quarta-feira, 27 de junho de 2012

Vida de aposentado

A história seguinte foi contada com graça e fina ironia por um colega aposentado do Banco Central, o Gerson Bonani.  Me fez dar risadas; e rir -- todo mundo sabe -- é o melhor remédio.
Gerson ainda nem sabe que foi blogueiro convidado aqui do redefurada...
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"Foi uma questão de apenas dez minutos...
Quando saí, um policial já estava preenchendo uma multa por estacionamento indevido.
Rapidamente, me aproximei dele e lhe disse:
- Vamo lá, seu guarda, eu não demorei mais que dez minutos...! Deus irá recompensá-lo se tiver um pequeno gesto de consideração para com um aposentado...
Ele me ignorou completamente e continuou a preencher o formulário.
A verdade é que me impacientei um pouco e lhe disse que devia ter vergonha pela desconsideração.
Ele me olhou friamente e, sem titubear começou a preencher outra infração.
Então eu levantei a voz para lhe dizer que já tinha percebido que estava lidando com um tira insensível e que eu nem compreendia como é que ele tinha sido admitido na polícia de trânsito...
Ele terminou a segunda infração, colocando-a no para-brisa, e começou a preencher uma terceira infração.
Eu já o estava argumentando há mais de 20 minutos, chamando-o de tudo, desde babaca a outros impropérios nada elogiosos..
Ele, a cada insulto, respondia que era uma nova infração minha e, consequentemente, preenchia mais uma multa, acompanhada de um sorriso que refletia sua inteira satisfação de "otoridade sádica"...
Depois da décima infração... eu lhe falei:
- Nada mais a dizer, seu guarda. Tenho que ir embora... Ali vem meu ônibus! "

domingo, 10 de junho de 2012

Ulisses, de James Joyce


A maleta está pronta: embarco na terça para Jamesjoyce Town -- um espaço transitório que se instalará no auditório Dois Candangos, da Universidade de Brasília, de cujo site puxei a matéria abaixo.
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Evento celebra 90 anos de Ulisses
Universidade realiza homenagens, na próxima semana, aos 130 anos de nascimento do escritor irlandês que escreveu um clássico da literatura mundial
Francisco Brasileiro - Da Secretaria de Comunicação da UnB

"No ano em que a publicação do livro Ulisses de James Joyce completa 90 anos, a UnB participa das homenagens ao escritor irlandês que acontecem no mundo inteiro. A partir da próxima terça-feira, 12 de junho, o evento "BLOOMSDAY BSB 2012 – CêEmana BLOOM: 90 anos de Ulysses e 130 de nascimento de Joyce" vai ressaltar os aspectos revolucionários da obra, que mudou a forma de construir narrativas no século XX. Augusto de Campos, expoente do movimento concretista de poesia e um dos primeiros tradutores da obra para o português, estará na quinta-feira na UnB para um bate papo sobre a obra do autor.
  “O Bloomsday já ocorre aqui em Brasília desde 2007, mas desta vez vamos promover um simpósio crítico durante toda a semana”, explica Piero Eyben, professor do Departamento de Teoria Literária e Literatura (TEL) e um dos organizadores do evento. O Bloomsday acontece todos os anos no dia 16 de junho. Em todo mundo, os fãs do autor rememoram os eventos de um dia da vida do personagem Leopold Bloom, descrito no livro Ulisses. Segundo Piero, o evento também será uma celebração dos 50 anos do Instituto de Letras.

NOVO PARADIGMA - “Ulisses é um dos maiores clássicos do século XX. O livro mudou todas as estruturas da literatura até então”, explica. “Ele quebra a estrutura linear e constrói 18 formas narrativas novas”. O livro, com mais de 800 páginas, relata um único dia da vida dos personagens. “Ele é o primeiro que desenvolve a técnica do monólogo interior, em que a narrativa acompanha os pensamentos dos personagens”, conta o professor.
  O evento contará também com a presença de dois professores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Dirce Waltrick do Amarante e Sérgio Medeiros, especialistas na obra de Joyce. Além disso, haverá também exibição de filmes, debates e mesas redondas. Em uma delas o professor Edvaldo Bérgamo, do TEL, vai relacionar a obra de Ulisses a outros autores da língua portuguesa. “A ênfase será em Fernando Pessoa e Antonio Lobo Antunes, que também desenvolvem em suas obras a noção de fluxo de consciência, do lugar do artista na modernidade e a relação tensionada entre linguagem e realidade, aspectos presentes na obra de Joyce”, explica Edvaldo.
ilustração de Catarina Sobral
PERFORMANCE - O início das homenagens acontecerá no Auditório da Reitoria. As demais atividades serão realizadas no Auditório 2 Candangos, na Faculdade de Educação. No dia 16, uma performance vai encerrar as comemorações do Bloomsday. Os atores André Ardens, Antonella Kalavati, Carla Branco, Rafael Toscano, Tiago Lanuck e Wilton Oliveira encenarão a peça “O Bordel de Dona Circe”, que corresponde ao capítulo 15 de Ulysses".

terça-feira, 5 de junho de 2012

viagem com filho

 (fotos de Pedro Guida)

Ela saiu de casa vestida de notas musicais; ele deixou o prédio com maleta de viagem.  Ao lado dela, o companheiro de uma vida; no carro dele, três amigos da faculdade.  Cinco horas e trezentos quilômetros separavam os dois grupos. Haviam marcado encontro no Festival de Jazz de Paraty, uma festa que acontece há quatro anos – sempre em maio – na pequena cidade litorânea.  Os palcos estavam espalhados pelas ruas pedregosas do centro histórico: o mais bonito fica em frente à Igreja Santa Rita: o público sentou ao ar livre, no gramado, no embalo do suingue. Ali perto, o porto provisório, a tarde evanescente e o mar eterno. 
Quando chegaram ao Palco da Matriz Cinthya Girtley cantava acompanhada de sua banda gospel -- a música vinda dos evangelhos que ajudou a moldar toda a música negra do século passado nos EUA - ragtime, blues, jazz...  O som era ótimo, envolvente, o que não impedia a mulher de checar o celular continuamente: e se o filho ligasse da estrada?  Em dado momento viu que havia duas chamadas perdidas: reconheceu o número, tão familiar. Discou, ele atendeu de pronto. A mulher não conseguia ouvir bem, o filho pediu para ela se afastar do palco, procurar um lugar menos sonoro. Ela foi para a frente da Matriz, o único lugar razoavelmente silencioso naquele momento cheio de bares, restaurantes e vozes. Sons de festa caíam sobre a praça. Ainda colocou o celular no ar, para que o filho sentisse a vibração... No outro lado do telefone, o cenário era totalmente diferente: a estrada escura, estreita, sinuosa, chuva forte, o chão cheio de buracos cobertos de água. O carro deslizou...
Estamos bem, não aconteceu nada conosco, mãe
Mãe, não aconteceu nada conosco, estamos bem

O acidente foi perto da divisa que separa os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro; ali há uma curva com lúgubre número de desastres. O casal saiu do show imediatamente; pegaram o rumo da estrada. Ela só via os pingos grossos batendo no parabrisa do carro -- numa espécie de hipnose.  A mão do marido apertando a sua.  De súbito eles surgiram um tanto indistintos pela névoa da água. Estavam embaixo de uma árvore: os quatro jovens, intactos, nem um dedinho quebrado, nada de mal lhes acontecera, afora o susto. Do outro lado da estrada, o carro irreconhecível com as quatro rodas para cima: só conseguiram sair de dentro do veículo com a ajuda das pessoas que pararam para socorrer: solidariedade de estrada. Para o mundo, foi só um pequeno milagre: acontece todo dia. Para a mãe, ver o filho e os amigos ilesos, foi de uma felicidade tamanha que talvez a foto abaixo, da cantora Yanel Naim consiga ilustrar
Aleluia! 

segunda-feira, 4 de junho de 2012

na fila da FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty

Neste ano da graça de 2012, a FLIP dura quatro dias e terá início bem na data da independência dos EUA - 4 de julho. Um mês antes, ou seja, hoje, os ingressos foram postos à venda na rede e, pra quem mora em Paraty, numa determinada agência de turismo na rua principal do comércio da cidade.  Existe uma modesta reserva de mercado para os moradores locais; dez por cento, informaram. O início das vendas foi programado para as 10hs. Quem chegava antes pegava uma senha; ganhei o número 46. O número um, descobri durante a espera, chegou às 5 da manhã. A moça da organização avisava que haveria duas filas, "uma preferencial, para os idosos, e outra para os normais". Ri demais com isso...a maior parte do público esperante era de velhinhos! Além disso  parecer "normal" é a coisa mais fácil do mundo. Ela também riu do deslize linguístico, era jovem e bem humorada, muito diferente de um casal de rabugentos que questionou meu direito de estar na frente deles (portavam o 51). Só porque me ausentei da fila para tomar um suco, comprar uma pinça de sobrancelhas, depois tive que correr até a agência do Banco do Brasil para sacar em moeda viva porque não estavam aceitando cheques como forma de pagamento... Afinal, para isto existe senha, penso.

Consegui todas as palestras que queremos ver/ouvir, além do show do Lenine e da ciranda de Tarituba. No pacote, a conferência do meu querido catalão Enrique Vila-Matas, para procurar entender essa dobra sobre si mesma que ele faz da Literatura. Ou ter notícias dos livros do espanhol Javier Cercas e do colombiano Juan Gabriel Vásquez que se voltam para episódios violentos do passado de seus países, ou a reflexão de Luiz Eduardo Soares e Fernando Gabeira sobre o autoritarismo, tão oportuno em época de criação da Comissão da Verdade; o mundo de Shakespeare; as palestras sobre o homenageado deste ano, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade; o prêmio Nobel francês Le Clézio;  ou um painel focado em cidade e democracia ...
"Ao mesmo tempo que mostram o potencial de mobilização dos meios digitais, protestos recentes no mundo árabe e nos países europeus reafirmam a força da rua e da praça como palco de manifestação da vontade popular. O espaço urbano pode ser um local de encontro e convivência das diferenças, mas também a expressão mais visível da desigualdade social. A partir dessa contradição, o indiano, radicado nos Estados Unidos, Suketu Mehta, e o brasileiro Roberto DaMatta discutem o papel das cidades na vida democrática"
(trecho do catálogo da FLIP)
Literatura& afins: aqui vamos nós.