sábado, 2 de agosto de 2014

Pai e filho

O menino saltava, o menino ria, o menino não parava quieto. Aquele rostinho risonho de olhos oblíquos não teria mais que quatro anos. Um adulto tratava de segurá-lo, enlaçando-o na altura da cintura com uma das mãos.
O homem e o pequeno vestiam calças jeans e camisetas de malha de algodão, uma azul, outra estampada; um calçava tênis pretos, o outro, botina encarnada. Pai e filho, mesmo com
traços faciais diferentes? Possivelmente: o amor era visível. Os olhinhos puxados do garoto poderiam vir de uma mãe oriental. A exuberância infantil atraía o olhar dos passageiros naquela linha de transporte público da cidade de São Paulo. Além das movimentadas piruetas, o pequerrucho emitia gritinhos vibrantes a cada par de minutos.
O trem solto nos trilhos e a animação do menino me estimularam a fazer um comentário:
- Como seu filho é entusiasmado!

Uma sombra súbita nublou o rosto do homem, nem respondeu. Intrigada, olhei melhor para o guri. Oh... os olhos amendoados, o comportamento impulsivo, os dedos curtos... a ficha caiu.
Creio que o pequeno tinha a síndrome de Down.
(Ó céus...por que não me calo?)

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