terça-feira, 22 de outubro de 2013

Manakamana

Olhei de relance para as performances dos artistas de rua – lá estavam o Elvis Presley da Paulista e um homem que vestiu azul e saiu de Yemanjá. Estava com pressa: havia combinado ver dois filmes com uma sobrinha. O primeiro narra a emocionante história da jovem belga “Suzanne” ao longo de uns 20 anos. Filme bom, premiado. Porém o que ficou na minha mente foi o segundo filme, “Manakamana”, cujo título significa “desejo no coração” e é o que se chama de filme arrastado. Tomadas longas, exasperantes, tanto que vários espectadores abandonaram a sala de exibição.
O documentário mostra os peregrinos que sobem de teleférico ao templo da deusa Bhagwati, um dos mais famosos santuários do Nepal. Antigamente o percurso era feito a pé, montanha acima, levava horas. O templo nunca aparece, nem a imagem da deusa – os diretores não quiseram explorar o “exótico”. A viagem vale mais do que o destino, parece dizer o filme. Estamos na verdade olhando para os rostos dos passageiros, ouvindo conversa fiada, observando a linguagem corporal – tudo contra o cenário deslumbrante das montanhas e florestas do Nepal. Os passageiros vão de mulheres trajando saris coloridos, adolescentes nepaleses tirando fotos com suas câmeras digitais idênticas, um casal com um galo no colo, um par de músicos afinando seus instrumentos, um carro cheio de cabras...Um filme diferente sobre a convivência do moderno e do antigo, sobre o tempo e sobre a percepção

domingo, 20 de outubro de 2013

seguro viagem Porto Seguro

Às 3:15 da madrugada o despertador do meu marido nos acordou.  Cláudio havia programado sair de Santo André na balsa das quatro horas no rumo de Paraty, levando o carro abarrotado com os últimos pertences que tínhamos no povoado: livros, fotografias, panelas, varas de pescar.    Mais tarde eu tomaria um avião para São Paulo.  Despedimo-nos com votos de boa viagem.  Voltei a dormir até ver o brilho do sol bater nas folhas dos coqueiros da Pousada Ponta de Santo André. Arrumei a mala, dei uma última volta pelas ruas da Vila e sentei na varanda para aguardar Teresa – ela me levaria para o aeroporto na balsa das 11:30. Como se fosse um pressentimento do que estava por acontecer, a balsa estava lotada, nosso carro foi o último a caber na embarcação.
Tudo correu bem até chegarmos em frente ao Barramares – ali fomos surpreendidas por um enorme engarrafamento. Grandes galhos de árvore e dezenas de táxis bloqueavam a estrada – dali para a frente não passava ninguém.  Era um protesto organizado dos taxistas de Porto Seguro. 
Impossível chegar ao aeroporto.  Um amigo, o Leonardo, me deu uma força pegando minha mala, e assim atravessamos a pé toda a confusão de motoristas revoltados. Encontrei um taxista que se prontificou a me levar para o aeroporto por um caminho alternativo que passa pelo Alto do Mundaí, pega uma esburacada e lamacenta estrada de terra e continua pelos bairros do Geraldão,  Paraguay e Sapoti. Eu não conhecia aquele caminho, dizem que é a zona mais perigosa da cidade.  Só naquele momento o motorista  avisou o valor da corrida – o dobro do preço normal – e se eu não concordasse podia descer ali mesmo.  Sem outra opção, tive que aceitar.
Entendi as razões dos taxistas, só que aquele senhor agiu mal...

Finalmente chegamos na estrada que vem de Eunápolis para Porto Seguro, perto do IFBA. Logo depois, outro bloqueio, ainda mais concentrado. Desci do carro, paguei a corrida e comecei a arrastar minha mala em direção à Rodoviária sob um sol africano que queimava minha testa e me fazia suar.  Andei mais de uma hora, encontrei a Luzia e uma amiga naquela balbúrdia, nem deu tempo para conversar.  Grupos de estudantes caminhavam a pé – imaginem o tumulto nas escolas, nem os pais podiam pegar as crianças nem o transporte escolar.
Consegui chegar a tempo de embarcar no voo para São Paulo: estava vazio. A aeromoça me contou que dos 158 passageiros confirmados, só 54 conseguiram chegar.
o avião vazio

Tudo isto me deixou com a pulga atrás da orelha... e se isso acontecer durante a Copa do Mundo de 2014?