quinta-feira, 29 de abril de 2010

os pescadores de Santo André

Há muitos pescadores aqui no povoado, sendo que dois deles são tão assíduos que chegam a se confundir com a paisagem, Seu Oliveira e Seu Jonas aparecem na praia seja lá qual for o tempo ou a estação
é todo santo dia de caniço na mão

trabalhando em equipe



Chegado o momento de começar a passar a resina no veleirinho made in Santo André, surgiu uma ajuda inestimável da parte do Carlindo e do Rômulo.
Carlindo sabe tudo sobre resina e sua aplicação naval. Ele deverá ser o futuro professor dos alunos de vela da Vila.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Karkaju Pataxó - Em defesa do nome


Chegou um comentário diferente, bem que gostei. É alguém que defende o seu nome, sua identidade. Foi enviado ontem sob um post do ano passado ("Um Natal diferente", de 14.12.09):
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"Olá,
Sou Karkaju Pataxó da Aldeia Pataxó de Coroa Vermelha, fiquei surpreso ao colocar meu nome no site de busca do google e vi este blog super trabalhado e cheio de fotos lindas, mas minha surpresa foi encontrar um outro índio usando o nome Karkaju, não sou o dono do nome, mas sou muito conhecido nacional e internacionalmente por este nome, seria possivel que quem postou trocasse o nome do outro índio deixando só o nome dele, Wanderlei?
Pois como sou conhecido por Karkaju e nas aldeias pataxó só há um Karkaju que sou eu, fica muito chato que isso aconteça.
Saudações Pataxó!!!
Karkaju Pataxó "
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Saudações Pataxó, Karkaju!
Olhe, seu pedido já foi atendido, sem problemas.
Agora foi minha vez de entrar no Google para lhe procurar. Achei uma página com esta foto... é você, Karkaju?
Vi que você participa de um projeto etnoecoturismo indígena, desenvolvido pelo seu povo no distrito de Coroa Vermelha, em Santa Cruz de Cabrália. Fiquei pensando se é aquele da comunidade da Jaqueira. Qualquer hora vou passar por lá para conhecer, se é possível.
Bem, segue um abraço daqui de Santo André!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

fotomomento

crianças de Santo André
pedacinhos do veleiro secam ao sol (ver postagem abaixo)
Zinácio em ação: desbastando as helicônias
a garotinha de Santo Antônio

domingo, 25 de abril de 2010

como construir um veleirinho

Um barquinho está sendo construído aqui em Santo André, bem ali ao lado da igrejinha católica e a história dele vale a pena ser contada. Tudo começou com o Radoslaw, um velejador polonês que imaginou e desenhou detalhadamente um modelo de barco pequeno (Pram 2.6) que é bem legal para ensinar crianças e adolescentes a velejar. Em algum lugar do passado o projeto foi comprado por um velejador brasileiro do Sul do Brasil, o Fabiano Jacob, esse homem que aparece aí na foto mostrando o barco já pronto com as duas crianças. Em determinado momento, e por cortesia do Fabiano, o projeto veio parar nas mãos de Ronaldo Coelho, conhecido aqui em Santo André pela "caipirinha da Laurinda " e pelas ações de caráter comunitário e filantrópico que promove durante a temporada da Regata Costa Leste (a próxima será em agosto). Ronaldo teve a idéia de formar uma escolinha de velejadores-mirins em Santo André -- note-se que a Vila foi brindada com uma natureza apropriada para os esportes de vela, pois temos uma enorme enseada formada no encontro do rio João de Tiba com o mar, área protegida pelos arrecifes, uma bela zona abrigada. Isto coincidiu com uma idéia antiga do Cláudio e, num encontro que tivemos em São Paulo, os dois resolveram bancar a contrução do primeiro barco. Pretendem, mais tarde, quando o protótipo estiver pronto, sair à procura de padrinhos e madrinhas para o financiamento dos outros barcos, quem sabe uma meia dúzia.Ronaldo e Cláudio, discutem detalhes do projeto numa segunda reunião, em Maceió, na semana passada
De volta aqui em Santo André, Cláudio conversou com o pessoal da AMASA e conseguiu a adesão da entidade. A idéia é que uma vez formada a escolinha, sua administração passe a ser incumbência da AMASA. Quem tem contribuído demais com trabalho voluntário é o marceneiro Otton, os dois passam horas e horas trabalhando juntos. Diversas pessoas demonstram apoio, dão sugestões, passam para ver o andamento do trabalho... Mas voltando um pouco à história do projeto: tudo está sendo feito cuidadosamente, inclusive foi solicitada a autorização para a utilização do projeto ao velejador polonês que mandou uma mensagem muito simpática, concordando.O mastro do primeiro barco foi doado por um morador, o Juraci. É de pindaíba, uma madeira utilizada na construção civil, também conhecida por benjoeiro. Tem 5,80m, será preciso diminuí-lo para os 4,50 m que o projeto pede. Olha ele aí, encostado na sebe de nosso jardim

os irmãos Samuel e Emanuel apareceram para observar a construção do veleirinho e já demonstraram interesse em aprender a velejar

La Dolce Vita de Madona

discurso de um anarquista

Neste ano de eleições, o número de emails com mensagem política tem aumentado. Para fugir do padrão, li com calma uma mensagem de um amigo de Brasília, anarquista por convicção:
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"Reafirmo minha posição de anarquista: todo governo é imoral e, portanto, escolher entre este ou aquele candidato é escolher entre esta ou aquela imoralidade. Portanto, recuso-me a escolher.
Algum dos candidatos é contra a tributação? Eu sou. Então, nenhum dos candidatos me representa. A tributação, para mim, é roubo. É o estado, sem meu consentimento, apropriar-se do meu trabalho. Não admito isso. Os eleitores, obviamente, admitem. Então que continuem admitindo, achando ótimo que o estado se aproprie de parte do que eles produzem com o trabalho. Eu não, e quem achar que estou errado se manifeste, que tenho resposta.
Algum dos candidatos é contra as fronteiras nacionais? Eu sou. Acho que esse negócio de divisão em países é um contrassenso. Fronteira não existe. É invenção de burocratas. Todo mundo tem o direito de deslocar-se para onde quiser sem ter que atender a exigências territoriais.
E quanto ao voto obrigatório? O governo, ou o estado, exige que você se manifeste. E se você não tiver opinião? Azar o seu, terá que manifestar-se. Se eu não sei se é melhor Dilma, ou Serra, ou Marina, azar o meu: sou chamado a definir-me na urna (quem disse que tenho a obrigação de definir-me? Por que não posso ter o direito de ser uma pessoa atormentada pela dúvida?) . A incerteza é pecado. Todo mundo é obrigado a ter opinião definida."
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A foto, do fotógrafo francês Gautherot que acompanhou a construção de Brasília, mostra os operários (os "candangos") trabalhando no prédio do Senado Federal.

Pintando pesadelos: Marianna Gartner

Terminei de ler meu exemplar de "Lendo Imagens", de Alberto Manguel. É um livro interessantíssimo e oportuno para nossa época, onde as imagens ganham preeminência sobre a palavra escrita. O autor recomenda que o público leia as imagens como quem lê palavras. Assim, pinturas, esculturas, fotografias ou projetos arquitetônicos são examinados como narrativas, como histórias à espera de um narrador. São 12 capítulos, divididos por tema: "A imagem como filosofia... como reflexo... como teatro," etc. Surpreendi-me com os quadros de Marianna Gartner, uma pintora americana filha de pais imigrantes húngaros, que quando pintava subvertia o real, como se fosse um pesadelo. Por exemplo, no seu quadro Diablo Baby , acima, o menino parece "prender a respiração esperando que a câmera há muito desaparecida volte a lhe insuflar vida, como num conto de fadas". Poderia ser um bebê trivial, mas não é, porque a autora acrescentou o seu próprio comentário de pesadelo: "seus bebês flutuam, assumem os atributos de diabos tatuados, sentam-se em tapetes escarlates, são transformados de querubins inocentes em seres estranhos e pertubadores."
Meninos marinheiros foi pintado em 1999. Repare que o título da pintura está no plural, enfatizando a parelha. "O homem e o bebê são iguais neste quadro, o adulto prenunciado na criança, a criança iluminada pelo adulto." Outra obra dela que me chamou a atenção foi Quatro homens de pé, um grupo aparentemente inocente, mas que traz elementos desconcertantes como a presença de um homem mascarado, um pequeno troféu da parede mostrando uma cabeça de veado, ou o fato de que apenas 3 mãos são visíveis. Passa um sentimento ameaçador, de tensão contínua. "Os quatro homens são autosuficientes, livres de contexto, sem passado ou futuro, no pesadelo de um presente absoluto."
Toda imagem tem uma história para contar e o autor traduz para nós as narrativas ocultas nas artes desde a Roma antiga até o século XX. Esse livro é uma verdadeira galeria de sonhos, adorei.

sábado, 24 de abril de 2010

o comentário de Mônica

Acabo de ler este comentário da Mônica Paoletti a respeito da reportagem do Ricardo Freire no Estadão.
(aproveito para colocar a foto do novo pier da Vila, ao lado do restaurante Fragata)
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"Caro Ricardo, infelizmente "nem tudo são flores". Santo André é de uma beleza peculiar que cativa corpo e alma mas muitos são os espinhos.A construção do resort arrasou com a mata nativa e com as espécies silvestres e nunca houve uma reparação que desse conta da destruição; o comércio da praia é apenas a demonstração da pobreza educacional local e da falta de oportunidade profissional para os jovens nativos; as tendas pé na areia detonam a vegetação da restinga; o tal reveillon beach ball não foi nada inofensivo: foram 10 dias de festa dia e noite, a música alta incomodou a muitos, assustou e afastou as aves, e o evento todo foi liberado sem que se levasse em consideração o fato de estarmos numa APA e daquela parte da praia ser, reconhecidamente, área de desova de tartarugas.Tudo isso é tb importante considerar...embora não haja consenso entre todos os interessados em Santo André. Fui moradora de Cabrália e há 10 anos tenho casa em Santo André. Meu interesse é pelo desenvolvimento ordenado e respeitoso à comunidade e à Natureza. Procuro fazer minha parte: atuei em projeto social, emprego mão de obra local, pago impostos; procuro respeitar a Natureza em todas as suas manifestações."

sexta-feira, 23 de abril de 2010

de volta pra casa

depois das águas opalinas do mar de Maceió
e da agitação e efervescência cultural de São Paulo
é bom estar de volta em casa... lembro agora de agradecer a Maura, de Milão, pela mensagem tão carinhosa! Colei no meu quadro de memórias para me servir de reforço e alento quando me sentir desanimada ou com preguiça de editar o blog

Barrolândia, Bahia

Barrolândia quer autonomia política. Pera aí, gente, vamos lembrar que isto significa mais uma prefeitura, câmara de vereadores, funcionários públicos... Muito dinheiro do Estado para pagar estes salários todos.

"BARROLÂNDIA – Desde a noite de quarta, dia 21, que os moradores do distrito de Barrolândia interditaram a rodovia BA-275 que liga Eunápolis, Belmonte, Santa Cruz Cabrália e Itapebi. Segundo representantes da comunidade, a manifestação é um protesto contra a recente análise dos limites territoriais feita pelo governo estadual, que transfere Barrolândia do município de Belmonte para o de Santa Cruz Cabrália. A comunidade também está empenhada em defender a emancipação política do distrito."
Outra notícia divulgada pelos blogs da região: (redeimprensalivre)
"Pela terceira vez, os integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ocuparam, durante a Jornada Nacional de Lutas - que ocorre todos os anos no mês de abril –, a Fazenda Barrinha, da Veracel Celulose, em Eunápolis (BA). Ao todo, 600 trabalhadores rurais estão ocupando a fazenda desde quarta-feira (21). Eles denunciam ações ilícitas que promovem o crescimento dos plantios da empresa na região e cobram a desapropriação de terras devolutas.
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Ligação Belmonte-Canavieiras (Radar64)
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"BELMONTE - Para dar continuidade a integração da região sul da Bahia, os municípios de Canavieiras e Belmonte serão interligados por um novo acesso.
Serão investidos R$ 6,5 milhões na construção de uma balsa e de 34 quilômetros de estrada em cascalho, que compreende o trecho da BA-001 entre as cidades. A medida é em resposta a uma reivindicação de 47 anos feita pela população. O projeto final, em estudo pela Secretaria de Infraestrutura, está orçado em R$ 110 milhões, com pavimentação asfáltica e construção de duas pontes."
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Atualmente, não existe travessia para carros, só passageiros que se utilizam do serviço de voadeiras ou lanchinhas. (foto Ricardo Freire)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Santo André da Bahia saiu no "Estadão"

Ontem foi um dia de aviões: acordei em Maceió, almocei no aeroporto de Salvador e adormeci em São Paulo, onde estou agora, FELIZ DA VIDA: saiu uma reportagem de Ricardo Freire sobre o nosso povoado no caderno de Viagem do Estadão!
Começa assim:
"Santo André: para curtir sem pressa
Você desce no aeroporto de Porto Seguro, mas nem entra na cidade. Ao chegar à orla, seu táxi vira à esquerda, tomando a direção norte. Você vai passar por todas as praias de Porto Seguro, as megabarracas, o trânsito de ônibus de excursão. A última vez em que verá muvuca será em Coroa Vermelha, que atrai multidões com o encontro entre a réplica da cruz da primeira missa, uma feirinha de artesanato indígena e a enseada mais mansa de Porto Seguro.
Mas você passará reto. Só vai parar mesmo alguns quilômetros adiante, em Santa Cruz Cabrália, que leva mais jeito de cidadezinha do interior do que de balneário. É ali que seu táxi vai pegar a balsa para atravessar o Rio João de Tiba.
João de Tiba é um rio que tem nome de gente, um mangue vistoso e poderes extraordinários. Uma vez alcançada a outra margem, você terá deixado para trás praticamente todo vestígio de turismo de massa. Dali em diante tudo serão praias selvagens, construções discretas, mata, absoluto silêncio. Bem-vindo a Santo André da Bahia."
o resto da matéria está aqui
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E ainda traz a foto do Bacana, o barco do Cláudio.
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Além de fazer menção ao Rede Furada, de uma maneira tão gentil que me fez corar (não enrubesço desde os 14 anos de idade)
"redefurada.blogspot.com Olimpia Calmon tem uma casa em Santo André da Bahia - e mostra sua praia não como um jornalista que descreve um balneário para turistas em potencial, mas como moradora que revela a vida e os costumes das pessoas que vivem em um pequeno povoado à beira-mar. Não perca: é lindo demais"
(link)
(a foto do post é de Bruna Bohrer)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Alagoas, o litoral mais bonito do Brasil

o farol da praia de Ponta Verde
as meninas de Ipioca
curral de peixe
artesanato da Lagoa (fotos de Cláudio e Olímpia)

sábado, 17 de abril de 2010

deu no blog do Ricardo Freire

Eu havia acabado de colocar um post mínimo de Maceió, quando vi um feed do Ricardo Freire na minha telinha. Quando abri, quase caí da cadeira: é uma foto de Santo André!
E com o Bacana, o barco do meu marido!
O mesmo que está no cabeçalho do Rede Furada hoje.
Caramba, que legal.
Vou repetir, Ricardo Freire é o cara das dicas de viagens (daqui a pouco vou olhar as dicas de Maceió no site dele)
Amigos de Santo André, não percam, o post dele começa assim...
"Pela segunda semana consecutiva, a charada sai do trabalho que estou fazendo enquanto vocês pensam que eu estou vagabundeando. (A propósito: esta é a verdadeira história da minha vida.)
A foto que ilustra este post é do lugar sobre o qual estou escrevendo para a minha página no caderno Viagem & Aventura do Estadão, que sai terça que vem.
Creio que não posso dar nenhuma nenhuma nenhuma dica, ou a charada corre o risco de não se agüentar cinco minutos invicta.
Fiquem à vontade para chutar qualquer lugar onde vocês achem que essa paisagem pode caber…"
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o restante, vocês encontram aqui

Bom dia, Maceió!



Caros amigos:

O Rede Furada vai ficar alguns dias sem postagens. É que a zeladora do blog foi passear em Alagoas.
A foto é da Praia de Ponta Verde, onde estou hospedada.
Voltaremos para Santo André no final da próxima semana.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

o menino da praia

Saí de casa apressada, para caminhar na praia enquanto a tarde ainda existia. O tempo estava fresco e luminoso, um sol tímido e terno espalhava uma pálida cor amarela pela areia fofa e branquinha onde meus pés descalços afundavam; ao longe, as ondas arrebentavam na crista dos abrolhos. A paisagem estava espiritualizada, embora não houvesse vivalma até onde minha vista alcançava. Só o infinito do horizonte. Passei pela Ponta, dobrei a curva do rio e entrei na imensidão, aspirando com gosto o marinho do ar. Sempre que passo por esta parte da praia aguço os ouvidos para distinguir melhor a passagem brusca da mansa sonoridade que acompanha a margem do rio para o rumor forte que vem do oceano. Se há companhia, é preciso acrescentar algumas oitavas ao tom da conversa para sobrepujar o som da natureza. Passei pelas cadeiras e guarda-sóis vazios, pelos apetrechos dos trabalhadores da praia que já haviam se retirado; não há escunas com turistas nesta hora tardia.
De súbito vejo surgirem o menino e o cavalo – como uma aparição saída de dentro da restinga, eles emergiram da primeira trilha estreita que vem da avenida até a praia. Vinham cantando galope na beira do mar. Reparei que não havia sela, o garoto magrinho, trigueiro, se equilibrava altaneiro em cima de uma espécie de almofadão de cor malva indefinida.
Não reconheci o menino, talvez more em Santo Antônio. Passaram por mim como se invisível eu fosse, e continuaram a corrida, mudando o passo para o trote na altura do campinho de futebol de areia. Aquela inopinada visão me intrigou, amainou meu passo e finalmente me fez estancar e dar meia-volta para rever a destreza do infante cavaleiro – devia ter uns doze ou treze anos. Voltei sobre meus passos esperando dar de cara com eles a qualquer momento – o que não aconteceu. Percorri todo o caminho de volta até chegar aos degraus que separam o final da praia do acidentado percurso que nos leva até a Vila – acho que cavalo não sobe escada, mas poderia ter subido pela rampa que está ao lado. Nem sinal do cavalo, nem do menino. Teriam se enfiado no mato? Ali não há vista de picada. Teriam entrado na pousada do Rogério? Não parecia provável. Foram para o povoado pelo paredão que serve de dique? Arriscado: de vez em quando alguém desaba no braço de mar. Acabei desistindo de encontrá-los, sem imaginar que voltaria a ver o garoto naquela mesma noite, quando me dirigia para a pizzaria da vizinha. Estava sentado com garbo numa das estacas de eucalipto que separam a lojinha da Mônica da rua. Aproximei-me para matar a curiosidade que me espicaçava – ele se chama Iago! É o segundo menino com este nome que encontro em Santo André. Será que ele sabe a força e o peso que este nome traz? Não importa: quem precisa de Shakespeare quando se tem a liberdade de cavalgar um cavalo à beira-mar?
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Em tempo: eles subiram a rampa e seguiram margeando a cerca da Pousada da Ponta até atingir a rampa lateral ao restaurante Gaivota, feito que só comprova a destreza do garoto na condução do animal
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Dedico esta croniquinha a um garoto igualmente encantador que mora em Milão, mas é baiano por nascimento e tem casa em Santo André. O nome dele é Alfa.

meninos de Santo André

Igor, o filho mais velho de Andréia
Rian, Luísa e João Lúcio
Os mini-espectadores do Cine Cajueiro, em sessão recente.
Quando começamos o projeto de passar filmes na rua para a meninada de Santo André, Ian, o pequeno em primeiro plano, ainda estava na barriga da mãe dele, a Janaína. Toda quarta-feira ele aparece, na maioria das vezes adormece no meio do filme.

três momentos de Rublev


Andrei Rublev foi um monge-pintor de ícones do século XV que inspirou Tarkovski (o cultuado cineasta russo) a realizar um de seus primeiros filmes. Embora tenha tentado, nunca consegui ver este filme, mas achei uma matéria na revista de cinema Contracampo, de onde retirei o seguinte trecho:
"A realidade medieval russa, vista pelo monge, é sórdida, violenta, cruel: as invasões tártaras que destroem a cidade de Vladimir, os ritos pagãos na floresta que aniquilam a fé, os ciúmes do assistente Kirill quanto à arte do mestre, os desmandos da nobreza feudal que oprime os camponeses, a jovem que se entrega aos soldados de ocupação. Abalado por este profundo caos e pelo conhecimento abjeto que ele dissemina, Rublev se perde, mata um homem, iguala-se à barbárie que o cerca."
Esses dias li um tweet de um amigo de Brasília falando (em 140 caracteres) de Rublev... e me lembrei do antigo desejo de ver este filme. Coloquei um comentário no blog dele (chama-se Piero Eyben, foto) e hoje tive a alegria matinal de achar este poema-presente

rublev, para olímpia


tempo ancorado em ouro
ainda o caule d'água faz-
se pó e selo: o risco quase
rasura _
(o restante do poema, você encontra aqui)
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(Piero, obrigada!)

dois momentos de Guiomar

O Rede Furada recebeu dois comentários poéticos de Guiomar, uma moradora de Santo André que -- infelizmente -- precisa trabalhar em São Paulo (Guiomar é "a nossa juíza").
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"Cinza em São Paulo. Sexta-feira úmida.
Do alto, vejo o branco, o vermelho e o preto dos carros que carregam pessoas que têm pressa de algo.
A sirene da ambulância me faz lembrar a música de Karina Buhr:
A pedra, o pé descendo a rua que cobre a pedra,
Embaixo dela a terra,
embaixo da terra o céu de novo.

Sentindo a lentidão do dia há dias lentos demais

Não sinto, não tenho vontade, não agüentaria
O céu embaixo das nuvens, a terra por baixo do asfalto
O centro da Terra que puxa a gente,
a gente pula contra a vontade do chão.

Contra a vontade do chão, a gente segue resistindo a políticos, jogo baixo, poluição, carências, mentiras. Embaixo das nuvens, a gente segue crendo na arte, no talento, no ato gratuito.
Fazer o que? Só nos resta ser gauche na vida."
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"SONS
O cão.
O carro. A Paulista,
O futebol e o final de tarde.
Domingo.
A grappa.
Solidão.
O barulho seco do líquido no vidro.
Poderia por o disco
Martha Argerich
Chopin, 1965.
Mas hoje é domingo.
Vou por
Orides, Fontela:
A estrela da tarde está
madura
e sem nenhum perfume

A estrela da tarde é
infecunda
e altíssima
Depois da estrela da tarde

só há:

o silêncio."
(fotos da cantora Karina Burh e da poeta Orides Fontella)
obrigada pelas contribuições, Guiomar!

o pacote da CVC


Vi no "Estadão" (cheguei em São Paulo há dois dias) que a CVC está oferecendo pacotes turísticos de 8 dias no resort Costa Brasilis, situado em Santo André.
O preço é R$ 1.498,00 no sistema de tudo incluído (passagem aérea, translado para os aeroportos, hospedagem e todas as refeições).
Que pena! Esse tipo de turismo all inclusive exclui os restaurantes e bares da comunidade. O pessoal que trabalha na praia também não se beneficia da chegada dos visitantes, que preferem ficar dentro do resort, já que tudo está incluído no preço. Os turistas também perdem a oportunidade de conhecer a pequena, mas interessante e variada culinária local. Além disso, tendem a não passear no vilarejo, deixando de ver a graça do lugar.
Até pouco tempo atrás, o pacote incluía o café da manha e apenas uma refeição -- isto fazia com que os turistas saíssem para jantar ou almoçar na cidadezinha.
Mudou, porquê?

segunda-feira, 12 de abril de 2010

o sonho começa a tomar forma

desde que o velejador Ronaldo Coelho deixou um projeto de barco (um veleirinho similar ao optimistic) na mão do Cláudio, ele não pára de estudá-lo, passa horas a fio medindo e decifrando o formato das peças
e olha só, o casco já foi cortado!
quem está participando ativamente do projeto é o Otton, um dos marceneiros de Santo André... Cláudio desenha, explica as junções e Otton faz os recortes... os dois estão trabalhando numa parceria ótima, a idéia é fazer o primeiro barquinho a tempo de apresentá-lo aos velejadores que virão em agosto, como participantes da regata Costa Leste. O sonho é construir dez, para fazer a primeira escolinha de vela daqui.

com açúcar e com afeto

Esta semana recebi a visita de Luciana Wiz, uma psicanalista paulista que está morando em Santo André desde meados do ano passado (na foto está de costas, no novo cantinho da cidade, a doceria da Ronira).
Luciana trouxe em mão um comentário para o blog, olhem só que gentileza, trancrevi o que ela escreveu:
"Olimpia, por várias vezes tentei deixar alguns comentários para você, mas minha incapacidade tecnológica não permitiu, então queria lhe dizer que a imensidão de sua cabeça pensante é fantástica e traz sempre uma grata surpresa... o inesperado passeia com sua rica diversidade, não só intelectual como humana e esta mistura é deliciosamente intrigante...
Como comentei com você, vou participar de uma antologia poética que será lançada na Bienal do Livro em São Paulo. Segue um dos poemas, em primeira mão

Na hora da rua vazia
fazia silêncio, lá fora.
recolhida para descansar
não conseguia disfarçar um certo burburinho interno
na verdade críticas e aplausos
se indispunham.
Sabe o que é?
é que coração tem vida
e a gente insiste em ignorá-lo
e, aí feito criança, ele faz birra
e arruma umas horas estranhas
para se mostrar
choraminga tantas histórias
que o Passado, Presente e Futuro
solidários se fazem confidentes
e me impedem de descansar.
Por fim meu coração, apenas confessa
que está louco para me conhecer."
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além da doceria (cheia dos quitutes da Gilma), a Ronira administra a pequena pousada que fica atrás da loja, são 4 suítes novinhas, duas delas com vista para a enseada

e quando é que vocês vão voltar pra casa, hem?

desde que Stefano foi para Milão, os raviolis sumiram do povoado; foram atrás das matricianas
Paloma, aproveite bem a Europa porque sua mãe já está choramingando de saudades. Ela, Jade, Patrick e o Jequitinhonha (pergunte ao seu pai o que é isto), mas já vou lhe dar uma dica: é um dos maiores rios brasileiros, passa lá em Belmonte e está atrás de você, na foto