quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

uma família na praia de Santo André

A coleção de depoimentos sobre Santo André está só aumentando... Desta vez trago a voz de um professor paulistano dizendo-nos sobre as três (três!) férias seguidas que  ele e a família passaram no nosso povoado. O Josmar da foto tem um blog neste endereço.
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"Tudo que vou escrever a seguir não vale para jovens baladeiros a fim de um lugar para encontrar outros jovens baladeiros. Mas se você tem filhos, tem mulher, tem um monte de tensões desenvolvidas pela exposição continuada a São Paulo, ou alguma destas características tomadas isoladamente, então leia.
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Chegue a Porto Seguro, mas não perca nem mais um minuto do seu tempo. Pegue logo a estrada para o norte e vá contando as cidades. Você passará por Coroa Vermelha até chegar a Santa Cruz da Cabrália. Ali há uma balsa que atravessa o rio João de Tiba. Ela sai de meia em meia hora durante o dia e tem horários mais espaçados a partir das oito da noite. Ao chegar do outro lado você encontrará um pequeno vilarejo, com umas 900 pessoas viventes, entre nativos e adotados: Santo André. Meu pequeno paraíso particular. É onde mora um pedaço do meu coração.
travessia de balsa entre Cabrália e Santo André na madrugada (foto de Claudia Schembri, moradora)

Como nos conhecemos, eu e a vila? Em 2010 eu fui pra lá com a família no esquema “última opção”. Resortão Costa Brasilis, pacote CVC, preço mais em conta, único com vagas disponíveis. Estava muito muito triste. Tinha acabado de perder o concurso para professor da USP, para o qual tinha me preparado e dedicado muito de meu esforço. Sentia-me entre desamparado e desvalorizado. Queria fugir dessa sensação de derrota.
veleiros e crianças: uma dupla inseparável na enseada que se forma no encontro do rio com o mar
 Sim, o Ricardo Freire, do blog Viaje na Viagem tinha falado bem, mas confesso que fui meio ressabiado. Precisei de algumas horas descalço, de filhos na piscina e da brisa à beira mar para reverter minhas expectativas. Adorei o lugar. Ele é muito especial, a começar pela sua trilha sonora. Não há ali barulhos de máquinas, tirando o ar condicionado e alguns barcos que saem para pescar na madrugada e voltam ao final da tarde. Raramente passa uma moto ou um carro pelas ruas de terra. Há muitos passarinhos destemidos, que fazem ninhos ao alcance da mão e que cantam, meu deus, eles não param de cantar. Se você sair um pouco do esquema piscina com monitor, que as crianças amam (deixe elas lá), seus olhos vão alcançar a praia deserta, o céu azul, a rua de terra, os flamboyants floridos. Pessoas cordiais andam pelas ruas e dizem bom dia. Santo André é lar de alguns artistas, de alguns artesãos, de alguns argentinos, italianos, franceses, suíços. As peles negras, morenas e branquelas se cruzam pela rua principal e pelas vielas. Os restaurantes em volta são cheios de pretensões gastronômicas; alguns acertam, outros nem tanto. Mas sente-se uma aura de boas intenções, tanto que a gente até releva as más tentativas. Tomei um sorvete de creme com compota de caju que nunca me esqueci.
a travessia do rio jequitinhonha entre Belmonte e Canavieiras - um passeio clássico (foto de Giampi)
  Em 2011 fizemos uma votação para o destino da semana de viagem nas férias e as crianças venceram: todas as quatro escolheram voltar. E a experiência foi diferente: eu tinha sido aprovado no concurso da USP realizado no meio de ano (dobrei minha altivez, atendi a um pedido muito especial de um querido aluno, me inscrevi e prestei de novo). Estava saindo da Rio Branco orgulhoso do trabalho realizado em quase 10 anos de carreira. Santo André me recebeu de novo com a mesma serenidade. Desta vez alugamos um carro, fomos até Belmonte ver aonde o asfalto da estrada nos levaria: descobrimos, 50 quilômetros à frente, as margens do Jequitinhonha, seu encontro com o mar e uma cidade com resquícios de seu esplendor cacaueiro com arquitetura peculiar, colonial que, se agora está meio desamparada, ainda guarda os traços de sua imponência.
final de tarde macio, na ponta de santo andré
 Naquele dia, voltando de Belmonte, paramos na barraca da Maria Nilza, na maravilhosa praia do Guaiú e apreciamos uma moqueca temperada pela brisa do mar e pela simplicidade de um lugar sem energia elétrica nem água encanada, no qual se toma banho de canequinha. Pronto, fomos conquistados de vez. O único estresse de toda a viagem foi que perdemos nossa máquina fotográfica, com o registro visual de todas estas lembranças.
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Em 2012 a família começou a decidir o destino da semana do verão a que temos direito. Debatemos muito com certo consenso de que voltar a Santo André estava fora das cogitações. Mas aí debatemos e debatemos mais. E voltamos pela terceira vez seguida, porque, seguindo uma lógica muito própria, “tínhamos que tirar as fotos de novo”. Ao nos registrarmos na recepção do hotel, o rapaz perguntou: “vocês não estiveram aqui antes?”. Terceira vez.
subir o rio joão de tiba de barco: um passeio imperdível
 Então fomos descobrindo novas coisas: o grande peixe de madeira à beira do rio, que serve de instrumento musical, à disposição de quem quiser tocá-lo. A praia das Tartarugas, com seus recifes, que se torna piscina no final da tarde. A linda vista do morro de Santo Antonio. Os doces de dona Pombinha lá em Belmonte, incluindo uma maravilhosa bala de mamão caramelizado. E reafirmamos velhas coisas: a paz de espírito que há quando nos afastamos da metrópole, a felicidade de ver os filhos 2 anos mais velhos, mudando de fundura na piscina.
o xilopeixe da praia (foto do IASA)
 Um dia fomos de carro até o Eco Parque em Arraial d’Ajuda, uns 50 quilômetros e duas balsas ao sul. Na volta para o hotel eu disse para minha mulher: “sinto uma coisa mágica ao atravessar este rio”.  Sempre reencontro com afeto essa minha grande São Paulo, da qual sou célula e cimento. Mas admito que minhas estadias nesse vilarejo minúsculo, perdido no meio do sol, à beira do rio João de Tiba, me deixam com caraminholas na cabeça. Fico pensando em como seria construir a vida de forma diferente. Que isso é meio maluco, mas que é possível. Dessa vez até perguntamos o preço de uma casa lá. Sei, sei, é poesia destrambelhada. Muito mais barato e inteligente pagar as diárias no resort. Mas que é muito bom poder deixar a cabeça flutuar um pouco, feito passarinho sem medo, isso é. 
Axé.”
o cinema sob as estrelas acontece o ano todo, sempre às sextas-feiras, no restaurante Casapraia (foto de Silvia Helena Cardoso)

2 comentários:

Anônimo disse...

Ola Olimpia, como vai voce?
to chegando agora, hoje..passei o dia com um casal de amigos Taty e Biano, que cehgaram ontem dai..
fiquei encantada, talvez pq esteja em busca de novos ares, talvez pq o Universo sempre conspira a nosso favor, fato é que pretendo ai ir!
mesmo alone, pagando mais caro não importa.
dai lendo seu blog a vontade só aumentou...
um grande abraço

Cristie

olimpia disse...

Olá Cristie,

É bom saber que seus amigos gostaram de Santo André. Depois do carnaval o povoado fica bem quietinho... se você gosta de sossego, então é aqui mesmo... rsrss
beijos, boa sorte!
olimpia