sábado, 24 de março de 2012

Lygia Pape: Espaço Imantado


"O ovo"  (performance)
Sempre ouço falar que na história da arte brasileira contemporânea três nomes não podem faltar: Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape. Fui visitar o Espaço Imantado, a primeira retrospectiva de Pape no Brasil, bem contente pela oportunidade de conhecer a obra desta mulher que é considerada uma das mais importantes artistas brasileiras. Percorri as três salas da mostra na Estação Pinacoteca, observando de perto cerca de 200 trabalhos apresentados em formatos variados -- xilogravuras, pinturas, colagens, projeção de filmes, ações perfomáticas e tigelas coloridas.   Para compartilhar, selecionei imagens de obras e dicas dos textos informativos que estão escritos nas paredes. Para entender a trajetória de Lygia é importante lembrar que ela despontou nos anos 50, quando o Brasil passava por um processo de modernização vertiginoso que se refletia nas linhas da arquitetura e no urbanismo e nas inovações formais da poesia e da literatura. No campo das artes plásticas, este processo desembocou na abertura de dois Museus de Arte Moderna (Rio e São Paulo) e deu início a Bienal de São Paulo. Era uma época excepcionalmente vanguardista; foi  quando surgiram as bases da arte concreta, com os grupo Ruptura de São Paulo e o grupo Frente, do Rio de Janeiro. 
ESPAÇO IMANTADO
Os espaços imantados são os pontos de vida e movimento na trama urbana, aqueles que tem um poder de atração magnético, se formam e se desfazem incessantemente. Como a banca de um camelô, a pregação de um pastor, ou uma roda de capoeira.

" E o camelô também seria uma forma de espaço imantado,
no sentido de que ele chega assim numa esquina, abre aquela
malinha e começa a falar, criando de repente uma imantação,
com as pessoas todas se aproximando, se ligando àquele
discurso irregular, às vezes curto, às vezes longo, e de repente
ele fecha a boca, fecha a caixinha, e o espaço se desfaz."
(Lygia Pape)

DIVISOR

Esta performance se deu na época da ditadura militar – 1968, o ano do AI5, um período crítico da história nacional. Aconteceu nos jardins do MAM do Rio, depois foi repetida em Nova York, Madri e São Paulo. Lygia cobriu uma multidão com um imenso lençol, cheio de furos, por onde emergiam as cabeças das pessoas: uma imagem contundente de corpos separados da razão, de cabeças decepadas.

T-téia  (escultura de luz e movimento)
“A partir das minhas andanças de carro pela cidade - porque
eu ando muito de carro - fui percebendo um tipo novo de
relação com o espaço urbano, assim como se eu fosse uma
espécie de aranha tecendo o espaço, pois é um tal de vai daqui,
cruza ali, dobra adiante, sobe e desce em viadutos, entra e sai
de túneis, eu e todas as pessoas da cidade, que é como se
passássemos a ter uma visão aérea da cidade e ela fosse uma
imensa teia, um enorme emaranhado. E eu chamei de espaços
imantados porque aquilo tudo era uma coisa viva, como se eu
fosse caminhando ali dentro a puxar um fio que se trançasse e
se enovelasse ao infinito"
(Lygia Pape)
 

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