sexta-feira, 29 de abril de 2011

a vida aqui na praia

Esta é a rua principal (e a mais longa) do nosso povoado; ela se estende pelo lado fluvial, bem próxima à foz do rio. Se estivesse na Itália se chamaria LungoJoãodeTiba; aqui no entanto foi batizada de Avenida Beira-Rio.  A árvore grande no fundo é o cajueiro que funciona como mini-praça.  A moçada gosta de ficar escorada na amureta próxima, já foi palco de festivais culturais, de músicos, de circences... Foi aqui que o Cine Cajueiro funcionou durante um ano e meio... os fiéis da igreja evangélica se  agrupam por lá, rodeando a árvore, serve de escora para as bicicletas das crianças e para os frequentadores dos bares (agora estamos na lei seca, tá tudo fechado...).  Rua deserta, um vento friozinho batendo, um silêncio enorme e conforto na alma.
Enquanto isso, na rua seguinte, nem tudo era quietude... Foi noite de festa! Comemoramos o aniversário do Amadeo, no Cabana Nativa, numa festa aconchegante, muito gostoso...
... o clima de festa já estava rolando na pizzaria da Joyce... Na mesa estão o Cláudio, o Rogério, a Maninha, Paulo, Muriel, Andréia e Paula (em pé)
Vieram uns músicos de Belmonte para tocar na festa do Amadeo
e olhem só a cara do Ian, todo pimpão, ao lado da mãe dele, a Janaína...rsrsrs
Joílson de cabelo novo (isto é, nenhum, sobrou apenas uma trancinha), Jimena entre as folhas e o Renilson tomando uma cervejinha...
Foto histórica, bem na esquina onde o povo gosta de sentar no banco improvisado (um tronco de madeira que alguém arrastou da mata até embaixo). Pablo, Queso, Manoel, o aniversariante, Muriel e Lucas... Nós viemos para casa pouco depois da meia-noite, o povo continuou festejando...

lembranças de uma viúva

Ela estava em pé, na porta da igreja evangélica, com uma vassoura de palha na mão e uma criança de olhos grandes ao seu lado.  No primeiro momento achei seu rosto familiar sem lembrança do nome, mas foi só olhar na tristeza de seus olhos para a cena do velório do marido dela emergir do meu subconsciente. Faz dois meses amanhã, me disse. Vinte e sete anos de casamento. Parei para abraçá-la; é uma mulher que vejo pouco, nossas conversas são superficiais; foi um primeiro encontro na intimidade de rua deserta e alma aberta. Não reclamou da economia doméstica – tem uma família numerosa – nem de como está lidando com o trabalho da piaçava na roça, nem de nada.
Só falou da saudade que sente dele. 

quinta-feira, 28 de abril de 2011

cartinha para uma amiga

(Querida M.)  Voltei pra Santo André há poucos dias e mal pus o nariz  do lado de fora da casa.  Depois da agitação física e mental de São Paulo, é reconfortante ficar quieta, tal  qual pedra  perdida no deserto. E tantas são as tarefas que teria que fazer, mas nada que se compare àquelas obrigações do nosso tempo de trabalho no Banco Central.  Nada tão complicado e enfadonho como ler e analisar calhamaços de 500 páginas em inglês, nem ter responsabilidade em operações de milhões de dólares ou entender operações engenhosas do sistema financeiro internacional... Não... Agora o cardápio do cotidiano é bem mais simples. Arrumar gavetas, organizar discos, limpar estantes de livros, fazer poda no jardim, alimentar um blog com as impressões desta pobre vivente num povoado à beira-mar.... Tem uma pilha de papéis na minha bancada que pedem pequenas providências burocráticas, mas minha resistência a lidar com este tipo de situação... só aumenta... A Bahia, definitivamente, não combina com papelada. (Prefiro sair para ver os barcos novos da enseada: o catarmarã da foto de cima,  eu ainda não conhecia, é de um belga que foi morar em Paraty e voltou pra cá, recentemente) .
De maneira que parei tudo (na verdade, nem comecei) e vim atualizar minha correspondência. Você devia vir pra cá por agora: o tempo está numa deliciosa instabilidade – um dia chove, outro dia bate sol, mas o que quero lhe dizer é que a coisa aqui tá verde... Com água e sol abundantes as plantas estão dando  espetáculo diário –   nas cores, na luz e na ação do vento.  Na manhã de ontem saí para um passeio longo,
de bicicleta. Até a altura da Pousada Gaili, o sol estava a pino;  eu pretendia visitar a Ana Tereza, mas não consegui chegar perto da casa dela: começou a chover na primeira curva. Voltei pra casa com os rain drops keep falling in my head tocando na memória, mas feliz da vida: que luxo é andar de bicicleta em ruas vazias de carros, de semáforos,  de flanelinhas, de buzinas... É bom ficar longe do povoado por uns tempos porque a gente volta em clima de lua-de-mel com o lugar. (legenda da foto: esta draga está fundeada há dias no João de Tiba, creio que precisa de reparos).
Ontem à tarde fomos para a aula de canto que a Tininha, uma musicóloga amiga de Cláudia e de Léa, está dando de presente para as moradoras. Minhas colegas são,da esquerda para a direita: Marilza (só dá pra ver o pézinho dela...), a  Helenita, Gilma, D'Ajuda, (a cadeira vazia era a minha), Luciana, Vera, Noélia, Ana, Grace, Lola e Cláudia. Depois chegaram a Regina, a Vivien e a Patrícia. Uma delícia! Hoje tem mais, às 4 horas da tarde, lá no IASA.

notícias dos moradores

Hoje é o aniversário do Amadeo! Cumpleaños e forró no Cabana Nativa, à noite. Ôba!
Albertino enviou duas fotos de presente: uma do carro que usa lá em Sondrio (Lombardia)...

... outra da Paloma, escondida na amendoeira defronte ao Sant'Annas (obrigada!)
Ontem à noite recomeçamos as sessões do Cine Cajueiro, com um mega-lançamento,  o filme de animação "RIO".  E na próxima sexta, às 20:30, será a vez do premiado filme dinamarquês "EM UM MUNDO MELHOR", na parceria com o Restaurante Casapraia, naquela sala gostosa onde o som do mar faz parte da trilha sonora...Não perca, quem estiver aqui, o filme é ótimo.
Vera Zippin e Grace conversando e curtindo a luz silenciosa da tarde ribeirinha. Grace é a mulher de José, o gerente do Costa  Brasilis
Deixei de fumar... mas todo o resto do 131 continua valendo (recado para meu lindo)
Boas notícias da parte de Elisa: os amigos se mobilizaram (Maninha, Marília, Ana Massochi) e conseguiram colocá-la em contato com o Dráuzio Varela. Tudo indica que ele vai ajudá-la a realizar a cirurgia. 

segunda-feira, 25 de abril de 2011

travessias

Menos de duas horas de vôo é a distância que me separa da vida na cidade para a vida no povoado -- a travessia, porém, é mais profunda do que parece.  O que lamento deixar para trás são os encontros com a família, com os amigos, a  rica gastronomia, e as oportunidades de desfrutar da efervescente vida cultural de São Paulo. Peças de teatro, recitais, concerto, exposições e mostras, tecnologia de ponta... O que sinto alívio de deixar para trás é a gigantesca frota de automóveis e ônibus, os batalhões de moto, a orquestra contínua de barulhos urbanos etecetera... O bairro acima, o Pacaembu, é um  exceção: com mais espaços abertos, mais árvores...  Enquanto isso, em Santo André, o mundo é verde...  Ainda na travessia da balsa, já sinto a sensação de bem-estar, de paz... Descer do edifício para o quintal faz um bem!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Despedindo de São Paulo


aeroporto de Guarulhos
O próximo sábado é dia marcado na agenda para  mudar de endereço (novamente); acordaremos na capital paulistana e adormeceremos na Vila de Santo André da Bahia.  Tem sido nosso modo de vida nos últimos anos,  trocar, a cada dois ou três meses, a roça pelo asfalto, bicicleta por metrô, a cabana nativa pelo arranha-céu -- usar sapatos, nos pés acostumados às havaianas... Um movimento pendular que nos permite viver no dia-a-dia de um povoado no litoral baiano e transitar com regularidade numa das cidades mais populosas deste planeta. Dá um pouco de trabalho, e é preciso flexibilidade e capacidade de adaptação rápida, mas a experiência tem sido boa...  As malas estão abertas em cima da cama – como de costume, a do Cláudio já está organizada "ao ponto", enquanto a minha aguarda providências... Vamos nos despedindo da vibrante vida cultural de São Paulo... Por sorte, deu tempo de ver a exposição do Escher, numa sessão só para convidados, na véspera da abertura oficial. Ganhamos os convites da Geno Riva, uma amiga que conhecemos em Santo André. O Caio foi conosco e ainda encontramos a Malu.  Maravilha: boa companhia, o belo prédio do Centro Cultural do Banco do Brasil e uma exposição que vem batendo todos os recordes de visitação:  mais de 800 mil pessoas foram visitar as obras e instalações interativas, em Brasília e no Rio de Janeiro.
Foi uma oportunidade única de conhecer o trabalho fantástico deste artista gráfico – as obras não serão emprestadas pelo Museu Escher (Holanda) durante os próximos quatro anos. O curador explicou que quando as obras ficam expostas por muito tempo, a incidência das luzes pode vir a esmaecer as cores. O objetivo do artista, ainda segundo o curador, era que as pessoas parassem em frente à obra e duvidasse dos próprios olhos. Ele conseguiu: é intrigante tentar desvendar os efeitos que geram as ilusões óticas,  um traço marcante no trabalho do artista. Em uma das instalações, por exemplo, a gente olha  para o interior de um cômodo através de uma janela e vê os objetos colocados em seu devido lugar; em seguida, olhando de outra janela para o mesmo ambiente vemos as coisas flutuando no ar, como se a força da gravidade não existisse..Uma terceira janela aparece pelo lado de dentro do cômodo, mas desaparece do lado de fora... Fascinante, divertido. Adorei.
essa foi a foto-clichê da Mostra do Escher... milhares de pessoas têm uma igual

os últimos instantâneos de São Paulo

sendo pedestre em São Paulo bato muita perna na rua, o que me faculta o privilégio de curtir os cantinhos da cidade, como estas casas que ficam num beco que sai da Alameda Lorena... são as vilinhas do lugar...
os prédios de nomes curiosos
os passeios desta vez incluíram até uma visita ao Museu do Futebol, que fica no Estádio do Pacaembu
onde achei referência ao futebol baiano...
as feirinhas que gostamos de visitar nos finais de semana...
lembranças boas das refeições compartilhadas com a família e os amigos
sentirei falta dos shows musicais ao vivo... como o da Tiê, ontem à noite no teatro do SESI
e das exposições de arte... esta foi na Caixa Cultural da Praça da Sé, o fotógrafo é o German Lorca

terça-feira, 19 de abril de 2011

Comer o quê em São Paulo?

Gastronomia, segundo o Aurélio, é a arte de se regalar com finos acepipes.  Um ramo antigo do comércio do prazer que virou fashion nas últimas décadas e não para de crescer e de se especializar. Cursos de gastronomia foram introduzidos nas universidades, criaram-se guias de bares e restaurantes, os festivais gastronômicos se espalharam pelo país (Restaurant Weeks, por exemplo) e alguns chefes de cozinha viraram (ou ganharam) estrelas.  Além disso, cozinhar caiu na mesa e no gosto da velha e da nova classe média – cada vez mais as pessoas estão colocando os amigos em torno da mesa. Hoje mesmo minha filha me disse (via FB) que havia preparado sua primeira Margherita.
Parêntesis
O quitute ganhou este nome em 1889, quando os reis italianos Umberto I e Margherita estavam passando uma temporada em Nápoles e quiseram experimentar o prato sem necessariamente ir até a pizzaria – não ficava bem para a nobreza.  Pediram para a pizza ser entregue em casa – vai ver, o delivery é invenção italiana.  Para agradar ao casal real, o pizzaiolo cobriu a pasta com queijo muzzarela, tomate e manjericão, ingredientes que trazem as cores da bandeira italiana. A rainha adorou – e acabou virando nome de pizza.
Todo esse preâmbulo para comentar sobre um ou outro restaurante paulistano que conheci nesta temporada de “férias na cidade”. Um deles foi o “Arturito”, um local que ganhou dois títulos no almanaque “Comer e Beber” da Veja – o de melhor restaurante de cardápio variado da cidade, e o de “chef do ano” para a argentina Paola Carosella, responsável pelas badaladas delícias do lugar.  Olha só como as opiniões são relativas: a matéria da revista citava a envolvente atmosfera à meia-luz, mas como fui comer lá na hora do almoço -- e o dia estava glorioso -- achei o ambiente mal iluminado, impressão acentuada pelo tom chocolate das paredes. Prefiro comer no claro -- especialmente em dias luminosos – então escolhi sentar numa das mesas que se alinham na estreita faixa do restaurante que não tem cobertura para o exterior -- uma espécie de  mesa com teto solar. Dá para ver um pedacinho do céu e os galhos de uma árvore debruçada sobre o telhado. Adorei a graça do toque outonal da natureza: duas ou três folhas secas rodopiaram e caíram ao lado de nossa mesa... O atendimento do staff da casa foi simpático na entrada e distraído nos longos minutos seguintes.  Não havia público suficiente para justificar aquela demora e o solene descaso dos garçons e da hostess que passavam pressurosos demais para nos dirigirem a palavra; finalmente a fome e a sede me fez interpelar um dos garçons com mais  firmeza. Na sequência o atendimento foi gentil, exceto quando recusamos o couvert -- quase sempre sinto um desdém sutil no ar quando o cliente descarta beliscar antes da refeição.  Comer pedaços de pão (por melhor que seja) com manteiga ou azeite, mesmo temperado com ervas finas, invariavelmente estraga meu apetite para o prato principal. E acho que não é preciso justificar – deve-se deixar o cliente à vontade para decidir. Meu pedido foi um prato de peixe – anchova fresca acompanhada de purê de berinjela assada, dill e coalhada caseira.  Tudo estava  saboroso, com um único senão: além da coalhada caseira, veio uma espécie de maionese que deixou o prato muito rico em gordura.  Acho que um pedacinho ou dois da velha e boa batata inglesa cozida deixaria o conjunto mais equilibrado (ou cenouras, para colorir o prato). Meu filho pediu (e adorou) a barriga de porco acompanhada de confit de erva-doce e cebolinha cozida na manteiga. Cebolinha aqui, porque lá era échalote.
Parêntesis número 2
Confit é um termo usado para indicar a preservação de carnes (na própria gordura) ou frutas e legumes (no açúcar).
Échalote é uma planta da mesma família da cebola que também é conhecida como ascalônia, cebola-miúda, cebolinha-branca e charlota-das-cozinhas. É largamente utilizada na Europa; sua origem é a região da Palestina. Veio para a Europa na época das Cruzadas.  O sabor é bem parecido com o da cebola, apenas um pouco mais doce.
A sobremesa foi um crepe fininho de doce de leite com laranja: perfeito no adoçamento e no realce cítrico. Por fim, a conta tinha dois erros: colocaram o couvert que recusamos e não cobraram as águas consumidas. E veio destemperada – desproporcionalmente caro, particularmente o preço do vinho.
Outro restaurante que fomos por indicação de uma amiga é o Le Jazz, em Pinheiros. Para ser breve: uma brasserie descontraída, apinhada de gente, burburinho,  música boa.... Os banheiros são parisienses no tamanho minúsculo, parecem uns armários – o feminino tem uma foto divertida.  O menu é variado e os preços plenamente compatíveis com a comida, inclusive os dos vinhos.
Não é alta gastronomia, mas é um lugar para voltar simplesmente porque saí de lá contente.

sábado, 16 de abril de 2011

Um amor de médico

Sexta-feira à noite, em São Paulo City. Bem que tentamos, mas as reservas no restaurante escolhido para o jantar estavam esgotadas. Frustrados, telefonamos para outro lugar de comida e bebida que gostaríamos de conhecer. Inútil chamada, não havia nem uma mesinha sobrando, por todo o final de semana.  Peças de teatro ou espetáculo musical mais procurado? Fica difícil, se for decisão de última hora. São Paulo exige planejamento, logística, caso contrário você pode acabar na frente do computador atualizando seu email (ou tuitando, ou...)
Foi o caso, ontem. Desisti de procurar alternativas para o Thank God  It's Friday.  Até porque passara horas cansativas na cadeira do dentista e outras mais no consultório do cardiologista. Essa função médica é particularmente presente quando estou em São Paulo, já que meu plano de saúde não cobre a região onde moro, na Bahia. Então quando venho para  cá, faço checape de tudo.  Fui procurar no arquivo do blog e achei posts mais antigos, de visitas a médicos paulistanos. Vou repeti-los....estão sintonizados com o momento.
Quarta-feira, 18 de março de 2009.

Cheguei ensopada no saguão do prédio do meu médico. Dirigi-me ao balcão de identificação, passando a mão pelas gotas d’água que escorriam pelas mangas do casaco, disse onde queria ir e entreguei meu RG para o atendente magricela de terno cinza, óculos (e dentes) amarelados. Distraído, digitou errado o número da minha carteira de identidade no computador. Questionou o fato de serem apenas seis dígitos; expliquei que o documento era de Brasília e da década de 70, por isso a numeração baixa. Por fim, ficou tentando me convencer de que eu não era eu.
Cheguei ensopada e atrapalhada na catraca de  acesso aos elevadores do prédio do meu médico. Provei que sou eu mesma, depois de digitado o número certo. Mesmo assim fiquei nervosa e deixei cair tudo das mãos: bolsa, guarda-chuva, a pilha de exames e o crachá de visitante.
Cheguei ensopada, atrapalhada e atrasada na sala de espera do meu médico. Ele estava mais atrasado do que eu: nem sequer havia chegado à clínica. Acho que é por isso que eles deixam a televisão ligada ininterruptamente, bem em frente às cadeiras onde nós, os pacientes pacientes esperamos. Naquele dia estava no ar o espetáculo de um circo oriental, monótono e hipnotizante – o principal arranjo da trilha musical era o som de sininhos de vento.
Saí ensopada, atrapalhada, atrasada e sonolenta do consultório do meu médico.
 O segundo post foi escrito em 9 de maio de 2009.  
------------------------
Acordei com o barulho forte de uma porta batendo, dentro do apartamento. Olhei para fora, vi os galhos das árvores se torcendo incessantemente e escutei o delicioso zunir de uma ventania. Deu vontade de voltar pra cama, mas eu tinha consulta marcada. Era a primeira vez nesse médico, no entanto não tive dificuldade para encontrar o consultório, uma casa amarelinha, de dois andares, no bairro do Paraíso.
A sala de espera fica no andar térreo, no de cima estão os dois médicos, da mesma especialização, sendo uma mãe e o outro, filho.
Quando chamaram meu nome, subi os degraus para encontrar um homem vestido de branco, sorridente, com minha ficha na mão. Esclareço que omito nomes e minto sobre os lugares, pois a história é verídica, ou pelo menos tão verídica quanto permite a memória – uma fantástica ilusionista,  como todo mundo sabe.
-- A senhora nasceu na mesma cidade que minha mãe, disse, à guisa de saudação.
Antes da consulta, trocamos histórias e referências. Pelo interfone, perguntou à mãe dele – que atendia  no consultório ao lado – o nome do colégio que ela havia estudado. Era o mesmo que eu frequentara, e só podia ser: era o único colégio bom da cidadezinha onde nasci,  administrado por freiras da congregação “Filhas do Amor Divino”.
Quando saí da sala dele, olhei de relance para a plaquinha com o nome na porta do consultório da mãe, minha conterrânea.  Parei ali mesmo, no segundo degrau, estupefata. Reconheci o nome e o sobrenome: só podia ser ela. A memória explodiu em dados, sei lá se precisos são. De qualquer maneira, o que lembrava era que na juventude, aquela senhora fora noiva de um homem bem conhecido na cidadezinha – faziam um par harmonioso.  Não eram casados, mantinham um longo namoro, há mais de 10 anos. As pessoas, maledicentes, diziam que noivado longo nunca dava em casamento. Estavam certas...
Num dia de carnaval, surgiu outra mulher, também do ramo da medicina, ainda não se formara, estudava no Rio de Janeiro.  Mariana era bonita à beça, esguia, longilínea e de cabelos tão macios e brilhantes que a inveja das outras garotas era incontornável.
Nós brincávamos no mesmo bloco de carnaval, o “Simpatia é quase amor.” Lembro até das fantasias que vestimos naquele ano. No primeiro dia saímos de saci pererê –  uma perna da calça vermelha e a outra preta, o rosto pintado, preto como carvão. Na terça-feira gorda, vestimos o nosso melhor trunfo (havia competição entre os blocos), uma roupa de escrava grega, curtinha, com correntes douradas nos braços e nas pernas, bem ousada para a época e para aquela sociedade provinciana. Foi nesse dia da fantasia de escrava que a minha amiga de folia fugiu com o noivo da médica que eu reencontrava agora, décadas depois. Quer dizer, eu nem cheguei a rever Laurinda, só vi o nome dela na placa de metal presa à porta do consultório. Ela por certo casara com outro, teve filho (o meu médico). A minha amiga do antigo carnaval casou com o ex-noivo dela – depois de passar a noite de núpcias vestida de escrava. Era o costume por lá – fugiu, tem que casar.
Nunca soube o que acontecera com a noiva preterida até aquele dia, quando vi o nome dela em letras brancas na plaquinha de frio metal azul. Meu coração disparou, parecia que um raio havia me atingido, como se diz nos romances sentimentais.  Afinal, aquela história causara um tsunami  de comentários na pequena cidade do interior, onde morávamos. Sempre que encontrava alguém de lá, mesmo depois de décadas, ouvia ecos da história do noivo fujão.
Fiquei ali parada, do lado de fora do consultório, atordoada, pois junto com a  história do trio, veio o efeito madeleine, esparramando fios de memórias e lembranças esparsas pra dentro de mim. As estórias de amor sempre me comovem, tocam o coração, mesmo as malfadadas.
Por via das dúvidas, amanhã vou marcar hora com o cardiologista.

---------
foto do gatinho (Tiago Dória), ilustração da mulher dançante (Vânia  Medeiros)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Elisa, Leide e as jóias da floresta

No final da semana passada,  180 ateliês da Vila Madalena abriram suas portas para exposições de obras inéditas, atos performátcios, cursos e números musicais. O evento mistura artistas e visitantes através da "Arte na Vila".  
Cláudio e eu fomos até lá para encontrarmos com Leide e Elisa (mãe e filha). Elas são lá da nossa Vila de Santo André. Estavam expondo as peças de bijuteria que produzem com material orgânico (e design bonito) no ateliê da ceramista Sara Carone.
No dia 19 de abril, terça-feira próxima, as duas estarão vendendo as jóias da floresta, no restaurante Martin Fierro, à Rua Aspicuelta,  683. A partir das 18hs.
Durante o encontro, ficamos sabendo de uma notícia preocupante: Elisa está enfrentando um momento de saúde frágil. Vai precisar se operar com urgência para a retirada de dois tumores do seu organismo. Além do problema de saúde, ela precisará ficar sem trabalhar por pelo menos dois meses após a cirurgia. Tomo a iniciativa de avisar que se alguém quiser ajudá-la, seja comprando as bijuterias ou de alguma outra maneira, que entre em contato com ela através do email elisamawu@yahoo.com.br   Muito obrigada.

Andar na rua em São Paulo

Rua Pamplona, esta semana, por volta das 8 da manhã. Estava voltando de um laboratório da Avenida Brasil quando deparei com esta estranha maneira de estacionar um carro.

Feirinha de antiguidades da Benedito Calixto
Membros da comunidade síria fazem protesto na Avenida Paulista
Quase todo dia quando vamos para a estação do metrô, nós encontramos com esta estátua de São Jorge, perto do posto de gasolina. Ela muda de lugar... hoje estava perto da árvore da pracinha

Placa no portão do Cemitério da Consolação... e será que alguém atende?

visão parcial de uma obra de arte plástica feita de plástico
o homem de negro: figura da avenida paulista

Vôos de Milão para Porto Seguro e Salvador

Marina Luna Sacchi (na foto com a filha Gaia) está trabalhando na agência de viagens Interlandi, de Porto Seguro e avisa aos interessados que os vôos de Porto Seguro (ou de Salvador) DIRETOS para Milão já voltaram a operar. Os bons preços (ofertas) são por tempo limitado.
Informações:        
Praça da Bandeira, 100. Ed. Casa Grande, piso superior, sala 04. Centro – Porto Seguro / BA
Fone: (73) 3575-1765 - Fone / Fax: (73) 3575-3632 – Plantão: (73) 9191-1255
ou pelo email         
reservas@interlandi.com.br