segunda-feira, 29 de junho de 2009

Hoje é dia de São Pedro



E como é tradicional, haverá a procissão dos barcos. Este aí, parado em frente ao Porto das Canoas, é o Polo Aquático, todo enfeitado.

Vida de pescador (2)




Mas como eu dizia antes, quando o marcador de combustível do barco encostou no zero e a praia de tão distante nem se via, os pescadores afogados naquela maré de azar pediram socorro pelo rádio – Save Our Souls . A cavalaria veio veloz: chegou em forma de fragata para tirá-los daquela canoa-furada. Uma linda, majestosa nau, ancorou nas cercanias do àquela-altura-humilde-Bacana : da barriga da baleia surgiu uma lancha apressada (uma espécie de cavalo de Tróia) contendo 5 Jonas armados com fuzis e me-tra-lha-do-ras de verdade, do tipo ratátátá.
Dois homens abordaram o Bacana; os demais ficaram dentro da lancha circundando o barco, sempre em posição de batalha naval. Vagarosamente, as autoridades marinheiras fiscalizaram tudo: a papelada, a parte mais íntima do barco – onde fica o motor e as engrenagens – e o material de salvatagem. Deram por falta da buzina – buzinar é preciso –, ao que Cláudio contrapôs tem o sino. Aceitaram o sino; afinal, consta do regulamento e funciona no manual.
Porque tanta ostentação de força? Metralhadora?
Eles não sabem com quem vão se deparar: inocentes pescadores ou piratas do mar.

A galera desta onda era formada pelo dono do barco, o comandante Calmon – um homem pacato e de bons ventos – o Elielton, pescador de mão cheia e arrastador de camarão; Emanuel de Ana Gaivota, primeira vez no alto mar (fraquinho de tanto vomitar); Zaqueu, um jovem nativo e Seu Neneco, o marido de Gilma.
Pediram para ver os pescados, àquela altura, todos marcados para distinguir quem pegou dourado e quem pegou guaiúba: é como se fosse a ferradura do dono: cortam o lado esquerdo ou direito do rabo, ou rasgam o nariz, ou furam o olho. Peixe sofre até depois de morto. O oficial ao mirante decidiu assim: Cláudio ficaria como fiel depositário dos peixes – agora pertencentes ao IBAMA devido à falta de licença para pescar e não adiantou explicar que há meses fora pedida só não estava na mão dele por causa da burocracia.
Houve a notificação: uma multa chamada de pane seca, não se sabe quanto vai custar.
Com o óleo diesel doado, voltaram para casa, processo que levou muitas horas marítimas. Cada um pegou seu quinhão pesqueiro menos o Cláudio que resolveu doar para os mais carentes do povoado, pensando em pagar a multa e ver o assunto encerrado.
Agora, já no final desta postagem, o telefone tocou e pela voz do homem daqui de casa percebi que o do outro lado da linha é do IBAMA. Vem mais água por aí.

O dia deu em chuvoso


"O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.

Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso. (...)"
---------
Meu querido (lá da Itália): tudo vai acabar bem!




A bota italiana e o mapa mundi

domingo, 28 de junho de 2009

O thriller da viagem


Acordei com o som macio da chuva tamborilando nas ramarias das árvores e a fugidia imagem de Morgan Freeman que escapava, sorrateiro, de um sonho matinal cujo significado é um enigma pessoal

“adeus madrugada
que um segredo aceso
sobrou lindo ainda
soprando giz” (*)

Depois das abluções matinais (decorei esta expressão dos romances portugueses), abro a mala e começo a empilhar os objetos imprescindíveis para a viagem que se avizinha: as senhas impressas para retirar os ingressos da FLIP que comprei pela internet, as chaves do apartamento e o celular de São Paulo, a caixa de sapatos repleta de drogas legalizadas, a escova de dentes e os óculos.
O resto é silêncio: roupa, sapato, brinco.
Liguei o laptop pensando em postar a nênia(** )que o amigo Piero escreveu para Michael Jackson no http://www.apaneutheon.blogspot.com/ e de quebra ainda trouxe de lá uma escrita de Caetano Veloso.

"passo à lua, mais leve,
lá onde o nunca cresce,
lá onde a mistura já cai:
estranho odor da infância,
esse, ainda permanente,
de luvas e luzes, da pele
e dor – tida – acossada
e respirando, dança."

------------------
O anjo e o demônio da indústria cultural
Por Caetano Veloso

A notícia da morte de Michael Jackson foi um grande abalo. Cheguei ao Teatro do Sesi de Porto Alegre e ao ser informado pensei imediatamente em meus filhos Zeca e Tom. Logo Daniel Jobim me veio à mente. Ele é conhecedor e devoto de Michael desde a infância. Moreno, meu filho mais velho, que é amigo de Daniel, também dedicou afeto intenso à figura desse gênio do nosso tempo. Mas são meus filhos menores que hoje se sentem mais atraídos por seu estilo.Como todo mundo, acompanhei Michael desde que ele era pequeno. Como todo mundo, fiquei siderado pelo cantor e dançarino de "Off the Wall" e "Thriller". Como todo mundo, fiquei entre fascinado, enojado e apreensivo diante das transformações físicas por que ele passou. O que quer que tenha havido entre ele e aqueles meninos cujos pais o processaram, acho-o moralmente superior a esses pais.Michael é o anjo e o demônio da indústria cultural. A serpente do seu paraíso e seu mártir purificador. Os talentos artísticos extraordinários frequentemente coincidem com vidas torturadas e enigmáticas. Michael era um desses talentos imensos. Dançando "Billie Jean" na festa da Motown ele foi sim tão grande quanto Fred Astaire: comentava o Travolta de Saturday Night Fever e o Bob Fosse do Pequeno Príncipe (este, uma influência fortíssima e evidente, que nunca vi mencionada). Vou entrar agora no palco pensando em Tom, Zeca, Moreno e Daniel - e, com um nó na garganta, no sentido da nossa atividade. Ele a representava em sua totalidade, fulgurantemente, tragicamente, divinamente.
-------
(*) versos de Pedro Rocha, poeta carioca
(**) canto fúnebre

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Carta para uma amiga


Cara amiga:

Depois que correu os olhos pelas fotos do blog você quis ter notícias mais miudinhas do povo e do povoado. Será saudade? Passei ontem no seu Facebook para uma mensagem de 140 toques – dei uma espiada ao redor logo vi o menininho de olhar esperto. É o sobrinho francês? Ah! Aproveitando a conversa sobre a internet, se na sua caixa postal surgir convite no meu nome vindo do Tweeter simplesmente delete. Eu acessei porque todo o mundo virtual estava falando nisso. Em outra ocasião navegante entrei para olhar com vagar e fui seduzida até o ato da inscrição – entreguei a carteira de identidade, dei senha, meu email, tudo de uso corrente. Quando a permissão apareceu na tela passei um bilhete para minha afilhada de Brasília para testar e ela me respondeu. Foi só. Depois de alguns dias o programa do Tweeter disparou mensagem automática para todos os meus contatos.
São muito independentes, esses softwares.
Na última terça-feira houve uma grande festa de aniversário para o Seu João Capador – você teria gostado tanto! Foi bem perto do local onde você festejou seus próprios cumpleanos no pós-verão deste ano. As pessoas organizaram um festival de atrações com atrevidas piruetas dos meninos e rapazes da capoeira, com a algazarra do pé duro, com o livro que o Leonardo (nosso professor de yoga e padeiro) escreveu contando a estória das ervas do Seu João – que obviamente se chama assim porque nasceu no dia da quadrilha -- pelo bolo tipo de noiva rodeado de meninos e arabescos torcidos de azul doce nas bordas. Mas a cereja do bolo era ver os moradores do lugar, veio tanta gente, os das roças e os de outros lugares, o novo e o envergado e ainda foi possível conversar de música porque colocaram discos alegres de Luís Gonzaga, o Carlos Gardel do forró.
Sabe que ultimamente tem rolado uma transação de terra? A ponta do Mafuá foi vendida – aquela parte do terreno que é mais larga – para uma pessoa que trabalha com cinema, uma produtora – será que finalmente seremos franquia de Cinecittà? Porque aqui preferimos os filmes italianos aos americanos ainda não descobri. Anotei o nome do diretor coreano que você mencionou se me deparo com ele está decidido: vejo. Hoje vamos passar um filme chamado do Outro Lado onde se conhece um pai viúvo, uma prostituta, o filho do viúvo e a filha da puta. Ganhou o prêmio de melhor roteiro no festival de Cannes em 2007. A temática é esta de um mundo sem fronteiras, afinal, qual é a nacionalidade de um rapaz nascido de pais imigrantes turcos na Alemanha que se torna professor de literatura alemã?
Na quarta-feira houve outro evento delicioso: foi apresentado via Cine Cajueiro o primeiro telejornal produzido por adolescentes que participam da radioweb do IASA. O grupo se apresentou completo: cinegrafista, roteirista, repórteres, editor – eles conseguiram! Mal podia crer nos meus olhos: provavelmente vários desses rapazes e moças ainda não têm computador em casa.
(no meio da carta toca o telefone: era a voz do Cláudio -- numa ligação entrecortada compreendo que acabou o combustível zero zero nem uma gota e eles no meio do mar quatro homens, um motor calado e um barco à deriva ai de mim SOS o rádio! falaram no rádio e quem escutou foi um barco da Marinha brasileira um encouraçado, quiçá um Potekim).
Parou ao lado do saveiro: os nautas, estupefatos. Disse-me ele: acho que se as sereias de rabo e peitos tivessem aparecido ali o susto seria menor (e por certo, melhor). Abriram um alçapão, imagino, não deu para perguntar os detalhes, só sei que veio uma lancha cheia de soldados pra cima deles e fiscalizaram tudo, a Marinha e o IBAMA. Cláudio tem carteira oficial de pescador mas como não tinha o outro certificado, a licença para pescar, levaram todos os peixes pescados -- em troca o combustível para chegar na praia.
E agora acho que vou terminar esta cartinha porque fiquei sem concentração. Quando você puder, me escreve.

exposição de pelados

" Árabe com flores", de Herbert List, (1935) quando a fotografia já passara a explorar novos ângulos
Marilyn Monroe, clicada pela câmera do fotógrafo Bert Sterns (1962)







A exposição "Nude Visions - 150 anos de imagens de corpos na fotografia", em cartaz em um museu de Munique, no Sul da Alemanha, conta a história do nu artístico na fotografia através das décadas.
Com cerca de 250 trabalhos, a mostra do Münchener Stadtmusem procura investigar os limites entre arte, sensualidade e pornografia.
Aberta até dia 13 de setembro, a exposição é organizada cronologicamente, trazendo um panorama que vai de 1855 até 2005.
As peças mais antigas são datadas do início da história da fotografia, na metade do século 19. Essas obras, entretanto, não tinham um fim artístico - eram produzidas para servir de apoio ao estudo de pintores, desenhistas e escultores.
Somente no começo do século 20 é que o gênero ganha vida própria, se transformando em obra de arte, com diversas correntes.
---------
BBC - Brasil

Garrincha no Botafogo


Para lhe fazer sorrir após as provas de final de semestre.
Nos vemos em Paraty!

o outro invisível



excerto de "A elegância do ouriço"
-------------
"Aí vai, portanto, meu pensamento profundo do dia: é a primeira vez que encontro alguém que procura as pessoas e que vê além. Isso pode parecer trivial, mas acho, mesmo assim, que é profundo. Nunca vemos além de nossas certezas e, mais grave ainda, renunciamos ao encontro, apenas encontramos a nós mesmos sem nos reconhecer nesses espelhos permanentes. Se nos déssemos conta, se tomássemos consciência do fato de que sempre olharmos apenas para nós mesmos no outro, que estamos sozinhos no deserto, enlouqueceríamos".
-----------
tela do pintor suíço, Ferdinand Hodler (1853-1918)

A elegância do ouriço



Trecho de "A elegância do ouriço", de Muriel Barbery, com mais de 850 exemplares vendidos na França. A estória se passa num prédio de apartamentos de luxo em Paris. Os personagens principais são uma zeladora de meia-idade, culta e desconfiada, uma adolescente pensativa e cheia de birra, um senhor japonês misterioso... Um delicioso romance filosófico!
No excerto abaixo, a voz da adolescente
-------------------
"No sábado passado fomos a um restaurante assim, muito chique, o Napoléon’s Bar. Era um programa familiar, para festejar o aniversário de Colombe. Que escolheu os pratos com a mesma graça costumeira: uns trecos pretensiosos com umas castanhas, um cordeiro com ervas de nome impronunciável, um zabaione ao Grand Marnier (o cúmulo do horror). O zabaione é o emblema da cozinha francesa: um troço que pretende ser leve e sufoca o primeiro cristo que aparece. Não comi nada de entrada e depois comi sessenta e três euros de filés de vermelho ao curry (com cubos crocantes de abobrinhas e cenouras debaixo do peixe) e depois, por trinta e quatro euros, o que encontrei de menos ruim no cardápio: um fondant de chocolate amargo. Vou llhes dizer: por esse preço eu preferira uma assinatura anual no McDonald’s. Pelo menos é sem pretensão no mau gosto. E nem falo da decoração do restaurante e da mesa. Quando os franceses querem se diferenciar da tradição “império” das tapeçarias bordô e douradas à vontade, caem no estilo hospital. A gente senta em cadeiras Le Corbusier (“de Corbu”, diz mamãe), come em louça branca de formas geométricas muito burocracia soviética e enxuga as mãos no toalete com toalhas tão finas que não absorvem nada.
A simplicidade não é isso. Nos mangás, os personagens parecem comer outras coisas. Tudo de um jeito simples, requintado, comedido, delicioso. Come-se com quem olha um belo quadro ou como quem canta num coral. Não é demais nem de menos: comedido, no bom sentido da palavra. Talvez eu me engane redondamente, mas a cozinha francesa parece velha e pretensiosa, ao passo que a cozinha japonesa parece... pois é, nem jovem, nem velha. Eterna e divina."

Vida de pescador


Fiquei a ver navios...
-------------------

Lá se foi o Cláudio, ontem de manhã, para mais uma jornada pelo mar. Vão longe, eles e os amigos; conta que à noite é uma escuridão total, só o brilho das estrelas.
É um passeio extenuante, o barco no seu incessante movimento oscilatório, as mil e uma vezes que se joga a linha com anzol, o trato dos peixes, o sono interrompido (quando há).

Suerte, pescadores!

-----------

obra de Adriana Varejão

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Carteira de identidade





O desabafo do jornalista baiano e o aniversário do Seu Capador ontem me fizeram pensar novamente sobre identidade e sentimento de pertencer. O tema é velho, mas está mais na moda do que nunca. Convivo com uma antiga inquietude que se acentuou com a saída de Brasília há três anos e o exercício de adaptação às novas cidades onde agora respiro: o minúsculo povoado de Santo André e a megalópolis paulistana. Tenho o pressentimento que não estou sozinha nesse desconforto, sinto que é algo generalizado, uma pandemia, como a gripe ou a violência.
Não existe agora lugar que possa chamar de meu; parece que há um estranhamento me esperando em cada esquina da vida. Mas como pequenos milagres existem e são até cotidianos, encontros ocorrem onde quer que eu ponha os pés.

Como pensar nos meus filhos, genro, netos, irmãos: o vínculo do sangue.
Como no convívio com meu companheiro – a estrada mais aberta e ensolarada, de tanta sombra que fomos afastando com o passar dos anos.
Como no almoço com os amigos, ontem, no Guaiú: a construção de uma nova rede social: obra em progresso.
Como o som da campainha e a visão no portão do grupo de adolescentes aprendizes de rádioweb, de jornalista, de filmar e gravar. Hoje à noite, antes da exibição do filme regular do Cine Cajueiro, o palco – que é a rua – e a tela amarrada na cerca serão deles.
E como no aniversário do Seu Capador que ontem fez 87 anos, dançou boi duro e forró, cantou música do folclore e desfilou sua espantosa energia entre nós. É a segunda vez que vejo o povoado parar para comemorar o aniversário de uma pessoa velha (o outro foi o da italiana Dudu). Na rua, as bandeirinhas, as palhas dos coqueiros, a música, a comida e a dança.
Me deu vontade de colocar minha carteira de identidade pregada na roupa, como um crachá.

Bom dia, filha!


Abaporu

A obra mais conhecida da pintora brasileira Tarsila do Amaral (1928).


influenciando as novas gerações
"pinkie e os pés" (2009)

terça-feira, 23 de junho de 2009

Mulherada de Santo André



Uma família bonita e sorridente:
Míriam, Marina, Moniquinha e Gaia, a filhinha da Marina que por enquanto ainda está na barriga da mamãe

O mito de Rosebud






Quem já não enjoou de ver o filme Cidadão Kane (1941) incluído na lista dos melhores filmes de todos os tempos?
Citizen Kane foi o primeiro filme do diretor Orson Welles que, nada bobo, contratou os melhores profissionais de sua época -- gente como Bernard Hermann, um ótimo arranjador de trilhas sonoras ou o fotógrafo Gregg Tolland que trabalhou com o plano de fundo como nunca havia antes feito.
Charles Foster Kane, o Cidadão Kane, é um personagem baseado na vida do magnata William Randolph Hearst, o poderoso dono de um império jornalístico. Consta que ele ficou furioso após a exibição do filme devido à palavra misteriosa que Kane pronuncia antes de morrer: rosebud (que em português significa "botão de rosa") era o nome carinhoso que Hearwt usava para denominar a parte íntima de sua mulher.
Hearst destruiu cópias do longa e o difamou em seus jornais resultando em má bilheteria.
A sequência de abertura é lendária: a câmera se aproxima pouco a pouco da mansão onde Hearst morava (Xanadu), aparece o sinal "proibida a entrada", a luz do castelo se apaga e a palavra Rosebud é sussurada de modo surreal, seguida pelo close da mão que solta uma bola de neve para se espatifar no chão e culmina com a morte de Kane. É um começo invertido, o personagem principal morre no começo do filme e sua vida é contada por meio de flash backs, um recurso que nunca havia sido empregado no cinema até então.
O mais interessante é que os flasbacks são inseridos de acordo com a visão de diversos personagens – são vários pontos de vista, o que enriquece o filme de maneira ímpar.
Mas afinal o que é Rosebud?
Numa resposta fácil, é o trenó de Kane, o símbolo de sua infância antes de se separar de sua mãe para assumir o império que lhe estava destinado. A palavra representa o único tempo feliz na vida de uma pessoa que teve tudo e ao mesmo tempo não teve nada pois não soube transformar sua riqueza material em enriquecimento espiritual.
Rosebud é a busca do tempo perdido a que todos estamos submetidos, a eterna e antiga insatisfação da humanidade.
---------
cabeçalho do blog de Pedro Henrique
foto de Orson Welles

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Novas linhas aéreas para Porto Seguro



"A malha aérea de Porto Seguro ganhará dois novos voos regulares a partir do final do mês de junho. Resultado do trabalho de articulação da Secretaria de Turismo de Porto Seguro e parceiros, os novos voos irão garantir um aumento diário de aproximadamente 30% da capacidade aérea local. O primeiro voo, da empresa Trip, iniciará suas operações no dia 29 de junho, e fará a rota Rio de Janeiro – Porto Seguro – Rio de Janeiro, com previsão de chegada na cidade às 13h e saída às 16h. A conquista foi obtida pela Bahiatursa em parceria com a Secretaria de Turismo de Porto Seguro. “Nosso objetivo é facilitar o acesso dos turistas ao segundo maior destino turístico da Bahia”, disse a presidente da Bahiatursa, Emília Salvador. O segundo voo, operado pela Gol, começará dia 1º de julho, fazendo a rota Brasília – Confins (Minas Gerais) – Porto Seguro.O anúncio foi feito durante reunião do secretário de Turismo de Porto Seguro, Paulo César Magalhães, com a Gol e dez operadores de turismo mineiros. De acordo com Paulo César, as negociações com a Gol foram iniciadas há um mês, após uma visita aos operadores de turismo mineiros. “Durante as reuniões, a principal dificuldade operacional apontada por eles foi a deficiência na malha aérea. Imediatamente iniciamos as articulações com as empresas aéreas para conseguir novos voos”, disse o secretário. Após o anúncio da nova conquista com a Gol, Paulo César seguiu para São Paulo, onde se reuniu com o gerente de Plano de Voos da empresa Tam, Marcos Castanheiro.“Durante o encontro, conversamos sobre as possibilidades de melhoria, inclusive referente ao voo da Tap (parceira da Tam) que vem de Portugal para Salvador em um horário que não permite ao passageiro pegar uma conexão no mesmo dia para Porto Seguro, dificultando o acesso e fazendo o turista mudar seu plano de viagem, excluindo nossa cidade do roteiro”, afirmou. A Tam ficou de avaliar a situação e estudar propostas que possam ser viáveis tanto para a empresa quanto para o destino. "
Fonte: Assessoria de Imprensa – Secretaria de Turismo de Porto Seguro

domingo, 21 de junho de 2009

Cultura ou vestidos?


Mafalda nasceu na Argentina no começo da década de 60. Desde cedo a carismática garotinha demonstrou ser politizada, sempre brigando com o mundo da injustiça, guerra e intolerância.

Seu pai é Joaquin Salvador Lavado, conhecido no mundo todo como Quino, um homem cheio de humor e sarcasmo como mostram as tirinhas dedicadas as desigualdade entre as classes, aos conflitos políticos, ou as relações tensas entre as potências mundiais.

A última tirinha da Mafalda foi escrita em 1975, por decisão do próprio Quino.

Simetria



"Havia um homem que se sentia atraído por contrabaixos
porque lhe faziam lembrar mulheres nuas com peitos
envernizados.Têm o tipo de ancas, dizia, que levam os homens
à loucura.
Obviamente que não se importava que, por razões de
simetria, as mulheres lhe fizessem lembrar contrabaixos nus.
Delas dizia, também têm o tipo de ancas que levam
os homens
à loucura.
Uma vez pediu a uma mulher para ser o instrumento da sua música.
Ela respondeu, está a brincar, por quem me toma, algum
contrabaixo?…"
----------

poema de Russel Edson,(1935), considerado o mais importante autor americano de poesia em prosa.

A casa da vizinha argentina

hibiscus, a flor-símbolo da Bahia
Quando a campainha tocou olhei na janela vi que era a Nida. Vinha transmitir uma solicitação da nossa vizinha que mora em São Paulo onde trabalha com gastronomia -- será que você poderia bater umas fotos das flores da casa de Ana e mandar para ela?


Adorei a missão: seguem as flores para seu domingo paulistano.










Adriana Varejão

Bolas pretas para Adriana Varejão


"Talvez a artista contemporânea brasileira de maior prestígio no mundo, a carioca Adriana Varejão teve seu nome recusado para sócia do Country Club do Rio de Janeiro. Como dizia o colunista Ibrahim Sued, ali se reúnem alguns dos falidos mais esnobes do País. "


coluna de Ricardo Boechat

A elegância do ouriço



"O que é uma aristocrata? É uma mulher a quem a vulgaridade não atinge, embora esteja cercada por esta."
Muriel Barbery, no livro do título

Infância abandonada



("Crianças mal cuidadas são feitas para parecerem invisíveis")

editorial da Isto É

"A Unicef acaba de apresentar estatísticas sobre a situação da infância no Brasil que reforçam um quadro alarmante de falta de atenção ao menor. A pesquisa PNUD, do IBGE, mostra que quase 240 mil jovens com menos de 18 anos são hoje chefes de família. São adolescentes com atribuições como sustentar uma casa ou mesmo criar filhos." (...)

Saudades de você!


sexta-feira, 19 de junho de 2009

Itamaraju, Bahia

Fomos ontem para Itamaraju só para participar de uma oficina para elaboração de projetos culturais que foi ministrada pelo pessoal do BNB para as cidades do Extremo Sul da Bahia. Fiquei surpresa com o número de participantes; soube que depois de Salvador, a maior reunião foi a nossa.
Tomara que dê frutos!
O Centro de Cultura e Convivência de Santo André e o Iasa também participaram (olhem a Lola lá).



A viagem foi traquila numa rota bonita, sinuosa, verdejante e levantada por serras. Vimos, de longe (nós e Cabral), o Monte Pascoal.


À noite fomos dar uma voltinha na cidade, bem curtinha, uma cerveja ou duas na praça porque (tem algum itamarajuense aí? ) a cidade é feinha demais, coitada! Além de desengonçada, toca uma barulheira infernal, também conhecida como música brega -- havia caixas de som irradiando ruídos até nos postes públicos.


A foto é de um pé de fruta-pão que havia no hotel; o nevoeiro foi uma surpresa, ao acordar.

O jogo de xadrez

Achei este lindo post no blog de uma pessoa chamada (?) Princípe Mishkin, de Coimbra, Portugal

"Cuentan que hace mucho mucho tiempo, quando ainda não existiam egípcios e tutankhamuns, os africanos fabricaram um xadrez mágico que ofereceram, por qualquer motivo que o tempo obscureceu, aos povos do norte da França. Esse xadrez continha o segredo para a imortalidade: em oito jogadas dever-se-ia atingir o xeque-mate. O jogo, porém, não era imediato e a partida levava a vida toda (mas a recompensa era toda a vida). Cada um dos quadrados do tabuleiro significa um dos sessenta e quatro elementos naturais da tabela periódica (na altura desconhecia-se a lista completa dos setenta e dois) e, desse modo, cada jogada era, na realidade, um pedaço da receita para o fabrico do elixir sagrado. As peças eram do tamanho de uma criança de três anos. O xadrez esteve nas mãos de Alexandre Magno, que o jogou ao contrário, para, como Aquiles, ter vida breve, mas ganhar fama eterna. Carlos Magno possuiu-o e, para não esquecer a receita do jogo certo, desenhou uma catedral rendilhada de pistas que só os iniciados saberiam ler, como Robespierre e Casanova. Hoje só sobra um cavaleiro branco enorme, guardado no museu de Moscovo. O governo americano (o Bureau for Paranormal Research, quiçá) ordenou escavações em busca do resto, mas sem sucesso. A estória, decorada por muitos mais pormenores, encontou-ma George hoje (...)"
-----------
tela de John Singer Sargent

www.sexo.ponto.com

Notícia do jornal "O Globo"
---------------
Pesquisa sobre comportamento sexual divulgada ontem pelo Ministério da Saúde revela que os brasileiros estão fazendo mais sexo fora do casamento e com parceiros que conheceram pela internet. E o cuidado com a prevenção da Aids e outras doenças diminuiu. De acordo com o estudo, 7,3% das pessoas tiveram relações, no último ano, com alguém que encontraram na rede mundial de computadores.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Academia em Santo André


Temos academia no povoado!
Ana Xara e Adriana abriram o antigo Mafuá para este fim. São poucos aparelhos (6) mas tem funcionado com bastante alunos. Cláudio e eu vamos para lá 3 vezes por semana. Aberto e de frente para a rua, dá para ver o povo passar -- leiteiro, verdureiro, funcionários do Costa Brasilis -- e observar passarinho, árvore e flor.
E a professora Adriana, na foto, é competente e simpática.


Itamaraju by night



Ontem à tarde lembramos de um amigo que mora em Itamaraju, um pescador com estilo que conhecemos aqui em Santo André, ex-garimpeiro cheio de estórias improváveis – conhecido como “Roberto, o Mentiroso” – um pescador que gosta de ler: uma vez falamos de “Crime e Castigo”.
Roberto morava no barco: quando chegava do mar jogava as âncoras no rio, se aprontava e saía para conversar.
Não estava, informaram, não mora mais naquele telefone. Pena. Aproveitamos para perguntar ao moço que atendeu a chamada o que tem para fazer em Itamaraju.
“Tem Prado”, foi a resposta.
(Prado é outra cidade)

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Santo André e os projetos culturais


Aqui em Santo André da Bahia, um povoado onde vivem umas 800 almas, temos dois centros culturais que funcionam graças às doações de particulares: o Centro de Cultura e Convivência (CCC) e o IASA (Instituto dos Amigos de Santo André). De uns meses para cá, passei a integrar o pequeno grupo de voluntários que doa seu bem mais precioso – o tempo – para cooperar com a disseminação da cultura na Vila.
Visto assim na letra fria parece nada, mas quando vemos a meninada dançando, pintando, desenhando, girando pernas e braços nas rodas de capoeira, tocando flauta ou participando da bandinha rítmica – ah, bem que a gente sente um calorzinho interior porque dificilmente os meninos teriam outra chance como essa, vez que são oriundos de famílias em risco de exclusão social.
No momento estamos procurando conseguir recursos públicos, mas não é simples concorrer nestes editais culturais, exigem papéis e certificados a granel. Daí vem o Ministro da Cultura, Juca Ferreira e lança a frase que já ficou na história cultural deste País:
“Não sou masoquista para trabalhar só com artistas malsucedidos. O ministério não tem vocação para irmã Dulce ou para Madre Teresa de Calcutá."
É que ele pretende rever a decisão que proibiu os produtores do músico Caetano Veloso de captar patrocínio da Lei Rouanet para divulgar o novo CD do artista, "Zii e Zie".
Como se por acaso um disco de Caetano Veloso não fosse economicamente viável!
Caetano que me desculpe, mas seria mais justo se os recursos viessem para os novíssimos baianos.

Rumo a Itamaraju



O projeto BNB de Cultura para 2010 foi lançado: vão destinar R$ 6 milhões para projetos a serem selecionados nas áreas de música, literatura, artes cênicas e visuais. Haverá oficinas gratuitas para orientar os novatos a elaborar os projetos. Decidi participar para ver se montamos um projeto por aqui.
O problema é que isso só acontecerá em 6 cidades baianas; a mais perto de Santo André é Itamaraju e fica a uns 300 kms de distância. Sei que o pessoal dos centros culturais de Arraial d’Ajuda e Porto Seguro conseguiu uma van para levá-los – vão sair de madrugada, na própria sexta porque o curso começa às 9 da manhã.
Ainda bem que o Cláudio vai comigo! Vamos sair amanhã depois do almoço, dormimos lá – sei lá aonde – e voltamos depois de amanhã após o tal curso para editais.
Esta foto aí mostra o principal ponto turístico de Itamaraju, chama-se Monte Pescoço, aparece até na bandeira da cidade.

Destino marcado



O filme Match Point de Woody Allen abre com essas palavras:
“O homem que disse: ‘prefiro ter sorte a ser bom’ entendeu profundamente o sentido da vida. As pessoas temem ver como grande parte da vida é dependente da sorte. É assustador pensar que boa parte dela foge do nosso controle. Há momentos no jogo, em que a bola bate no topo da rede e, por um segundo, ela pode ir para o outro lado, ou voltar. Com um pouco de sorte, ela cai do outro lado. E você ganha. Ou talvez não caia. E você perde”.
As primeiras imagens mostram um jogo de tênis e, em câmera lenta, os momentos em que a bola oscila em cima da rede: é uma das metáforas do filme sobre o destino, o fado de cada um. Quando acontece uma tragédia com aviões, como foi o caso agora do vôo 477, é assustador de tirar o fôlego saber das pessoas que embarcaram na última hora ou que não embarcaram e tiveram suas vidas poupadas. Ontem, minha filha me contou que viu num jornal romano, a sina de uma senhora italiana que não conseguiu chegar a tempo no aeroporto de São Paulo e perdeu o desditoso vôo da Air France. A infeliz acabou morrendo apenas uma semana depois em acidente de carro.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Figuras de Santo André da Bahia

recebi do IASA
-------
"Já estamos acostumados a ver o Léo tirar do forno seus deliciosos pães integrais, mas hoje uma novidade, um livro!
Quentinho, saído do forno! Nosso versátil yogin, padeiro e agora escritor, surpreende, não somente pelo ato de
escrever, mas pelo tema: o “curandeiro” João Capador, que reside há mais de 30 anos em Santo André e receita para quem o procura, plantas medicinais. E foi assim que esta idéia surgiu: após se consultar com seu João, Léo se sentiu tremendamente curado e decidiu escrever sobre ele e para ele, foi assim, uma forma de retribuir. Este livreto são apenas algumas pinceladas sobre seu João e suas curas, através do depoimento de alguns moradores. Ao final, um catálogo com algumas ervas medicinais utilizadas por ele, nome científico e suas propriedades curadoras.
Um estímulo para os escritores de plantão pegarem o gancho e se aprofundarem em uma real obra literária, mas valeu a homenagem e muito! Seu João e família estão muito felizes com o registro! Principalmente Dona Nenzinha, casada há 40 anos com Capador, sua eterna namorada, o livreto foi um excelente presente para este 12 de junho e também para comemorar no dia 23 de junho, os 87 anos deste jovem pajé (o segredo da juventude deve estar nas plantas!)
Também para comemorar a data, o nosso professor da lutheria Marcelo Bottini e o nosso monitor de capoeira Pingüim, farão uma apresentação de maculelê e percussão na porta da Merceria Bom Jesus da Lapa. Também está sendo organizada uma apresentação de boi duro, puxado pelo seu João Capador. Laide, uma das artesãs e que está no livro dando seu depoimento, promete fazer a cabeça do boi duro."

A viagem do elefante



O último livro do escritor José Saramago trata de um acontecimento bizarro. Em meados do século XVI, o arquiduque austríaco Maximiliano recebeu um elefante como presente de casamento, enviado por "dom João, o terceiro, rei de portugal e dos algarves, e de dona catarina de áustria, sua esposa e futura avó daquele dom sebastião que irá pelejar a alcácer-quibir e lá morrerá ao primeiro assalto, ou ao segundo, embora não falte quem afirme que se finou por doença na véspera da batalha".

O protagonista do romance não é o arquiduque nem a dona Catarina: é Salomão, o elefante e Subhro, seu cornaca* (*”aquele que guia elefantes e deles cuida”). O tom irônico do narrador aparece logo no uso das iniciais minúsculas e no comentário nada lisonjeiro à memória do ilustre Dom Sebastião.

Triste Tópico

escrito por David Coimbra, no Jornal gaúcho Zero Hora, em 28.12.2007

"Certa noite de chuva"

Chovia muito no último dia em que vi meu pai. Eu estava com oito anos de idade e padecia na cama com 40ºC de febre. Amígdalas.
Meus pais tinham se desquitado havia já alguns meses. Eu, meus irmãos e minha mãe morávamos num apartamento de um quarto na Assis Brasil. Ele foi nos visitar e deparou comigo tiritando sob a coberta.
Lembro com nitidez daquela noite, dele parado à soleira da porta do quarto, de pé, olhando-me, e minha mãe ao lado, com o papel da receita do médico na mão. Ele tomou a receita e ofereceu-se para ir à farmácia. Deu as costas para o quarto, mergulhou na escuridão do corredor e foi embora. Nunca mais o vi.
Logo depois ele se mudou para outro Estado, no Centro-Oeste, e lá construiu o resto da sua vida. Um dia de 2001 alguém me disse:
- Teu pai morreu ontem.
E eu não sabia o que sentir.
Não conto essa história com ressentimento. Porque acho que entendo o que aconteceu com meu pai, naquela noite de chuva. Ao sair do apartamento, ele de fato tencionava comprar os remédios.
- Vou comprar dois de cada! - recordo que disse.
Mas meu pai era alcoolista. Na rua, deve ter cruzado pela porta de um bar, ou com um amigo, e parou para beber. Quando deu por si, era tarde para ir à farmácia e tarde para desculpar-se. Continuou bebendo, gastou todo o dinheiro e, no dia seguinte, envergonhado, preferiu não dar notícias. Assim passou-se um dia, e outro, e mais outro. De repente, havia transcorrido tempo demais para voltar atrás ou para dar explicação. Meu pai não enfrentou a própria vergonha, isso não é incomum. Acontece. É compreensível.
O que sempre me enfeitiçou nessa história, que, afinal, é parte da minha própria história, não foi o detalhe da desistência do meu pai. Não foi o abandono. Foi o momento em que meu pai decidiu entrar no bar. Uma decisão tão aparentemente irrelevante, tão fácil de ser tomada, dar dois passos da calçada em direção a uma porta aberta, e, ao mesmo tempo, uma decisão tão crucial. Fico pensando em como a vida é repleta dessas pequenas deliberações que podem alterar rumos e mover destinos. Fico pensando em todas as palavras espinhosas não ditas, nas vezes em que o sinal amarelo não foi cruzado, em que o gatilho não foi apertado, em que não liguei para ela, nas chances que deixei passar, e nas vezes em que fiz tudo isso, por bem ou por mal. Um passo, uma palavra, um gole, um pedido de perdão que não foi feito, e tudo muda. Mudou para meu pai. Mudou para mim. Neste fim de ano, o que desejo a todos é isso, que o passo seja certo, que a palavra seja macia, que o gole valha a pena, que o perdão seja pedido. E concedido. "

domingo, 14 de junho de 2009

O rei está nu


O rio, os barcos e as gambiarras


Vistos da varanda da primeira casa onde moramos, em 2006.

Ponta de Santo André na Bahia



Minha irmã e sobrinhos, em tarde de estio nos nossos primeiros tempos como moradores dessa fronteira chamada Santo André.

Osman Lins Avalovara



O domingo chegou inesperadamente. Parece que as semanas encolhem à medida que a idade avança, como se os dias estivessem saltando trêfegos para fora do calendário. Passo em revista a fileira de atividades à procura das infiltrações por onde escorrem os dias que se vão sem deixar herança de horas-extras nem minutos intermináveis.
Fomos todos deserdados por Cronos e só nos resta permanecer afobados, interminavelmente, neste mal estar da efemeridade permanente.
-----------------------------
Trago da literatura – esse mundo apaixonante onde caminho às cegas, movida apenas pelo gosto e pelo sentimento – um trecho de Osman Lins, em Avalovara:
“Os relógios, escreve Julius têm estreita ligação com o mundo e o que representam ultrapassa largamente a sua utilidade. Desde a origem, opõem ao eterno o transitório e tentam ser espelho das estrelas. Mais ainda: exprimem em números simples – tão simples que, ingenuamente, julgamos compreendê-los – o ritmo impresso desde a origem à marcha solene e delicada dos astros. Vede os relógios de Sol. Pode-se, após alguma reflexão, continuar a crer que Anaximandro de Mileto, quando fabrica quadrantes, quer apenas facilitar a divisão do dia em horas? O que ele pretende é converter a luz solar, seu giro harmonioso, numa flor geométrica que feneça ao anoitecer.”
----------
comentário de Piero Eyben:
"um relógio e
o devorar
do pai ao
filho, podendo
ser um goya
terrível: metade
de tudo.

julius poderia
ter pensado em
heráclito ou
em zenão - no
fundo toda mobi-
lidade é também
imóvel - mas não
pensou em ser
mais físico,
marcando-nos
com a técnica:
impõem-se os
DIAS."
--------------
Que presentes, os comentários de Piero.
obrigada!