domingo, 6 de janeiro de 2013

Quem foi Juracy Magalhães?



Morávamos eu e o Cláudio, na rua que aparece ao lado, na praia de Santo André, em Santa Cruz Cabrália.  Ficamos por um tempo perto de seis anos. Sem endereço completo, sem carteiro, sem CEP – até o nome da rua era discutível.    Tem  morador que fala  “Rua do Telégrafo”, outros chamam de “Rua da Linha”.  Os dois nomes lembram o passado, antigamente a linha do telégrafo passava por essa rua.   Para evitar confusão era melhor dizer: moro na rua do Juracy – um nativo que todo mundo no povoado conhece – ou mencionar a  pizzaria da Joyce. Porém na conta de luz o endereço escrito é outro -- diz “Rua Juracy Magalhães s/n”. Esse Juracy da conta de luz não é o mesmo que mora na rua. É  um fulano que já morreu, dele só tenho idéia vaga – sei que foi militar e político poderoso: um personagem de cúpula da elite brasileira, quem sabe um tio ou avô do Antonio Carlos.

Descobri recentemente que  Juracy não era baiano verdadeiro – nascido em Fortaleza, fez carreira na Bahia após ter sido enviado por Getúlio Vargas para ser o interventor no Estado, em 1931. Na tenra idade de 26 anos: imagine o despeito despertado nos poderosos da política baiana, cuja autoestima  andava em queda desde que Salvador perdera a condição de capital do país. Chamavam o Juracy de “político imberbe” e “energúmeno interventor forasteiro”. Juracy estava apenas começando uma longa carreira para o topo das hierarquias.
 Ele era uma lenda  do “tenentismo”, a articulação político-militar formada por oficiais de patentes menores que, aliados às oligarquias do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais puseram em marcha a chamada Revolução de 30 e desmontaram o poder político do que conhecemos como  República Velha. Queriam o fim das fraudes eleitorais e do voto de cabresto,  clamavam contra a corrupção e contra as oligarquias carcomidas pelos vícios do poder.  Os tenentes acenderam esperanças no povo. Juracy chegou em Salvador para mandar, depois de se empenhar na queda de cinco governadores.  De lenços vermelhos, seus soldados foram recebidos com flores e festa popular. Os salões da sociedade baiana não gostavam do Juracy,  mas nas ruas ele era rei.  
Em 1930 quando Washington Luís foi deposto pelo golpe de Getúlio e dos tenentes, os gaúchos ataram seus cavalos no obelisco da Av. Rio Branco, no Rio de Janeiro
Juracy foi se acercando dos banqueiros, do clero, dos usineiros de açúcar, dos grandes fazendeiros. Era vaidoso, vestia-se com a elegância de um dândi, contrastando com o ditador Getúlio Vargas que colocava o cós das bombachas perto dos mamilos. 
Foi o responsável pela primeira prisão de Carlos Marighella, um dos baianos mais famosos do planeta. Marighella, estudante de engenharia civil e outros 513 universitários foram cercados no Terreiro de Jesus, onde se achava a faculdade de medicina. Os estudantes reinvidicavam a elaboração de uma Constituição democrática para o País -- gritavam contra o autoritarismo, proclamaram “Às armas, baianos!” e empunharam velhos fuzis de Canudos. Um homem foi morto Nelson Carneiro, um dos líderes da ocupação e futuro senador da lei do divórcio, foi detido e tomou uma surra de chicote e cano de borracha. Na cadeia por dois dias, Marighella compôs um poema atacando Juracy, que jamais o perdoou.
Marighella, como se sabe, morreu de tiro durante os anos de chumbo da ditadura militar. 
Já oJuracy... ah, este foi longe... li na Wikipedia  que ele
ganhou uma casa de amigos, na capital baiana, no Monte Serrat  - a mesma onde seu filho, Juracy Magalhães Júnior, cometeu suicídio. Seu outro filho Jutahy Magalhães também foi político e seu neto Jutahy Magalhães Junior é deputado federal.

Sua trajetória política foi muito beneficiada pela proximidade com os militares. Exerceu os seguintes cargos: senador da República, deputado federal, adido militar e embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Ministro da Justiça e Relações Exteriores. Foi também o primeiro Presidente da  Petrobrás  e presidiu a Companhia Vale do Rio Doce"

Espero que um dia, quando o  povoado de Santo André ganhar nomes e números da prefeitura, batizem a nossa rua de linha, de telégrafo, de ingá, de juazeiro, qualquer árvore... mas nada de Juracy Magalhães, por favor...

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei esta sua postagem. Sempre que posso leio o seu blog.

olimpia disse...

Obrigada!
Fiquei contente com seu comentário...