e 2 atores (a ser anunciado).

domingo, 6 de maio de 2012

Paraty em pílulas: o modo de vida

rua de Paraty em dia de semana
É provável que parte significativa dos cidadãos idosos que optaram por viver em Paraty, o tenha feito pelo jeitão de cidade sossegada e tranquila. Sábia decisão: a cidadezinha parece bem pacata. Engraçado é que as pessoas com quem vamos travando conhecimento tendem a pensar a priori que estamos fugindo de alguma metropóle, engarrafamentos e poluiçao... Muitos afirmam "vão amar a calma de Paraty". O fato curioso é que viemos de um lugar ainda menor que Paraty: algo como três ruas e algumas centenas de habitantes. Olha só a avenida principal lá da Vila de Santo André...
... é bem sossegado... até demais, às vezes... 
Paraty é uma metrópole, perto de Santo André... Sinto-me bem no conforto de ter tudo à mão:  mercado, farmácia, correio, banco, salão, chope...  
...ao mesmo tempo.... sinto saudades das ruas desertas da Bahia... da falta de trânsito.. dos silêncios pra ouvir passarinho, da curva do vento nas folhas das árvores, da luminosidade que incrementa as cores...

Paraty, vamos descobrindo devagar...
as praias da cidade não são boas para banho... é um fundo de baía... o visual é bonito, diferente; quase estrangeiro, para pessoas como eu, habituadas com o litoral nordestino

Paraty é cheia de cachoeiras: esta é a do Tobogã, fica pertinho da cidade... fomos numa manhã fria...  pouca gente... gostei de ver esta absorta Moça de Brinco de Pérola que contemplava, quieta,  a água correndo incessantemente sobre as pedras..
"A Moça com Brinco de Pérola" talvez seja a obra mais comentada e reproduzida de Vermeer.
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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Paraty em pílulas: o clima


foto de Marco Santilli

Meus primeiros 20 dias de Paraty já dão uma boa amostragem da volubilidade e imprevisibilidade do clima local. Deve ser por ciência meteorológica, pelo relevo... Estamos cercados pelo contraforte da Serra do Mar por todos os lados, exceto pelo lado virado para o oceano.  Da janela do meu quarto observo a movimentação das nuvens no topo das montanhas  ao longo do dia - a mudança é rápida; chuva e ventania não mandam aviso prévio.

ôpa... na vista para as montanhas que temos da janela do andar superior da casa, aparece um recurso bem utilizado na arte: tons cinza, nuvens, e prenúncio de tempestade para simbolizar a melancolia e a tristeza (ou sonho...) de um personagem ou situação... é só uma chuvarada que se aproxima  
 
Zé Ninguém trata de aproveitar os últimos raios de sol - o bichinho é baiano, tem estranhado o frio

quando a chuva foi embora contabilizamos os prejuízos: a bananeira do jardim veio abaixo... faltou luz, internet e telefone durante horas... 

Paraty em pílulas: o toque rural


Durante o ciclo econômico da cana de açúcar, os grandes fazendeiros nordestinos construíam edifícios separados para sua própria moradia, para a senzala dos escravos, para a prática religiosa (a capela), os engenhos de açúcar, o alambique para o aguardente... Cada pessoa, cada coisa ou atividade  em seu próprio lugar. Nas antigas fazendas de Paraty, pelo contrário, ficava tudo junto, num só prédio. Os casarões já eram construídos de maneira a atender funções tanto de moradia, como de indústria rural.  Costumavam ter 3 níveis: no de cima ficava o engenho e a roda d'água. No nível do meio ficava o alambique que recebia por gravidade o caldo da cana moída no engenho da parte superior - na parte interna deste nível também moravam os proprietários, sempre com vista privilegiada para o mar ou para a fazenda. Na parte térrea ficava a senzala e os barris de pinga.

Antiga fazenda Boa Vista - hoje um prédio tombado e sede da marina onde o navegador Amyr Klink guarda seus barcos, segundo o site www.paraty.tur.br
Nós entramos nesse clima de fazenda... laranja, é só do quintal... toda manhã pegamos a cesta para  colher as frutas que caíram ou estão prestes a cair, de maduras...

a colheita da mandioca se inicia entre 6 e 8 meses após seu plantio - chegamos na hora certa: por enquanto nada de arroz, com o quintal cheio de raízes... mandioca cozida, frita, purê de mandioca.... 
esquecemos o portão aberto: as visitas não tardaram a chegar, foram entrando sem cerimônia....