quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

a música do Kléber Albuquerque



O verão aponta, a casa vai ficar cheia (a praia também)

... e a zeladora do blog tem uma montanha de livros para ler.

Voltamos em fevereiro de 2009.

Para os que passam por aqui, desejamos, nas palavras do músico Kleber Albuquerque

“Que os ventos soprem sempre a seu favor
Que você encontre a cama feita,
A mesa farta,
A casa em festa
Que a boa estrela grude no meio de sua testa
E que o mal tenha paredes de isopor.”

O último remix do ano

Começa com o Bacana, agora em novas cores.
Cada dia mais bonitos, o barco e o
capitão.
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Passa pelas crianças




As conhecidas (Moisés e Filipe), em cores
E o anonimato dos miúdos, em preto e branco

pelo "Projeto Faísca"


É como eu o chamo.
Meu filho (o mais alto) e seus colegas da engenharia chamam de
"Controle de Sistemas Automotivos. Ênfase: Ignição"

Por Gonçalo M. Tavares

"A CIDADE investiu tudo na constru-ção de uma imponente catedral. Ouro, pedras trabalhadas, tetos pintados pelos grandes pintores do século.
Para valorizá-la ainda mais, decidiu-se dificultar o acesso. O que se atinge com facilidade deixa de ter valor, filosofava com esforço um determinado político.
Construiu-se então um labirinto que era o único meio de chegar à catedral. O labirinto foi tão bem feito que nunca ninguém conseguiu encontrar a passagem para a catedral.
O labirinto transformou-se na grande atração da cidade."

Por Bernardo Carvalho


Em "O sol se põe em São Paulo" (embora a maior parte do romance decorra no Japão).
Aqui, sobre uma particularidade do teatro Kyogen, do século 14, um estilo cômico constituído de curtas encenações que são normalmente apresentadas nos intervalos de apresentações de teatro nô.
"Explicou que a peça da raposa fazia parte da formação do ator de kyogen. Era um clássico. Os movimentos que o ator tem de fazer para encarnar a velha raposa são a prova final antes da profissionalização. A raposa é um papel que o ator tem de fazer até os vinte e cinco anos e do qual jamais esquece. A raposa surge primeiro na forma de um homem, antes de se revelar como raposa. É essa a grande prova para o jovem ator. Interpretar, em forma de gente, sem máscara e sem fantasia, a raposa. O grande ator é o que consegue interpretar, apenas com os movimentos, o espírito da raposa num corpo de homem, aquele que consegue fazer o público entender que ele é a raposa, sem que haja nenhum artifício, sem a necessidade de máscara, antes mesmo de reaparecer vestido de raposa."


Bernardo Carvalho (2)



"Por mais longe que você vá, por mais que tentem confiná-lo a um papel e a um lugar que não são seus, você leva sempre as máscaras consigo.
No fundo, todas as máscaras confirmam quem você é."

Pela denúncia


"Anorexia"
Vítima da imposição das indústrias da moda, da alimentação (produtos "lights"), das academias...

E fecha com Tomaso e Matteo em Santo André


Praia das tartarugas

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O rio João de Tiba vai bater no mei' do mar



Foto denis lara, em
http://www.brasil35mm.com
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No passado foi chamado de Sernampetiba, palavra de
etimologia índigena que significa "rio com muitas ostras"; hoje, ele se chama João de Tiba: ganhou esse nome por oralidade, ou seja, pela via da tradição. Dizem que viveu em suas margens um português (que não é citado na História), que morava em meio aos índios e conhecia bem seus hábitos e língua. Não se sabe se o caputo (como se diz em Angola), era um náufrago, um degredado ou algum colono trazido de Portugal por Pero do Campo Tourinho, o donatário da Capitania Hereditária de Porto Seguro.
Só sei que de alguma maneira este personagem, fictício ou real, deu seu nome ao rio.

O rio João de Tiba nasce na Serra dos Aimorés, a 135 km de distância, na divisa da Bahia com Minas Gerais e desemboca exatamente aqui em Santo André: o encontro do João com o mar é minha vista predileta. Perto de Eunápolis há um trecho que recebe o nome de rio Santa Cruz, graças à usina homônima que havia naquela cidade. Vital para a cidade de Santa Cruz Cabrália e para o distrito de Santo André, seu estuário é bastante piscoso e abriga enormes manguezais. Uma das atraçoes turísticas da regiao, com passeios realizados em embarcações do tipo chalanas, escunas ou pequenos saveiros.

A Marinha e as mulheres


Esta semana Cláudio está pegando a balsa diariamente; dirige-se à Cabrália, na outra margem do rio João de Tiba, para fazer um curso de navegação ministrado por militares da Marinha, numa loja maçônica que fica ao lado do Banco do Brasil.

O curso é necessário para conseguir a carteira de pescador profissional. Desde Brasília temos (ambos) as carteiras de arrais, lembrança física da época do veleirinho que compramos para navegar no lago Paranoá; esse documento agora não serve mais, porque o Bacana é próprio para navegação em mar aberto. Serviria, se fosse para barco de mar interior, a faixa d’água de 4 ou 5 milhas a partir da costa para o mar profundo, mas como Cláudio sonha em pescar no litoral africano...

Há cerca de 40 alunos, a maioria, na verdade, pesca no mar alto há muito tempo e conhece bem de navegação marítima, querem apenas ficar regularizados porque a Marinha faz blitz no mar, pede documentos, equipamento de salvatagem, rádio, bússola ou GPS, a lista é longa. Mulheres não são aceitas: deve ser um dos últimos redutos do bolinha, uma incongruência, já que a Marinha admite o sexo feminino em suas tropas desde 1992.

A mãe de um aluno faz questão de ir todos os dias, pretensamente para conversar um pouco com o filho na hora do recreio. Na verdade, penso, vai para se exibir um pouco: não se cansa de mostrar a carteira dela “antigamente eles deixavam, tinha pouca gente” e de lembrar aos conhecidos que é proprietária de vários barcos.

Apareceu uma mulher jovem para fazer o curso, não foi admitida, e achei melhor: queria a carteirinha para dirigir a lancha que arrasta os banana-boats de Porto Seguro.

Banana boat é como jet ski: ninguém merece.

A Marinha e os livros



Ler livros é como se alistar na Marinha: a gente viaja para mundos desconhecidos, vê paisagens exóticas, conhece tipos inesquecíveis...

os gordinhos de Botero



Personal é como blog, existe pelo menos um para cada gosto: esses dias li que a paquera agora é profissão. Será que assina carteira, paga o décimo terceiro? A função deste tipo de personal é óbvia: fingir que é o rolinho de alguém. Para quebrar a solidão, para provocar ciúmes, para ver se de repente não descola um namorado (a) no próprio personal, e o que mais.

Fez-me lembrar o emprego do décimo quarto convidado, coisa de francês antigo, li num romance. A criatura “trabalhava” como comensal de rega-bofes, no caso de os anfitriões se verem às voltas, inesperadamente, com treze convivas à mesa. Era só telefonar (mandar a carruagem?) para o fulano (only for men), que deveria ter sempre à mão roupas apropriadas, bons modos e cultura geral, para não fazer feio com a conversa.

E pronto: resolvia-se o problema da superstição agourenta (e tola) do número treze (escrever o número dá azar).
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Se a crise arrebentar – como promete – com os proventos de uma aposentada, quem sabe volto a trabalhar? Para o primeiro caso não sirvo mais, pois como me disse um jovem pescador, quando aqui cheguei, “a senhora até que é bonitinha, mas tá com o prazo de validade vencendo”.

Mas para comer bem, beber, conversar e ver gente diferente de graça – e ainda ganhar um dinheirinho – eu me desaposento na hora.
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a foto é de uma reprodução de quadro do Botero, ou seja, a reprodução de uma cópia

A extinção dos dinossauros foi na água?


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

carteira de identidade


O email do filho que mora em São Paulo dizia: “mãe, ligaram do Banco Central avisando que sua carteirinha de aposentada chegou.” Com ela passarei a pagar meia-entrada em cinema, teatro, museu e congêneres, quando estiver por lá.

Fiquei meio-exultante, com a notícia meio-boa. Sobre o meu futuro benefício cultural paira a ameaça da cota de 40%, justo agora que a crise bate à porta (e esta não é meia-crise, a entrada é inteira e gratuita, a saída é que é caríssima, e talvez só a metade consiga chegar lá). Acho oportuno o projeto de lei que estabelece a cota de 40% para a meia-entrada: falsificação de carteira de estudante é crime, e abusivo. Estranho é os produtores reivindicarem subsídio do Estado para as meias-entradas.
Tenho que admitir que minha dependência de carteirinhas e de cartões é imensa. Em Santo André ela se diluiu a tal ponto que, frequentemente, na hora de pagar a conta do restaurante, descubro que não tenho dinheiro, cartão ou carteirinha. Nem bolsa: é um acessório em extinção no meu guarda-roupa.

Mas se quero ou preciso viajar, o vício volta. Necessito de doses fortes de carteira de identidade, CPF, cartão de crédito, cartão para celular pré-pago, carterinha da locadora de vídeo, da farmácia (para obter o “desconto”), da assistência médica e agora, se for de alguma valia, de aposentada.

Eventualmente, preciso de título de eleitor, de passaporte, de contracheque.

Guardo os backups cuidadosamente: certidão de nascimento minha e dos filhos, de casamento, de divórcio, de casamento novamente, de escritura de imóvel. Só aposentei os diplomas, justamente por causa da aposentadoria.

Acho que estou passando por uma crise de identidade.