sábado, 24 de novembro de 2012

navegar é preciso

Um amigo me mostrou esta coletânea de crônicas da jornalista Lívia Nunes. Foram publicadas no jornal em que ela trabalha, em Taquaritinga (SP) - obrigada aos dois pelo presente!
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tela de Georg Schrimpf

– Relaxe, mãe. Essa é frase que mais tenho dito nos últimos tempos, no melhor estilo "faça o que eu digo, não faça o que eu faço".
Integrante de uma geração que vivenciou – mas não viveu – a liberalização sexual, as viagens lisérgicas e tantas outras revoluções que seguem transformando o mundo, a Diva faz o impossível para quebrar a resistência diante de tantos assuntos – mas uma hora a estrutura balança. Namoro de muitos, muitos anos, filhos só depois de casada, tudo nos conformes de então, hoje ela se vê, ao lado do Flávio, na ponta de uma família com crianças fora do casamento, filhos casados não oficialmente e não casados com filhos. A maioria dentro de sua casa. Passa noites em claro velando o sono de netos febris, num momento da vida em que deveria apenas curtir a parte boa de ser avó.
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C’est la vie. E ela ama. Mas anda tendo muita dor de cabeça, preocupação dobrada e a sensação de que está perdendo o controle da situação. Aí é que entro com meus ensinamentos de autoajuda, talvez para aliviar a culpa: ninguém tem o controle de nada, mãe. Ninguém controla o leme da vida. Da própria e de nenhuma outra. Temos a ilusão – e é só mesmo uma ilusão – de que somos responsáveis por nossos caminhos, de que podemos programar nosso destino. Não podemos. A gente até toma decisões, mas essas escolhas são ínfimas se olharmos o todo. Somos pó. E ao pó voltaremos. A "Bíblia" diz isso, não é?
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Vou crescer, me casar, ser promotora de Justiça que nem meu pai e morar em casas conjugadas com as das minhas melhores amigas, a Mônica e Ana Lúcia. Esses eram meus planos quando eu tinha 5 anos de idade. Eles mudaram muito no decorrer do tempo, e nenhum deles, nenhum, se concretizou. 
ilustração Daniel Kondo
 Porque, no meio do caminho, você descobre que aquele emprego tão almejado traz mais angústias que realizações; porque alguém vai embora; porque um coração para. Porque uma onda gigante e silenciosa passa tragando tudo e todos pelo caminho, nas férias paradisíacas dos gringos ricos nos países de terceiro mundo.
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É praticamente impossível estarmos vivos. Sob qualquer ótica, religiosa ou científica. Contraria a lógica. Se foi Deus quem escolheu nos criar, a sua imagem e semelhança, e nos tornar os únicos – que improvável! – seres deste tipo no universo conhecido, thank you, God! Por outro lado, se, num golpe de sorte, o nada explodiu e cá estamos nós, gás e poeira cósmica, pensando, amando, construindo uma história, é nossa obrigação retribuir. 

Vivendo. Não transformando coisas ínfimas em problemas. Não desqualificando o outro porque não conseguimos lidar com nossa própria insignificância. Sem muitos dramas. Porque eu digo, e repito, e repito: é curta e boa, essa vida. Há sofrimento; então, que não soframos por antecipação. O bom é aproveitar ao máximo esse intervalo rumo ao desconhecido.

2 comentários:

Marconu disse...

Sei que sou suspeito, já que a autora é minha irmãzinha, mas realmente o texto é demais!!
Um beijo pra ela e um grande abraço a todos do Blog, com os parabéns pelo bom gosto...rs...

olimpia disse...

Olá Marconu,

só agora vi seu comentário... estou em santo andré e aqui na praia a internet encolhe...
sua irmã além de escrever bem é um amor de pessoa
um abraço da Bahia