quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

a música do Kléber Albuquerque



O verão aponta, a casa vai ficar cheia (a praia também)

... e a zeladora do blog tem uma montanha de livros para ler.

Voltamos em fevereiro de 2009.

Para os que passam por aqui, desejamos, nas palavras do músico Kleber Albuquerque

“Que os ventos soprem sempre a seu favor
Que você encontre a cama feita,
A mesa farta,
A casa em festa
Que a boa estrela grude no meio de sua testa
E que o mal tenha paredes de isopor.”

O último remix do ano

Começa com o Bacana, agora em novas cores.
Cada dia mais bonitos, o barco e o
capitão.
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Passa pelas crianças




As conhecidas (Moisés e Filipe), em cores
E o anonimato dos miúdos, em preto e branco

pelo "Projeto Faísca"


É como eu o chamo.
Meu filho (o mais alto) e seus colegas da engenharia chamam de
"Controle de Sistemas Automotivos. Ênfase: Ignição"

Por Gonçalo M. Tavares

"A CIDADE investiu tudo na constru-ção de uma imponente catedral. Ouro, pedras trabalhadas, tetos pintados pelos grandes pintores do século.
Para valorizá-la ainda mais, decidiu-se dificultar o acesso. O que se atinge com facilidade deixa de ter valor, filosofava com esforço um determinado político.
Construiu-se então um labirinto que era o único meio de chegar à catedral. O labirinto foi tão bem feito que nunca ninguém conseguiu encontrar a passagem para a catedral.
O labirinto transformou-se na grande atração da cidade."

Por Bernardo Carvalho


Em "O sol se põe em São Paulo" (embora a maior parte do romance decorra no Japão).
Aqui, sobre uma particularidade do teatro Kyogen, do século 14, um estilo cômico constituído de curtas encenações que são normalmente apresentadas nos intervalos de apresentações de teatro nô.
"Explicou que a peça da raposa fazia parte da formação do ator de kyogen. Era um clássico. Os movimentos que o ator tem de fazer para encarnar a velha raposa são a prova final antes da profissionalização. A raposa é um papel que o ator tem de fazer até os vinte e cinco anos e do qual jamais esquece. A raposa surge primeiro na forma de um homem, antes de se revelar como raposa. É essa a grande prova para o jovem ator. Interpretar, em forma de gente, sem máscara e sem fantasia, a raposa. O grande ator é o que consegue interpretar, apenas com os movimentos, o espírito da raposa num corpo de homem, aquele que consegue fazer o público entender que ele é a raposa, sem que haja nenhum artifício, sem a necessidade de máscara, antes mesmo de reaparecer vestido de raposa."


Bernardo Carvalho (2)



"Por mais longe que você vá, por mais que tentem confiná-lo a um papel e a um lugar que não são seus, você leva sempre as máscaras consigo.
No fundo, todas as máscaras confirmam quem você é."

Pela denúncia


"Anorexia"
Vítima da imposição das indústrias da moda, da alimentação (produtos "lights"), das academias...

E fecha com Tomaso e Matteo em Santo André


Praia das tartarugas

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O rio João de Tiba vai bater no mei' do mar



Foto denis lara, em
http://www.brasil35mm.com
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No passado foi chamado de Sernampetiba, palavra de
etimologia índigena que significa "rio com muitas ostras"; hoje, ele se chama João de Tiba: ganhou esse nome por oralidade, ou seja, pela via da tradição. Dizem que viveu em suas margens um português (que não é citado na História), que morava em meio aos índios e conhecia bem seus hábitos e língua. Não se sabe se o caputo (como se diz em Angola), era um náufrago, um degredado ou algum colono trazido de Portugal por Pero do Campo Tourinho, o donatário da Capitania Hereditária de Porto Seguro.
Só sei que de alguma maneira este personagem, fictício ou real, deu seu nome ao rio.

O rio João de Tiba nasce na Serra dos Aimorés, a 135 km de distância, na divisa da Bahia com Minas Gerais e desemboca exatamente aqui em Santo André: o encontro do João com o mar é minha vista predileta. Perto de Eunápolis há um trecho que recebe o nome de rio Santa Cruz, graças à usina homônima que havia naquela cidade. Vital para a cidade de Santa Cruz Cabrália e para o distrito de Santo André, seu estuário é bastante piscoso e abriga enormes manguezais. Uma das atraçoes turísticas da regiao, com passeios realizados em embarcações do tipo chalanas, escunas ou pequenos saveiros.

A Marinha e as mulheres


Esta semana Cláudio está pegando a balsa diariamente; dirige-se à Cabrália, na outra margem do rio João de Tiba, para fazer um curso de navegação ministrado por militares da Marinha, numa loja maçônica que fica ao lado do Banco do Brasil.

O curso é necessário para conseguir a carteira de pescador profissional. Desde Brasília temos (ambos) as carteiras de arrais, lembrança física da época do veleirinho que compramos para navegar no lago Paranoá; esse documento agora não serve mais, porque o Bacana é próprio para navegação em mar aberto. Serviria, se fosse para barco de mar interior, a faixa d’água de 4 ou 5 milhas a partir da costa para o mar profundo, mas como Cláudio sonha em pescar no litoral africano...

Há cerca de 40 alunos, a maioria, na verdade, pesca no mar alto há muito tempo e conhece bem de navegação marítima, querem apenas ficar regularizados porque a Marinha faz blitz no mar, pede documentos, equipamento de salvatagem, rádio, bússola ou GPS, a lista é longa. Mulheres não são aceitas: deve ser um dos últimos redutos do bolinha, uma incongruência, já que a Marinha admite o sexo feminino em suas tropas desde 1992.

A mãe de um aluno faz questão de ir todos os dias, pretensamente para conversar um pouco com o filho na hora do recreio. Na verdade, penso, vai para se exibir um pouco: não se cansa de mostrar a carteira dela “antigamente eles deixavam, tinha pouca gente” e de lembrar aos conhecidos que é proprietária de vários barcos.

Apareceu uma mulher jovem para fazer o curso, não foi admitida, e achei melhor: queria a carteirinha para dirigir a lancha que arrasta os banana-boats de Porto Seguro.

Banana boat é como jet ski: ninguém merece.

A Marinha e os livros



Ler livros é como se alistar na Marinha: a gente viaja para mundos desconhecidos, vê paisagens exóticas, conhece tipos inesquecíveis...

os gordinhos de Botero



Personal é como blog, existe pelo menos um para cada gosto: esses dias li que a paquera agora é profissão. Será que assina carteira, paga o décimo terceiro? A função deste tipo de personal é óbvia: fingir que é o rolinho de alguém. Para quebrar a solidão, para provocar ciúmes, para ver se de repente não descola um namorado (a) no próprio personal, e o que mais.

Fez-me lembrar o emprego do décimo quarto convidado, coisa de francês antigo, li num romance. A criatura “trabalhava” como comensal de rega-bofes, no caso de os anfitriões se verem às voltas, inesperadamente, com treze convivas à mesa. Era só telefonar (mandar a carruagem?) para o fulano (only for men), que deveria ter sempre à mão roupas apropriadas, bons modos e cultura geral, para não fazer feio com a conversa.

E pronto: resolvia-se o problema da superstição agourenta (e tola) do número treze (escrever o número dá azar).
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Se a crise arrebentar – como promete – com os proventos de uma aposentada, quem sabe volto a trabalhar? Para o primeiro caso não sirvo mais, pois como me disse um jovem pescador, quando aqui cheguei, “a senhora até que é bonitinha, mas tá com o prazo de validade vencendo”.

Mas para comer bem, beber, conversar e ver gente diferente de graça – e ainda ganhar um dinheirinho – eu me desaposento na hora.
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a foto é de uma reprodução de quadro do Botero, ou seja, a reprodução de uma cópia

A extinção dos dinossauros foi na água?


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

carteira de identidade


O email do filho que mora em São Paulo dizia: “mãe, ligaram do Banco Central avisando que sua carteirinha de aposentada chegou.” Com ela passarei a pagar meia-entrada em cinema, teatro, museu e congêneres, quando estiver por lá.

Fiquei meio-exultante, com a notícia meio-boa. Sobre o meu futuro benefício cultural paira a ameaça da cota de 40%, justo agora que a crise bate à porta (e esta não é meia-crise, a entrada é inteira e gratuita, a saída é que é caríssima, e talvez só a metade consiga chegar lá). Acho oportuno o projeto de lei que estabelece a cota de 40% para a meia-entrada: falsificação de carteira de estudante é crime, e abusivo. Estranho é os produtores reivindicarem subsídio do Estado para as meias-entradas.
Tenho que admitir que minha dependência de carteirinhas e de cartões é imensa. Em Santo André ela se diluiu a tal ponto que, frequentemente, na hora de pagar a conta do restaurante, descubro que não tenho dinheiro, cartão ou carteirinha. Nem bolsa: é um acessório em extinção no meu guarda-roupa.

Mas se quero ou preciso viajar, o vício volta. Necessito de doses fortes de carteira de identidade, CPF, cartão de crédito, cartão para celular pré-pago, carterinha da locadora de vídeo, da farmácia (para obter o “desconto”), da assistência médica e agora, se for de alguma valia, de aposentada.

Eventualmente, preciso de título de eleitor, de passaporte, de contracheque.

Guardo os backups cuidadosamente: certidão de nascimento minha e dos filhos, de casamento, de divórcio, de casamento novamente, de escritura de imóvel. Só aposentei os diplomas, justamente por causa da aposentadoria.

Acho que estou passando por uma crise de identidade.

domingo, 30 de novembro de 2008

Hoje é o dia de Santo André


A data foi escolhida por uma razão trágica: 30 de novembro foi o dia da crucificação de André.
O martírio foi feito com cordas e com o santo de cabeça para baixo, no ano 60 D. C., em Patras, onde hoje é a Grécia – àquela época uma província romana, a Acaia. A cruz que lhe destinaram tinha a forma de X, e ficou conhecida como a cruz de SantoAndré.
Suas relíquias teriam sido trasladadas de Patras para Constantinopla e daí, segundo a lenda, para a cidade escocesa de Saint Andrews. Por isto, Santo André é o patrono nacional da Escócia, país que tem na bandeira o desenho da cruz em X.

Santo André, um dos doze apóstolos de Jesus, nasceu em Bethsaida, nas margens do Mar da Galiléia. Sendo judeu, certamente seu nome não seria André, mas talvez um correlato em hebraico ou aramaico. De acordo com o Evangelho de São João, André foi um dos primeiros seguidores de Jesus, juntamente com Pedro, de quem era irmão.

André pregou na região do rio Volga e acabou se tornando patrono da Romênia e da Rússia, também. É festejado tanto pela Igreja Católica como pelas Igrejas Orientais.
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fonte: Wikipédia e textos católicos.
Aqui no povoado ocorreram os festejos tradicionais na igrejinha. Estava prevista uma procissão, mas com as chuvas, não sei se aconteceu.

o Santo André de El Greco



Esta belíssima tela, representando Santo André e São Francisco,  era inteiramente desconhecida antes da Guerra Civil de Espanha (1936 a 1939). Estava guardada no convento de clausura das Irmãs Agostinianas da Encarnação de Madrid, e nesse convento o Estado a adquiriu em 1942. Pertence ao segundo período do pintor, e é admirável a força expressiva do desenho dos rostos, e sobretudo das mãos, extraordinariamente vivas. Tem a assinatura do autor no canto inferior direito, sob os pés de S. Francisco, numa cartela vulgarmente usada pelo artista.
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Marco Valsecchi - em “Grandes Museus do Mundo

Santo André molhado



Hoje de manhã cedinho, Cláudio e eu fomos dar uma volta no povoado, aproveitando-nos do intervalo entre as águas.
Continua a chover, quase incessantemente, o brejo no caminho para Santo Antônio encheu -- parece uma lagoa.
As ruas da vila, como prevíamos, estão empoçadas.


Não faz mal, o mais importante é a recuperação do lençol freático que estava à míngua.

O rio Acuba depois (e antes) das chuvas




As crianças voltaram a pular e brincar dentro d'água, e as mulheres a lavar roupa e louça no pequeno rio que passa dentro do povoado.

A Lan House do Joelson



É aqui, na antiga casa do belga, como passamos a chamar o marido de Joelma, que surgirá -- em breve -- a Lan House do Joelson.
O belga e Joelma foram trabalhar com turismo marítimo na rota Paraty/Rio de Janeiro. Com isso perdemos de vista aquele iate vermelho l-i-n-d-o que ele tinha fundeado na enseada. Para compensar, o casal está satisfeito com a mudança e com a experiência de viver em Paraty, pelas notícias que tive. E agora teremos esta nova lan house, uma excelente forma de ampliação da inclusão digital, aqui em Santo André. Para os jovens que moram perto do campo, diversão garantida.

A kombi nova do Santinho


Equipada com TV. Ou será DVD?
Enfim, algo que tem imagem e som.

sábado, 29 de novembro de 2008

Hoje é dia de Itália



Ontem li “O conto do amor” de Contardo Calligaris, um livro leve e fácil de ler (Companhia das Letras). Seu protagonista é um italiano que mora em New York e decide voltar ao país natal para desvendar o mistério da última conversa que tivera com seu pai antes deste morrer. O velho passara a vida imerso em estudos renascentistas e estava convencido de que vivera também no século XV quando trabalhara como ajudante do pintor Giovanni Bazzi, conhecido por Sodoma.
O pai contou-lhe que na juventude vivera uma experiência estranha no convento do Monte Oliveto Maggiore (o local tem afrescos de Sodoma), na Toscana. “Ao entrar no claustro, tive a sensação imediata, distinta, nítida de que conhecia os afrescos perfeitamente, cada cena, cada figura, cada pincelada".
Achei a obra pobre em recursos literários, embora tenha um ponto de partida interessante. Segue uma tradição narrativa gasta e bastante diluída, cujo marco genial foi “O nome da rosa”, de Umberto Eco; mas para quem está indo passar um mês em Florença pode servir como um guia de arte básico (e sofisticado). Lá estão as menções constantes a Brunelleschi – que está para Florença como Niemeyer para Brasília – à policromia do Duomo, à Sacristia Vecchia, aos palácios (Strozzi, Pitti, Spinelli), à Galeria Uffizi, a Caravaggio. Bom, a lista é imensa, estamos falando de Florença.
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foto do orfanato Spedale degli Innocenti, construído no séc. XV por Brunelleschi. Funcionou até o século XIX; hoje é um museu.

Bacco, by Caravaggio



Ano passado passei um dia inteiro dentro da Galeria Uffizi, em Florença. Saí acabada, mas valeu a pena: sou l-o-u-c-a por museu. Almocei lá dentro, no restaurante do último andar, e naturalmente, tomei vinho italiano.

Pouco depois me deparei com esta figura de Caravaggio. O rubor na face indica embriaguez? Inesquecível este Baco, sensual e lânguido, a mão direita acariciando um laço de veludo.

La bella figlia a Venezia




Presente sensacional de uma amiga de infância (Brasília): um final de Semana em Veneza para verem juntas a Bienal de Arquitetura.

Il principe




sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Gonçalo Tavares



Tirei todos os livros da estante grande e espalhei no chão; é preciso tirar a poeira, arejar, organizar. Pelo jeito, vai levar meses: leio as orelhas, a capa, as dedicatórias, anotações à margem.

É como ver foto antiga: entra-se na máquina do tempo.

Quando “O Senhor Brecht” apareceu, sentei na cama com ele. Lembrei que havia gostado muito de nosso primeiro encontro. São micro-contos de um autor angolano contemporâneo, Gonçalo M. Tavares, cujo romance “Jerusalém” venceu um dos prêmios mais respeitados em língua portuguesa (o Ler/Millenium). Sua escrita é simples, mesmo tratando de problemas universais complexos.

Levam à reflexão pela via do absurdo.

Seu estilo deveria arejar a cabeça de muitos teóricos que hoje escrevem tratados herméticos para anuviar o prazer de nossas leituras; parecem que não sonham mais e, talvez por isso, tornaram-se uma massa indistinta encastelada dentro de referências carimbadas da Academia.

Mas vamos às parábolas do Gonçalo.

Poesia



CONSTRUÍRAM uma prisão cujos limites exteriores eram redes onde, através da torção dos arames, se encontravam escritos alguns dos mais belos poemas dos principais poetas do país.

Essa rede de versos que contornava toda a prisão era elétrica: quem a tocasse apanharia um choque mortal.
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Gonçalo M. Tavares

dieta para emagrecer


Uma mulher gorda que queria perder peso chegou ao médico e disse:
Corte-me uma perna.
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Gonçalo M. Tavares

Desempregado com filhos



DISSERAM-LHE: só te oferecemos emprego se te cortarmos a mão.
Ele estava desempregado há muito tempo; tinha filhos, aceitou.
Mais tarde foi despedido e de novo procurou emprego.
Dissram-lhe: só te oferecemos emprego se te cortarmos a mão que te resta.
Ele esta desempregado há muito tempo, tinha filhos, aceitou.
Mais tarde foi despedido e de novo procurou emprego.
Disseram-lhe: só te oferecemos emprego se te cortarmos a cabeça.
Ele estava desempregado há muito tempo; tinha filhos, aceitou.
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Gonçalo M. Tavares

A beleza


NUMA CERTA cidade o arco-íris um dia apareceu e nunca mais foi embora. Durante um ano permaneceu no mesmo sítio do céu. Tornou-se aborrecido.

Um dia, finalmente, o arco-íris desapareceu e o céu ficou cinzento escuro por completo. As crianças dessa cidade, excitadas, apontavam para o céu cinzento e gritavam uns para os outros: olha, que bonito!

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Gonçalo M. Tavares

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Ricardo Freire, turista profissional

Ricardo Freire esteve em Santo André!

Não é pouco: atualmente é um dos mais descolados autores de guias de viagens.

Nas horas vagas, é publicitário, em todas as outras, turista profissional.

Em São Paulo vi uma pilha de livros e guias escritos por ele, logo na entrada da megastore FNAC. Um deles virou referência no gênero no Brasil: Viaje na Viagem - está na 5ª. edição.

O livro é divertido, útil, e cobre da arrumação da mala à cura da depressão da volta, passando por um banco de roteiros e um dicionário de 500 destinos.

O sucesso do livro rendeu um convite para ser editor de viagem da revista Vip, além de abrir o caminho para uma carreira de jornalista de turismo e autor de guias.

Ricardo Freire no Casapraia


"Antes de sair para o meu rali pelo litoral brasileiro, há pouco mais de dois meses, eu disse que esse não era o tipo de viagem em que eu poderia descobrir novos lugares ou rever conceitos. Felizmente, me enganei. Guiado por leitores (o Thiago e o Joaquim), descobri Barra Grande, lá no Piauí. E, sob a insistência de uma amiga querida (que não lê o blog), no finzinho da viagem mudei de opinião sobre um lugar: Santo André, na Bahia.


Não é que eu desgostasse de Santo André -- longe disso. Eu prezava seu sossego e suas areias desertas; já gostava muitíssimo de uma pousada, a Victor Hugo; e tinha ficado deslumbrado com a simpatia, a elegância e o arroz-de-polvo de Maria Nilza, na praia do Guaiú. Tudo isso, porém, não me parecia suficiente para me fazer abrir mão do Quadrado de Trancoso, do footing do Arraial d'Ajuda ou da beleza da praia do Espelho.
Só que, desta vez, conheci um lugar que me balançou.
Saí de Itacaré de manhã cedinho. Quando entrei com o carro na balsa de Santa Cruz Cabrália para atravessar o rio João de Tiba, eu já tinha rodado 524 km. Mal sabia eu, porém, que a viagem ainda estava por começar.

A Casapraia é um restaurante que funciona também como clube de praia. Cheguei tarde demais para aproveitar as tendas junto à areia, então pedi logo o cardápio.
Pois bem -- o cardápio não é só um cardápio. É um álbum de viagem dos donos da Casapraia, o Pablo e o Amadeo, dois argentinos que saracotearam pelo mundo inteiro antes de encontrar Santo André.
Cada prato é inspirado em alguma coisa que eles comeram em algum canto do mundo -- e em vez de vir descrito apenas com os ingredientes, vem também com as anotações de viagem do momento em que eles provaram aquilo.
Dá para ser lido como livro -- viaje na viagem gastronômica! Fiquei tão entretido, que por alguns instantes esqueci que não estava acompanhado
Em vez de pedir um dos pratos principais, decidi escolher duas entradas. A primeira, uma berinjela thai ensinada por um cliente. Agridoce, ardidinha, diferente de toda berinjela que eu já comi Segunda entrada: "otakes baianos" -- moquequinhas de siri envoltas por folha de bananeira, apresentadas à maneira dos otak-otak malaios (que vêm recheados com uma espécie de mousse de peixe).
Mesmo sob a ameaça dos bafômetros, não resisti a pedir um drink (unzinho só, vai) que me pareceu uma viagem sob forma líquida: sakerinha baiana -- uma caipirinha de sakê, abacaxi, leite de coco e alecrim.
Adorei -- mas eu diria que é uma pina... descolada!
De sobremesa, semifreddo de chocolate e chocolate branco (a razão pela qual eu decidi substituir o prato principal por uma segunda entradinha). Ao terminar o almoço, eu tinha certeza de que precisava voltar para uma temporada em Santo André -- quanto mais não fosse, para conseguir terminar de ler o cardápio :-)
A Casapraia só tem um defeito: não fui eu que descobri. Os poucos e bons que já passaram por lá ficaram tão encantados quanto eu. Não há absolutamente nenhuma novidade em nada disso que eu escrevi daqui para cima.
Felizmente sobrou uma notícia para eu dar em primeira mão. Oba!
Semana passada a Casapraia inaugurou um bangalô espetacular, com deck e ofurô, num estilo que eu definiria como japa tropical: minimalista, mas arejado e integrado à paisagem. Não vi como ficou depois de decorado, mas só pelo trailer eu já incluiria o lugar tranqüilamente na minha lista de superbangalôs de praia (e o que é mais interessante: na faixa de preço mais em conta)."
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A foto é do restaurante CasaPraia.

Não deixem de ver as fotos do Ricardo, ainda mais que hoje talvez não tenha imagem no blog porque a internet está operação tartaruga. Pena, sou adicta de imagens; adoro a brincadeira de juntar a foto com o texto... oh, well.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Porto Seguro, na Bahia.


mensagem para um amigo



Caro amigo:
Foi com atenção que li seus comentários. Obrigada por se manifestar! Gostei de saber que você visita o lugar, deixou-me contente.

Veja bem: o blog não tem exatamente uma “linha editorial.” Vejo agora a necessidade de escrever que – até com alguma freqüência – as postagens baseadas em textos dos outros não, necessariamente, expressam meu ponto de vista “real”. Este pequeno caderno de anotações é mesmo uma rede furada, uma colcha de retalhos, um especialista em generalidades.
Que traz, inclusive, visões antagônicas: creio que a variedade possibilita discussões plurais, mais ricas...No contexto multicultural em que vivemos imersos, é vital aprendermos a lidar com opiniões múltiplas e conflitantes. Todo mundo sabe disso, mas como é difícil! Tenho sofrido e “apanhado” muito nesta rota; mas não desisto e penso como você: não traz prejuízo à amizade se tivermos cabeça.

Aceito, com naturalidade, seu ponto-de-vista sobre a questão política na Venezuela; conheço várias pessoas – cujo pensamento eu respeito – que compartilham sua opinião.
Normal.

É que tenho uma desconfiança instintiva pelos dirigentes “agarrados” ao poder, como Kim Jong-il, da Coréia do Norte, Fidel Castro (saiu, afinal, mas só quando ficou doente), Robert Mubage (Zimbábue), Hugo Chaves, na Venezuela e tantos outros...

Sobre a parte da rede social: há um certo sentido saber quem casou, quem construiu casa, quem partiu e quem chegou. Eu curto, e sei que outras pessoas também, porque me disseram isso: estão longe e gostam de saber notícias do povo daqui, ver foto...

Por falar nisso, domingo passado nasceu Ismael, filho de José Luís e Andreza, neto de Virginia Mares. Com saúde, bem vermelhinho e cabeludo, o moleque.

Agora que percebi como você entende bem o português escrito fico mais confiante. No meu caso, tive que recorrer ao dicionário para entender sua carta em italiano, mas não se preocupe, gosto demais de dicionários e linguagem.

Escreva mais!

Alimentação do povo chines



Os alimentos mais tradicionais são o arroz, a soja, o peixe, a carne de porco e os legumes. Há pratos que nós, ocidentais, consideramos "estranhos", como a carne de cachorro, gato, cobra, gafanhoto, e até mesmo o escorpião e a barbatana de tubarão.
A culinária chinesa nasceu com os primeiros povos que habitaram aquelas terras, há mais de 4 mil anos. Mas a comida não é feita de qualquer jeito: os cozinheiros chineses têm um princípio baseado no taoísmo, o ensinamento deixado por filósofos chineses antigos.
A alimentação chinesa pode ser dividida em estilos de cozinhar do norte e do sul. Em geral, os pratos do norte são oleosos, sem serem enjoativos, e os sabores do vinagre e do alho tendem a ser mais acentuados. As massas desempenham um papel importante na cozinha do norte: talharim, pastéis do tipo ravióli, bolos recheados no vapor, bolinhos de carne, e pão assado no vapor são prazeres favoritos feitos de farinha. As cozinhas de Pequim, Tientsin e Shantung são os estilos mais conhecidos.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Os argonautas estão chegando


Chegou Giampi primeiro; ontem o Massimo e os fratelli Franco e Luciano. Elisabeta e o marido americano também chegaram, estão em casa de Lolla e Nardo. Todos para temporada de 4 a 5 meses.


No Santana's, ontem, a língua italiana só não predominava porque havia 4 visitantes brasileiros, hóspedes da Pousada Ponta de Santo André e dois amigos da Dudu, de São Paulo.
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(o ravioli aos 4 queijos do Arosio estava di-vi-no...)

Paradigma do caos


Samuel P. Huntington, de Harvard, é o autor de "O choque de civilizações", um livro contemporâneo que já é um clássico entre os acadêmicos globais.
Lá, ele descreve o paradigma do caos:
"Quebra no mundo inteiro da lei e da ordem, Estados fracassados e anarquia crescente, onda global de criminalidade, máfias transnacionais e cartéis de drogas, declínio na confiança e na solidariedade social, violência étnica, religiosa e civilizacional e a lei do revólver predominam em grande parte do mundo."
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Ninguém me avisou o dia em que o caos começou.

incêndio em Santo André




A mata, antes e depois do incêndio de 2009.
Por pouco, Santo André não se acaba em fogo....

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Carta a dois amigos



Caríssimos:

Bom ter notícias suas, principalmente saber que estarão de volta na próxima semana.

Após a temporada paulistana, onde encontrei pessoas queridas e tomei minha clássica overdose de cultura, encontrei Santo André debaixo das águas típicas de novembro. Chove ininterruptamente, desde quinta-feira; depois do incêndio temos a benfeitoria da água.

Sábado à noite um (surpreendente) público na nossa noite de cinema. Mais turistas do que eu imaginara, inusitada para a época e a noite molhada. Passamos o filme do Wong Kar-Wai, o do beijo roubado de Norah Jones. Marcelo montou um ambiente interno alternativo (naquela sala de jantar que adoro). Creio que a maioria apreciou o filme: elenco bonito, trilha musical boa e cores fortes sempre atraem nosso olhar, tão viciado em imagens. Pessoalmente, fiquei desapontada. A idéia do roteiro é legal, um filme de estrada, a correspondência do par romântico via cartões-postais, o deslocamento contínuo da protagonista trabalhando de garçonete pelas cafeterias americanas; porém o diretor se perdeu na rota dele...Há seqüências que beiram o dramalhão, malgrado alguns planos criativos.

Não foi a opinião de todos. Pelo email recebo uma impressão: “muito bom o filme, música maravilhosa, os atores + ainda. Um filme suave c/toque de drama, de amor e de amizade.” Percebi que as pessoas que optaram pela sala porque não queriam ver o filme, acabaram se voltando para a tela e foram das mais interessadas.

Marcelo, Adriana e Bilu conduziram profissionalmente o restaurante, tudo fluiu com suavidade, o serviço, a comida, as luzes. Diria até que não fizeram falta... não fora o fato de que vocês são insubstituíveis!

O melhor de tudo foi ouvir as risadas dos hóspedes da Suíte CasaPraia, o eco chegava até nós (contagiante); a cortina de plantas e palmeiras do paisagismo permitiu-lhes total intimidade. Creio que o som do cinema contribuiu um pouco para o clima ambiental intimista; me deu vontade de ser hóspede ali...
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foto: cortesia do blog santo-andre-ba.com

Amarai cresceu e me esqueceu


Trocou-me por um violão e uma bateria

Jorge Pontes, prefeito de Santa Cruz Cabrália


Excertos da entrevista que o Ray Rangel fez com o novo prefeito de Cabrália.
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O que Cabrália pode esperar de Jorge Pontes? Todos nós sabemos que não existe “salvador da pátria”. A última vez que se criou essa imagem foi na eleição de Collor e a gente viu no que deu. O que nós nos propusemos a fazer e todos entenderam e nos apoiaram, foi construir uma cidade juntos, pois a cidade pertence a todo o povo que nela mora. Tenho cruzado com as pessoas sem aquele pessimismo que se via meses atrás. Notamos uma aura de esperança nas pessoas que ainda comentam: “isso vai acabar, ano que vem vai melhorar”. Posso antecipar, sem medo de errar, que quem votou em Jorge Pontes não se arrependerá. Nós temos belos projetos e iremos construir essa cidade, juntos, isso é um compromisso de campanha. O povo acredita nisso, a gente sente nas ruas, em todos os lugares

Em que situação você espera encontrar a prefeitura de Cabrália? O que mais nos preocupa agora é a situação de inadimplência da prefeitura com relação aos servidores públicos. Espero sinceramente que o gestor atual seja mais responsável. Que tenha aprendido a lição que a Justiça tem lhe mostrado, já que nem seu registro da candidatura obteve sucesso. Que cumpra com sua obrigação que é pelo menos pagar o servidor até 31 de dezembro. Acredito que a comunidade inteira tem percebido que nos últimos quatro anos houve uma tremenda irresponsabilidade, muito embora tenhamos a Lei de Responsabilidade Fiscal. Agora mesmo fomos surpreendidos pela demissão em massa de quase trezentos servidores - quando na verdade pela legislação eleitoral ele estaria impedido de fazê-lo. Por força de uma medida liminar foi obrigado a reintegrá-los. Ele contratou, o pessoal trabalhou na campanha dele, e agora se viu obrigado a readmiti-los e pagá-los, o que é mais grave. A Lei de Responsabilidade Fiscal é dura com relação aos gestores que cometem erros. A lei é clara, não podem ficar débitos pendentes para o exercício seguinte sem que haja o correspondente saldo de caixa. Baseado na lei isso nos dá um certo conforto, mas a pergunta é: será que o gestor vai cumprir o que a legislação determina? Eu espero que ele cumpra, até porque poderemos herdar uma situação que inviabilize o primeiro ano do nosso governo por dívidas passadas.

Como será o período de transição?
O Tribunal de Contas dos Municípios baixou uma resolução que obriga os atuais gestores a fazerem a transição através de comissões com pessoas da prefeitura e de nossa confiança. Teremos acesso aos extratos bancários, folha do pessoal, precatórios, enfim, todo o retrato da administração. Isso feito teremos uma radiografia da situação para que possamos nos programar e montarmos nossa equipe.
Vamos voltar a ter uma Secretaria de Educação, Cultura e Esporte, com departamentos que funcionem, que tenham autonomia para planejar e executar nossa política de cultura e da mesma forma o esporte.