segunda-feira, 31 de agosto de 2009

microcontos de sophie calle

O mau hálito

"Eu tinha trinta anos e meu pai achava que eu tinha mau hálito. Sem me avisar, ele marcou uma consulta com um clínico qualquer. Fui. Assim que cheguei, pelo jeito dele, vi logo que se tratava de um psicanalista. Sabendo da implicância que meu pai sempre manifestou com relação a essa profissão, expliquei a ele a situação: "Houve um engano. Meu pai acha que tenho mau hálito, mas ele me mandou a um clínico geral." O psicanalista retrucou: "Você sempre faz o que seu pai manda?"
Tornei-me sua paciente.

Os gatos



"Tive três gatos. Félix morreu trancado inadvertidamente na geladeira. Zoé me foi tirada na chegada de um irmãozinho, que passei a odiar por isso. Nina foi estrangulada por um homem ciumento que, alguns meses antes, me impôs a seguinte alternativa: dormir com o gato ou com ele. Eu escolhi o gato."
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sophie calle

O presente



"Estava apaixonada, mas ele decidiu me deixar. Para amenizar a ruptura, ele propôs uma viagem de despedida de uma semana em Sevilha. Gostei da idéia, embora me parecesse dolorosa. Mas aceitei, e fizemos a viagem. No último dia, ao ver minhas lágrimas enquanto comíamos, H. contou-me um segredo. Era um segredo terrível, uma história que havia atormentado a sua vida, e agora ele a estava confiando a mim. Só a mim. No mesmo instante em que me privava de seu amor, aquele homem me presenteava com a última prova de nossa intimidade."
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sophie calle

O sapato vermelho



"Tínhamos onze anos. Amélie e eu, e toda quinta-feira à noite, entre as quatorze e dezessete horas, sistematicamene, percorríamos as grandes lojas de departamento para surrupiar alguma coisa. Um ano se passou. Um dia, a mãe dela, desconfiada, inventou que tinha recebido a visita de um policial que havia nos visto, mas que, por causa de nossa idade, nos daria uma segunda chance: a partir de então, ele ficaria de olho e, se não fizéssemos mais nenhuma bobagem, estaríamos perdoadas. Passamos as semanas seguintes andando pelas ruas tentando advinhar quem, entre todos os homens à nossa volta, era o policial que nos seguia e, depois, tentando nos livrar dele, quando achávamos tê-lo localizado. Não tínhamos mais tempo para roubar. Nosso último furto foi um par de sapatos vermelhos grandes demais para nós. Amélie ficou com o pé direito, eu, com o esquerdo."
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sophie calle

o filme da postagem abaixo


programa de domingo



Deveria ter sido apenas um cineminha, mas pensando bem foi uma sessão diferente, nem é toda hora que a gente assiste fita de Bette Davis e Joan Crawford projetada ao ar livre, na telona natural de uma parede branca, sentados num canto de jardim enluarado e no meio do filme ainda tem a sorte de perceber o cintilante risco de uma estrela cadente de brilho excepcional.
Parecia profecia: não é que o filme se chamava O que terá acontecido com Baby Jane? Um suspense psicológico magnífico sustentado por excepcionais atuações que ficaram inscritas na história do cinema. Conta a estória da rivalidade permanente entre duas irmãs – agora velhas e decadentes – Blanche, que vive presa à cadeira de rodas numa mansão de Hollywood e até para comer depende de sua cruel e louca irmã, e Baby Jane, um antigo prodígio do vaudeville na época de infância. O que torna a vilã fascinante nem são seus atos de crueldade e loucuras crescentes, mas o fato de que, no fundo, Baby Jane não passa de uma criança que cresceu acreditando ter o mesmo talento de outrora. A cena em que ela canta a música de seu remoto número infantil vestida com roupa de criança é apavorante.
Paralelamente à produção do filme, de 1962, a rivalidade e a inveja corriam soltas nos sets de filmagens pelo confronto entre as estrelas Joan Crawford e Bette Davis. Conta a lenda que Bette bateu de verdade em Crawford numa cena do filme, e que esta, no papel da irmã paralítica, colocava pedras nos bolsos para piorar o esforço da outra em carregá-la nos braços. Quando Joan morreu, Bette declarou: “Não se deve dizer coisas ruins sobre os mortos, apenas as boas. Joan Crawford morreu, que bom.”
A platéia era mínima, cinco pessoas sentaram à mesa porque o filme foi precedido por um saborosíssimo jantar com coisas do mar preparado pelo Cláudio – um dos convidados trouxe lagostas. Em boa hora chegou uma amiga jovem e linda para devolver filmes e desfiar um pouco de prosa.
Mas o troféu de convidado-surpresa foi para Roberto, o Mentiroso. Para nossa (grande) surpresa! fazia um tempo estendido que não aparecia e Santo André sente falta desse morador ocasional tão singular. Acho que Roberto nunca imaginou que iria ver filme de Bette Davis naquela noite. Depois do filme terminado continuamos na ficção porque Roberto insiste em procurar o navio cheio de esmeraldas e safiras que está afundado em algum lugar do litoral entre Pernambuco e o Espírito Santo.
Sim, claro que enquanto procura ele também pesca nesse barco com nome de deusa egípcia aí da foto, olha lá a tripulação, Roberto não aparece, acho que estava na cabine.
Qual será o próximo filme?

domingo, 30 de agosto de 2009

Moi and my village (2)


Antigamente, aqui não era village coisa nenhuma. Era aldeia de índio.
Chegaram as naus -- os tripulantes traziam colares baratos, espelhos, miçangas variegadas e miúdas.
Trocavam por madeira, ouro, prata.
De lá pra cá, o mundo deu voltas.
Hoje quem gosta de colarzinho e continha colorida é turista.
Compram dos índios.

sábado, 29 de agosto de 2009

Moi and the village (1912) Marc Chagall

Tela do pintor bielo-russo Marc Chagall

a chegada em Santo André da Bahia



A chuva cai a cântaros embalando minha inclinação para fazer um balanço de minha estória com Santo André da Bahia. A Santa de Cabrália que me desculpe, mas penso como os ingleses em relação à Europa (“quando há névoa no canal, o continente fica isolado”): são vocês que estão no lado errado do Rio João de Tiba. Nós, santoandresinos, estamos em esplêndido isolamento neste trechinho do litoral baiano que fica entre dois grandes rios -- o Jequitinhonha está bem ali na frente.
Dizem que Santo André era um condado na época do Império dos Pedros.
Cheguei aqui nesta paragem – faz três anos – depois de três meses morando em Ponta de Tulha, um lugar mais para o Norte e foi uma sorte sairmos de lá porque li no jornal que tudo será desapropriado para a construção de porto e aeroporto. O problema daquela praia é que não tinha mistura de gente como aqui tem. Em Santo André somos poucos, mas somos diversificados. Uma moça paulista com quem troquei algumas mensagens me disse assim que eu era “uma figura” (amo este epíteto): ela precisa só
ver os excêntricos que circulam neste solo arenoso.
De lá pra cá, a tralha veio num caminhão que nos fez o desfavor de atolar os pneus num lamaçal perto de Itapebi – pegamos a trilha errada – e depois foi ajeitada na casa do Campeão, como é conhecido o sobrado que alugamos em frente ao cajueiro mais antigo do rio. No próprio momento do desembarque fomos presenteados com colares de contas coloridas – enquanto os colchões eram descidos – por duas mimosas meninas morenas de olhos redondos e negros como nos mangás. Me senti no Havaí, em cerimônia de boas-vindas: Aloha, Zaine e Talita, quem iria imaginar naquele momento que vocês se tornariam assíduas espectadoras do cineminha que --meses depois – começaríamos a passar na rua, meu marido e eu, justo ali naquele velho cajueiro que servia de suporte para a tela madebyclaudio e que, ao contrário do sândalo, não se dobra a vento nenhum, nem mesmo àquele que sopra do Sul.
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hiperlink – “na língua havaiana Aloha significa muito mais do que "alô" e "adeus" ou "amor" . Seu significado maior é: compartilhar com alegria da energia da vida no presente.
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na foto, o rio joão de tiba visto do jardim da casa de jean françois
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continua no próximo capítulo

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A falta que o Sant Anas faz



Amigos Tamancoldis-Arosios vocês fazem uma falta!
Para matar as saudades, agora sentamos na "nossa mesinha" na parte da manhã.
Espero que possam regressar logo para Santo André.

chuva na praia


Chove em Santo André.
Nuvens escuras como essa em cima da cabeça do Marcelo Bottini têm nos visitado com frequência. Parece que neste final de semana também.


Para uma irmã saudosa lá de Buenos Aires... seu irmão é uma pérola de pessoa, viu?
Espero que possa vir novamente, no verão.

Os passageiros da balsa de Cabrália



Nesse transporte fluvial que é uma festa para o olhar, encontro Messias (o do futebol), o suíço Alan, sua mulher Teresa e Fátima, uma gaúcha que se a gente tiver sorte, virá morar aqui.

fotografia francesa



Dentro da programação do "Ano da França no Brasil" o Ministério da Cultura francês patrocina a mostra Ser jovem na França.
A mostra traz à Caixa Cultural um conjunto de 100 imagens realizadas pelos mais importantes nomes da fotografia naquele país, mas também por jovens artistas engajados em diferentes pesquisas de linguagem. Assim como as imagens apresentam várias gerações de jovens franceses, o leque de fotógrafos selecionados para o projeto é também um retrato de gerações. Marc Riboud, Martin Parr e Marie-Paule Nègre representam o viés da tradição. Riboud, 83 anos, é hoje o mais antigo fotógrafo documental vivo da França que gerou Henri Cartier-Bresson e Robert Doisneau.
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fonte Correio Braziliense
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foto de Marc Riboud

Solange



"Solange, a namorada. Todas as moças perdiam para Solange. Nenhuma podia competir com ela em matéria de namoro. Os rapazes da cidade só alimentavam uma aspiração: que Solange olhasse para eles. Desdenhavam todas as outras, ainda que fossem lindas, cheias de graça e boas de namorar. Namorar Solange, merecer o favor de seus olhos: que mais desejar na vida?
A nenhum deles Solange namorava. Era uma torre, um silêncio, um abismo, uma nuvem. Sua família inquietava-se com isto e pedia-lhe que pelo amor de Deus escolhesse um rapaz e namorasse. O vigário exortou-a nesse sentido. O prefeito apelou para os seus bons sentimentos. Ninguém mais casava, a legião de tias era assustadora. Temia-se pela ordem social.
O desaparecimento de Solange até hoje não foi explicado, mas dizem que em carta endereçada à família ela declarou que, para ser a namorada em potencial de todos, não podia ser namorada de um só, mesmo que sucessivamente trocasse de namorado. Estava certa de que exercia uma função de sonho, que a todos beneficiava. Mas se não era assim, e ninguém compreendia sua doação ideal a todos os moços, ela decidira sumir para sempre, e adeus.
Adeus? Ignora-se para onde foi Solange, mas aí é que se converteu em mito supremo, e nunca mais ninguém namorou na cidade. As moças envelheceram e morreram, a igreja fechou as portas, o comércio definhou e acabou, as casas tombaram em ruínas, tudo lá ficou uma tapera."
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Carlos Drummond de Andrade - in Contos Plausíveis

A bicicletaria de Santo André


Fica ao lado do Posto de Saúde.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O fim do mundo


por Gao XingJian, 2006.

conto chinês




"No estado de Qi, havia uma moça em idade de casar. Era muito bonita e tinha muitos pretendentes, mas não sabia que noivo escolher. Um dia, dois moços diferentes foram à sua casa pedi-la em casamento. Um morava no Leste e o outro no Oeste.
O moço que morava no Leste era feio, mas vinha de uma família muito rica. O moço que morava no Oeste era bonito, mas vinha de uma família muito pobre. Os pais da moça não sabiam qual marido apresentar para sua filha. Então eles permitiram que ela desse a sua opinião sobre a pessoa com quem queria se casar.
A moça ficou encabulada. Passou o tempo, e nada de uma resposta. Seu pai chamou sua mulher para um canto e perguntou:
_ Nossa filha não tem coragem de falar?
A mãe foi até onde estava sua filha e disse:
_ Você não tem coragem de falar? Se está com vergonha, apenas aponte para o rapaz de sua preferência. quer dizer, nem precisa apontar. Toque em seu próprio braço. Se tocar no braço esquerdo, é que gosta do rapaz do Oeste, que está na sua esquerda. Se tocar no braço direito, é que gosta do rapaz do Leste, que está na sua direita.
Depois de algum tempo, a moça voltou, mas ainda não tinha tomado a decisão. De repente, ela tocou em seu braço esquerdo. Queria então se casar com o moço do Oeste. Porém, em seguida, tocou também em seu braço direito.
_ O quê? Você pretende se casar com os dois? _ perguntou o pai, surpreso.
_ Não, ela respondeu, falando pela primeira vez, com uma voz sussurrante. _ Eu quero comer na casa do moço do Leste e dormir na casa do moço do Oeste.
Seus pais disseram:
_ Não é possível ter sempre tudo o que se quer. Às vezes é preciso fazer opções!
A moça pediu mais algum tempo para pensar."
In: " 50 fábulas da China fabulosa. " Tradução de Sérgio Capparelli e Márcia Schmaltz.

Santo André da Bahia


em dois cliques de Gisela Muller
Caio, visto por Gisa e pela mãe dele


simpsons colorados


Estes são os Simpsons em sua versão angolana. Foi criação de uma agência de publicidade local, para anunciar o serviço de TV via satélite no canal Bué de Angola. A mais americana de todas as famílias dos desenhos animados se transformou: tem caixas de som gigantescas na sala, Homer bebe uma cerveja diferente e Bart e Marge ganharam novo penteado. Repare no quadro da parede, que, no desenho original de Matt Groening é de um veleiro.


A bicicletaria de Santo André


Quando viemos morar na Vila, o bicicleteiro oficial era o Joares, e seu estabelecimento, digamos assim, ficava em frente à estrada que vai até Belmonte -- só que bem abaixo do nível da rodovia. Era um sufoco descer a rampa de bicicleta, eu preferia apear, principalmente depois que deslizei em dia chuvoso e despenquei da bike.
Tudo mudou quando a filha de Joares casou com o belga do veleiro e foram morar em Paraty onde trabalham com turismo à vela fazendo pequenos cruzeiros até o Rio. O negócio do belga prosperou e o Joares foi trabalhar com o genro em Paraty.
Ficamos meses sem bicicleteiro -- o transporte oficial de Santo André -- qualquer pneu furado trazia a necessidade de seguir até Santo Antonio com a bicicleta enfiada dentro da mala do carro. Agora chegou um novo profissional de bicicleta, o Luís. Creio que veio de Eunápolis.

caminhando e cantando



Apareceram dois simpáticos andarilhos aqui na rua.
Vão passar alguns dias no antigo "Diagonal". A primeira vez que os vi, faziam comida na esquina. Ultimamente, tem uma espécie de restaurante funcionando a céu aberto na esquina, encostado a um poste, num dos lados da encruzilhada. De vez em quando o pessoal nativo faz comida coletiva, um pescador dá peixe, o vizinho o leite de côco, um tempero.
Tudo cozido em panela montada em cima de dois tijolos, sem trempe nem nada.
Bem legal e comunitário.
Mas voltando aos andarilhos, era só para dizer que ganharam um filhote de cachorro, o Snarf (sim, aquele do Thundercats, para quem lembra) e uma mochilinha para o bichinho que vai acompanhá-los por esse mundão de meu deus. Não tem quase nada, os jovens andarilhos, nem horário, nem datas.
Algo neles me lembra os veleiros e a liberdade.

Dor de corvo




"Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais
«Uma visita», eu me disse, «está batendo a meus umbrais.
É só isso e nada mais."
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primeira estrofe do célebre poema de Poe, na tradução de Fernando Pessoa

família


Matteo, 2 anos, no verão italiano, vestindo camiseta pintada por minha vizinha daqui de Santo André, a Joyce.
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Uma delícia ser vizinha dela: toca música (boa) direto, bem baixinho, dá vontade de pedir para aumentar o som de Tom, Chet, Chopin, Baden.
Ultimamente ela tem colocado muito Tschaikovski. Não que tenha reconhecido, meu ouvido é fraco, perguntei.
Aqui em casa a gente adora a rádio Joyce.

domingo, 23 de agosto de 2009

O cais de Santa Cruz Cabrália


"O cais, navios, o azul dos céus
Que será tudo isto como o vê Deus?

Que forma real tem isto tudo
Do lado de onde não é absurdo?

Olho e de tudo me perco e o estranho.
É como se tudo fosse estranho

O cais -- que irreal de pesado e quedo
Os mastros dos barcos estagnam medo


E agora erguendo-se na hora incerta
O mundo fica uma porta aberta

Por onde se vê, simples e mais nada,
Uma outra porta sempre fechada.

Entre a vida e o sonho, entre o sol e Deus
Há enormes abismos pálidos e ateus."
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Fernando Pessoa. "Poesia "
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foto do Cláudio

para um amigo



"[O lugar do poeta é] precisamente onde está. Continuamente só, esperando a morte, desejando que ela lhe traga um novo corpo [poema] ou que desapareça de vez. Em rigor, só o poeta espera a morte ou a morte da morte. Todos os demais ou se dirigem a ela [o filósofo] ou tentam escapar-lhe [o homem de ciência] ou, muito simplesmente, esquecê-la [o homem comum]."
Paulo José Miranda
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"Staring back" - foto de Chris Marker

sábado, 22 de agosto de 2009

O ateliê de literatura da Asa Norte de Brasília



Num dia incerto de 2001, avistei um número de telefone e as palavras curso de literatura escritas numa fina tira de papel meio-escondida na barafunda dos anúncios colocados no mural da Universidade de Brasília.
No mesmo dia, disquei – quem atendeu foi a Fabrícia.
Na mesma hora me interessei.
Passei a dica para alguns amantes da leitura.
Logo nos agrupamos e fomos para a primeira aula, achando que íamos tirar o curso de letra: um professor tão jovem, ainda terminando a graduação...
Logo percebemos que, dos livros, a gente só conhecia as orelhas – no máximo, o prefácio.
Enquanto o professor era uma enciclopédia: um Google literário.
Foi naquela sala de mesa quadrada que viajei para Tróia e para Dublin pela primeira vez. Sempre pensara em por meus olhinhos míopes naqueles clássicos livros dos homeros, dos sófocles, dos james joyces, mas não animava: faltava um Piero no meu caminho.
Foi naquela sala que o grupo foi crescendo em número, em amizade, em qualidade de páginas lidas ou escritas.
Viajamos muito, às vezes, até literalmente. Estivemos juntos na comemoração do Bloomsday em São Paulo. Na Festa Literária de Paraty. Na exposição de Grandes Sertões: Veredas, a primeira do Museu da Língua Portuguesa do Parque da Luz, em São Paulo.
Bebemos como dublinenses em dia de São Patrício.
Depois eu vim morar na Bahia e tenho agora outro grupo de leitura.
Mas do primeiro a gente nunca esquece.
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Hoje de manhã acordei com o som forte da chuva e do vento zunindo.
Sempre que vejo essa cena num filme imagino que é presságio visual para notícia triste.
E era: chegou em forma de email, desse incrível professor, agora portador de outros títulos, inclusive de pê-agá-dê.
Coloco aqui, neste caderno de rascunhos, porque faz parte de minha vida.
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“É com enorme pesar que escrevo a vocês esta despedida. Um tchau calmo. De serenidade. Pensado e matutado. Discutido e refletido. Foram 8 anos... e muita coisa aí aconteceu.
Desde 2001, quando ainda estávamos terminando a graduação, a Fabrícia e eu decidimos montar esse Centro de Estudos Literários Edgard Belair (como se chamava então). Muita, muita dificuldade marca esse início, mas também já estávamos marcados pelo trabalho, pela amizade que se construiu desde o primeiro telefonema-sorriso da amiga Olímpia.
Enfim, o Ateliê nos ajudou a crescer, nos viu crescer, amadurecer, casar, tornarmos profissionais de fato quando ainda éramos apenas jovens. Sem dúvida devo muitíssimo às incursões de pensamento que elaboramos durante todo esse tempo. Devo muito do que sou hoje a cada um de vocês que me permitiram ver que não era absurdo ter uma proposta, ter um ideal de compartilhamento de sensibilidades. Mas, sobretudo, o que quero guardar na memória é como, além de todos os deslocamentos metonímicos e epistemologias literárias, essa carga imensa de amizades que construímos e nos une cada vez mais. Da posição desconfortável de professor (e também daquela de alunos) conseguimos criar vínculos de mútua admiração e, com certeza, duradouros. (...)"
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"hoje, não ontem,
hoje, não depois,
hoje marca o fim
todo o jogo, de si,
abandono - ao raro
sensível do tempo -
da conversa mais
í n t i m a:
apenas um suspiro,
plural lamento,
em que continuo
o elogio a todos
um brinde -
recife, solidão, estrela."
(poema de Piero Eyben)
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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

a bicicleta do Bauhaus


Bicicleta l-i-n-d-a...
Bauhaus.

Au Vélodrome, 1912
Colagem e óleo sobre tela de Jean Metzinger -- um dos principais expoentes do cubismo.
Coleção Peggy Guggenheim, Veneza.

Restaurante Gaivotas Santo André


Provavelmente, não.
A moça da bicicleta veio de veleiro.
Chegou esta semana. O veleiro zarpou, mas ela ficou, e já faz parte do cenário de Santo André.
Seu criador, um tripulante do Macanudo (ou terá sido do Minerim?)
Embarcações que passaram alguns dias aqui na enseada, no rumo Norte. Vão para o Caribe, um destino clássico.
Ah, esses veleiros acendem trilhas de aventura em nossas mentes.

O novo Gaivota: versão pop.
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Só recentemente descobri o sabor de sentar nesta mesinha, à noite.
Durante o dia sentamos dentro do restaurante porque a vista é estupidamente bonita.
Mas à noite, ficando de fora, dá para a gente ver o raro passar das gentes, dos carros (um por hora), dos cães e gatos, das bicicletas, namorados.
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fotos do Cláudio

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Santo André visto por Jade Delaney



Jade, depois que você foi morar na Inglaterra a rua ficou assim meio sem graça e cheia de saudades...
Come back, soon.
Nas férias.
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Pedi emprestadas as suas fotos (a do título do blog e esta do rio, quase em frente à sua casa).
ThankU

Gastronomia em Santo André



A mulherada "senior" de Santo André, no almoço do Casapraia, domingo passado.
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foto de Pablo Delgado

A festa de Paulinha


Paulinha Montenegro, você nem imagina o quanto eu gostaria de dançar na sua festa, ver seu sorriso e seu samba!
Vamos combinar: venha você para cá!
Vem cantar na praia, Paulinha.
O povo daqui vai adorar.
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Então está combinado: no verão, Paulinha e o violão.

sábado, 15 de agosto de 2009

fazer o quê hoje à noite?



Quando as portas dos bares, casas e restaurantes estavam fechadas, vieram a noite escura, a cintilação das estrelas e a falta de sono nos puxar para a rua.
Perambulamos ao léu pelas ruelas do vilarejo só para encontrar tudo quieto, deserto, uma atmosfera de cidade-fantasma.
Porém, ai porém, ouvimos vozes animadas vindas da Aldeia Tangerina e percebemos um três carros parados em frente ao arco da entrada principal.
Ninguém conhecido. Turistas, provavelmente.
Sentamos, veio a cerveja.
Bebemos, chegou o primeiro amigo.
Abrimos a roda para conhecer o mais novo chegante em Santo André, o homem que comprou um terreno perto da casa dos suíços.
Bem-vindo!
Brindamos, chegou o moço de Mojiquiçaba, não o italiano, mas o de traços orientais, com um sorriso espetacular e aquela animação que lhe é típica.
Não lembro em que momento, chegou mais um conhecido, esse de Santo Antônio, com um amigo à tiracolo.
As garrafas e as risadas empilharam em cima da mesa.
Não se faz mais cidades-fantasmas como antigamente.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Bons fluidos em Santo André


Saiu na revista "Bons Fluidos", edição de agosto/2009:
ESCONDERIJO BAIANO
"Quase impossível imaginar que não muito longe do agito de Porto Seguro, na Bahia, existe um vilarejo que bem merecia o nome de Sossego. Escondido mais ao norte do estado, Santo André tem ruas de terra, areia branca, mar e coqueiros beirando a costa e um povo que é pura simpatia. O lugar é pacato, mas não faltam programas. Além dos passeios de barco, tem fábrica de cocada, ateliê de luminárias de casca de bananeira e pousadas e restaurantes que são verdadeiros mimos -- o Casapraia, da dupla Amadeo e Pablo, é parada obrigatória. Outro point é o restaurante da Maria Nilza. Vale alugar uma bicicleta e percorrer 16 km até a praia de Guaiú para um almoço de sabor inesquecível -- não deixe de experimentar o arroz de polvo."

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É aqui que nós se esconde.
O autor da matéria esqueceu -- ou não teve oportunidade de conhecer -- a Pousada Victor Hugo, o restaurante Santana's, o restaurante Gaivota, a Pousada Corsário, a Vila Araticum, a Aldeia Tangerina, o Fragata, o Almescla... tem mais.
Estão todos os endereços, telefones e emails no site http://www.santoandre-bahia.com/
E quem quiser pernoitar no Guaiú depois do almoço longo na Maria Nilza tem pousada legal: O Canto da Reg.

Balthasar Klossowski de Rola (Balthus)



Adoro ver as reproduções deste pintor com nome de Rei Mago ("Balthasar") Klossowski de Rola, o Balthus. Olhem esta rua, sobre a qual um poeta, um Stephen (será dublinense?) escreveu em francês e eu passo uma traidora tradução.
É mais ou menos assim:
"Cruza a rua o carpinteiro com uma tábua dourada sobre o ombro, como carrega sua vida. Está construindo um muro que o proteja.
A menina golpeia uma e outra vez a bola vermelha com sua raquete azul.
O casal oriental desejaria dançar sempre assim: girando por uma rua concorrida, com a mão dele enlaçando a cintura dela enquanto ela se deixa cair na música (Ravel, Bizet...).
Ao padeiro ocorreu alguma idéia que se ergue como um pilar a espera de outra. Vê farinha caindo como neve, cobrindo as gentes que procuram andar, e ao final se transformando em fatias redondas de pão branco.
Nos braços da mãe cruel, vai um bebê velho, durante anos protagonista de películas mudas. Quer explicar que no ônibus o confundiram com outro, porém não encontra palavras e em casa terá que suportar outra vez que lhe dêm um banho horrível.
O trabalhador visionário se imagina num grande salão e começa a se perguntar aonde vai o sol quando é noite, aonde vão as moscas no inverno... enquanto isso uma multidão de gatos e cachorros se ajunta em silêncio para escutá-lo.
Nove pessoas estranhas entre si que que olham para diante e não percebem que nesta ruela os passantes dão voltas em círculos exatamente diferentes, exatamente iguais: vidas idênticas iniciadas sozinhas, transcorridas sozinhas, concluídas sozinhas, isoladas como pontos no firmamento, como estrelas no imenso espaço negro. "

Idelber Avelar, o blog



Estou lendo um livro de Sándor Márai ("De verdade") com quatro vozes, quatro narradores, que disserta sobre o amor, o casamento e nos põe dentro do camarim de uma decadente Europa entre as duas grandes guerras. Os protagonistas-- um casal e a amante -- lêem muito, não dizem o quê, mas têm livros e os abrem, talvez para ver a sua própria vida de personagens, como o que vai acontecer com eles na página 94.
Acordei, chovia, tomei banho e café, senti saudades porque meu parceiro viajou; peguei o livro para logo abandoná-lo pela internet. Ultimamente o sinal só chega de manhã cedinho aqui na nossa roça.
Entrei no blog de um mineiro que mora em Nova Orleans, é professor, chama-se Idelber Avelar, um homem cheio de letras.
E descobri que ele saiu da rede, eu não disse que a rede estava furada?
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Lá vai, aí embaixo, o último post dele que é metalinguagem pura.
"É hora de dar-lhes uma satisfação sobre os rumos do blog. Depois de muito pensar e examinar alternativas, decidi colocar o Biscoito em regime de hibernação por tempo indeterminado. Achei que conseguiria chegar ao quinto aniversário do blog, em outubro deste ano, no regime de postagens quase diário com o qual os leitores já se acostumaram. Mas não vai dar. Ficou impossível conciliar meu intenso envolvimento com a internet e o trabalho acadêmico que pretendo fazer nos próximos meses.
Claro que pensei na alternativa de manter o blog ativo e reduzir a frequência dos posts. No entanto, como sabe qualquer internauta viciado, as coisas não são tão simples. A vida online suga bastante e a minha, em particular, tem tido forte componente compulsivo. É mais ou menos como parar de fumar. No meu caso, “reduzir” não era uma opção.
Também pensei na possibilidade de convidar alguns dos muitos comentaristas do blog para postarem textos aqui a cada semana, transformando o Biscoito numa espécie de revista. Mas, além de que isso me manteria ligado na caixa de comentários, a ideia não tem muito sentido, visto que praticamente todos os colaboradores em quem pensei têm os seus próprios blogs.
Nestes dez dias sem blogar, redescobri um pouco do intenso prazer de ler a produção acadêmica recente em crítica literária, filosofia e estudos culturais: ler coisas com capa, desenvolvendo um longo, complexo argumento em centenas de páginas, produto de pesquisa e reflexão feita ao longo de anos. É uma experiência que, pelo menos para mim, a internet não substitui. Claro que continuo um entusiasta dos blogs, das redes sociais, das novas mídias. Claro que é possível conciliar as duas coisas, viver simultaneamente nos dois mundos. Este blog provou isso nos últimos cinco anos, em que minha produção acadêmica se manteve mais ou menos constante. Mas o fato é que dá um trabalho do cacete. Meu amigo Michael Bérubé teve um blog comparável durante alguns anos. Precisou parar. Ainda não voltou. Minha suspeita é que vou acabar voltando antes dele mas, agora, impõe-se uma pausa para respirar e recarregar as baterias do intelecto. "

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Constelação Familiar



Quando vi esta foto pensei imediatamente nos encontros xamânicos que estão ocorrendo aqui no povoado, a cada 2 ou 3 meses, sob a coordenação de Ana Xara.
É que uma das técnicas da psicologia aplicada nestas ocasiões é justamente chamada de constelação familiar.
Há poucos dias aconteceu o Terceiro Encontro com um grupo de 40 pessoas, de diversos estados.
Quem frequenta está gostando: o quarto encontro xamânico está programado para outubro e será o último deste ano.

Convite chique



Gente boa,
Convido-os a conhecer a videoinstalação Léu, minha primeira experiência de performance, que realizei no MIP 2 (Mostra Internacional de Performance) em parceria com Alexandre Rezende (somos o Dupla Face).
Meu convite virtual tem música de fundo, anexada a este email.
Espero vocês lá.
Um beijo
Nanda
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Nanda é Fernanda Goulart, uma jovem talentosa que conheci em Brasília. Mudou-se para Belo Horizonte para dar aulas na UFMG e, naturalmente, continuar seu trabalho artístico. É o tipo de convite que eu gostaria de aceitar se BH fosse um pouco mais perto de Santo André.

O Grupo Corpo e Santo André










ÍMÃ é o nome do novo espetáculo do Grupo Corpo que estreou esta semana em São Paulo.
Segundo o jornal Estado de Minas, a nova produção é alegre, frenética, colorida e agitada, contrastando fortemente com a temática densa e dramática da última coreografia (Breu).
Vejamos o que diz o jornal:
“Quando começou a criar Ímã, a partir da trilha composta pelo coletivo formado pelos músicos Domenico Lancelotti, Kassin e Moreno Veloso, o coreógrafo Rodrigo Pederneiras tinha uma certeza: fugir de Breu. O novo balé começa do chão, justamente onde Breu termina, com sete casais marcando, com pés e pélvis, movimentos em ritmo que se contrapõe às longas notas iniciais da melodia. Daí em diante, os corpos descolam do chão.
A nova coreografia é repleta de duos, caracterizados pela alternância entre o cheio e o vazio do espaço cênico. “Criei vários solos. Assim, pude valorizar e fazer sobressair o trabalho individual dos bailarinos”, afirma.
Em Ímã, o cenário se funde à iluminação criando ambiente único. Graças a recursos de alta tecnologia, Paulo Pederneiras conseguiu gerar efeitos inéditos, que reproduzirão a escala cromática ao vivo diante dos olhos do espectador. O chão e o fundo do palco em cinza vão se colorir de tons leves, como rosa, verde e azul. “Funcionará como se fosse uma grande tela de televisão”, adianta Rodrigo.

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O que Santo André tem a ver com o Grupo Corpo?
Seus fundadores (e os filhos) frequentam a nossa Vila há mais de 20 anos.
Neste verão, bailarinos e músicos do Corpo Cidadão -- o braço social da companhia de dança -- estiveram aqui realizando oficinas de dança e percussão com os jovens locais de onde resultou um lindo, inesquecível espetáculo.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Edgar Morin: um olhar para o Brasil


Leio com interesse crescente uma entrevista no jornal com o filósofo, sociólogo, historiador e economista francês, Edgar Morin, um dos mais vigorosos pensadores em atividade na Europa.
Basicamente, Morin propõe a idéia de metamorfose, de uma transformação natural e radical como de uma borboleta, que se destrói e se constrói para se transformar, para adquirir novas habilidades, como a de voar.
Sobretudo, Morin proclama o surgimento de uma religião da fraternidade, resultante do fato de “estarmos perdidos e, assim, necessitarmos uns dos outros”. Ele crê num futuro mais humanista – que, para tanto passa pelo Brasil. O filósofo acredita que a palavra que vai reger o futuro da humanidade será solidariedade e não mais o individualismo e a burocratização, que é o reverso da solidariedade.
A grandeza do Brasil será um exemplo para essa civilização do futuro,que ele chama de civilização do Sul, calorosa em oposição à cultura anglo-saxônica. Esta não suporta o toque e, infelizmente, influenciou muito a cultura brasileira, que sempre subestimou sua capacidade. O brasileiro não só assimila bem outras culturas, mas demonstra uma curiosidade inusual, uma cordialidade única.
Como Stefan Zweig, Morin acredita que o Brasil é mesmo “o país do futuro”, mas que precisa antes enfrentar o seu maior obstáculo: a corrupção. E sugere para isso uma reforma no campo educacional, defendendo a transdisciplinaridade e o incentivo à idéia de soladariedade, que irá prevalecer necessariamente no futuro.
Os trunfos do Brasil em relação ao resto do mundo, diz Morin, estão na miscigenação cultural e na biodiversidade da Amazônia. Se o País souber aproveitar isso, assegura, poderá assumir a liderança mundial num projeto reformista que implique uma mudança multidimensional “conduzida por homens de boa vontade para criar uma nova civilização.”

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

baleias jubarte



Dias atrás uma baleia jubarte veio dar na praia de Santo André: infelizmente, quando chegou aqui já estava morta. Talvez estivesse a caminho do arquipélago de Abrolhos pois é de julho a novembro que estes cetáceos migram da Antártida até as águas quentes da Bahia para acasalarem e terem os filhotes.
Quem já viu o espetáculo do salto de uma jubarte não esquece: o corpo fica quase completamente fora d’água como se fosse alçar vôo, suas longas nadadeiras peitorais parecem as asas de um pássaro. É fascinante ver aquele corpo imenso projetado no ar em clima de acrobacias. O mamífero pode pesar de 35 a 40 toneladas e medir 16 metros de comprimento.
Mas voltando à Santo André: apareceu uma pessoa do Instituto Baleia Jubarte, sediado em Caravelas. Contudo, nada pode fazer. Recomendou que se acionasse a Prefeitura e que se cavasse uma vala para enterrá-la com cal. Não sei se a Prefeitura foi notificada, nem se alguém tomou alguma providência neste sentido.
O mau cheiro está pesado e ninguém se aventura ao banho nem marítimo, nem fluvial.
Hoje de manhã passei na praia para ver novamente a carcaça da baleia. Dia a dia o entulho orgânico se reduz. Pressinto que o tempo, a natureza e algumas ações dos moradores eliminarão até os vestígios da baleia: os urubus estão fartos de tanta comida, os trabalhadores da praia fizeram o tal buraco para enterrar, e algumas pessoas descarnavam os ossos para fazer artesanato.
Alguém pegou um osso gigante para fazer um sofá.
Sofá Jubarte.

domingo, 2 de agosto de 2009

A comunidade de Santo André



Na sala do IASA onde aconteceu a última reunião da comunidade, quando elegemos as prioridades e os delegados de Santo André para acompanhar o processo do Orçamento Participativo, havia um painel com a listagem das necessidades do povoado, conforme a s indicações da própria platéia.
Refletindo sobre isto me parece que diversas reivindicações, embora pertinentes, estavam deslocadas naquele foro onde tratávamos de Orçamento.
Por exemplo:
. aumento no número dos corredores de acesso à praia de Santo André;
. redução do preço da passagem da balsa que transporta carros e passageiros de Cabrália para Santo André e outras povoações, benefício que deveria ser concedido a todos os moradores como acontece entre Porto Seguro e Arraial de Ajuda;
. estímulo e apoio financeiro aos esportes (e não apenas ao futebol);
. atuar para procurar mudar o discurso monótono e desvirtuado dos operadores de turismo que passam nas chalanas e escunas falando bobagens (desculpem-me); poder-se-ia, por exemplo, falar para o visitante sobre a riquíssima biodiversidade local (rio, mar, mangue, mata) comentar sobre a vida cultural de Santo André ou trazer aspectos curiosos da História do Brasil – afinal estamos na Costa do Descobrimento;
. cuidar do lixo da praia
E por aí vai.
O fato de que tivemos mais de 70 pessoas naquele auditório que normalmente se presta às atividades culturais do IASA (a foto é uma pequena homenagem ao excelente trabalho que a instituição vem desenvolvendo) e, principalmente, da consciência cívica, cidadã, comunitária que vem se formando justifica plenamente o fortalecimento da AMASA, a nossa associação dos moradores.
Com uma Associação atuante e inclusiva (nativos, brasileiros em geral, empresários, "gringos" educadores, o "povo da praia") poderíamos, sim, eu acredito, poderíamos atuar em prol destas reinvidações.
Precisamos nos unir para atuar de forma coesa.
A eleição da nova diretoria da AMASA ocorrerá em setembro.
Vamos parar de reclamar e procurar fazer algo de útil. No mínimo, é mais agradável e desafiador.

participar na comunidade


Ultimamente, minha participação na discussão dos assuntos comunitários de nossa Vila vem aumentando, notadamente nos assuntos culturais, mas espero que se estenda aos outros campos.
Vejo o desejo de participar e de "fazer alguma coisa" em muitos moradores daqui.
Por outro lado, há desânimo, cansaço, descrença.
O mote parece ser: "já vi este filme antes e não deu em nada."
Caminhando pela praia e refletindo, cheguei à conclusão que neste tipo de atividade -- quando a gente trabalha sem remuneração e enfrenta muita chateação -- é preciso se apaixonar, ou pelo menos gostar, do processo de fazê-lo, sem se fixar tanto no resultado imediato.
Esperar só os resultados -- que muitas vezes não vêm mesmo -- é deixar de perceber a riqueza da s vivências em parcerias e do que podemos aprender daí, em nível individual.