Às 3:15 da
madrugada o despertador do meu marido nos acordou. Cláudio havia programado sair de Santo André
na balsa das quatro horas no rumo de Paraty, levando o carro abarrotado com os
últimos pertences que tínhamos no povoado: livros, fotografias, panelas, varas
de pescar. Mais tarde eu tomaria um avião para São
Paulo. Despedimo-nos com votos de boa
viagem. Voltei a dormir até ver o brilho
do sol bater nas folhas dos coqueiros da Pousada Ponta de Santo André. Arrumei
a mala, dei uma última volta pelas ruas da Vila e sentei na varanda para
aguardar Teresa – ela me levaria para o aeroporto na balsa das 11:30. Como se
fosse um pressentimento do que estava por acontecer, a balsa estava lotada, nosso
carro foi o último a caber na embarcação.
Tudo correu bem
até chegarmos em frente ao Barramares – ali fomos surpreendidas por um enorme
engarrafamento. Grandes galhos de árvore e dezenas de táxis bloqueavam a
estrada – dali para a frente não passava ninguém. Era um protesto organizado dos taxistas de
Porto Seguro.
Impossível chegar ao
aeroporto. Um amigo, o Leonardo, me deu
uma força pegando minha mala, e assim atravessamos a pé toda a confusão de
motoristas revoltados. Encontrei um taxista que se prontificou a me levar para
o aeroporto por um caminho alternativo que passa pelo Alto do Mundaí, pega uma
esburacada e lamacenta estrada de terra e continua pelos bairros do Geraldão, Paraguay e Sapoti. Eu não conhecia aquele
caminho, dizem que é a zona mais perigosa da cidade. Só naquele momento o motorista avisou o valor da corrida – o dobro do preço normal – e se eu não concordasse
podia descer ali mesmo. Sem
outra opção, tive que aceitar.Entendi as razões dos taxistas, só que aquele senhor agiu mal...
Finalmente
chegamos na estrada que vem de Eunápolis para Porto Seguro, perto do IFBA. Logo
depois, outro bloqueio, ainda mais concentrado. Desci do carro, paguei a
corrida e comecei a arrastar minha mala em direção à Rodoviária sob um sol
africano que queimava minha testa e me fazia suar. Andei mais de uma hora, encontrei a Luzia e
uma amiga naquela balbúrdia, nem deu tempo para conversar. Grupos de estudantes caminhavam a pé –
imaginem o tumulto nas escolas, nem os pais podiam pegar as crianças nem o
transporte escolar.
Consegui chegar
a tempo de embarcar no voo para São Paulo: estava vazio. A aeromoça me contou
que dos 158 passageiros confirmados, só 54 conseguiram chegar.
o avião vazio |
Tudo isto me
deixou com a pulga atrás da orelha... e se isso acontecer durante a Copa do
Mundo de 2014?
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