sábado, 22 de setembro de 2012

até tu, Brutus? Júlio César, de Shakespeare



Deborah Kerr, no papel de Pórcia
William Shakespeare, poeta nacional da Inglaterra e maior dramaturgo da literatura universal, é o criador de personagens eternos – quem nunca ouviu falar em Romeu ou Hamlet?  Desenhou o retrato da alma humana com tamanha perfeição que 400 anos depois suas peças continuam a ser encenadas em todo o globo. Algumas delas tratam de temas da história romana: Tito Adrônico (uma tragédia violenta), Antônio e Cleopátra (a relação amorosa entre o militar romano Marco António e a imortal rainha do Egito), Coriolano (um general lendário da Roma antiga), e ainda Júlio César -- uma peça em cinco atos que trata da conspiração dos senadores romanos contra o vitorioso general, seu assassinato por esfaqueamento aos pés da estátua de Pompeu, a traição de seu (in)fiel seguidor Brutus, e a fúria indignada de Marco Antônio, seu amigo verdadeiro, que faz um dos mais célebres discursos da história do teatro. Na obra transparece o fascínio que o poder exerce sobre o ser humano, a lealdade, a vaidade, a traição, a possibilidade de manipulação das massas pelo poder da palavra.
Alguns dias atrás, um amigo-poeta (Piero Eyben) postou o poema Aproximações ao Topázio,  de Haroldo de Campo

o topázio
canibaliza seus amarelos
lente no olho tórrido
da luz
forno solar

"Sem título" (obra de Cy Twombly, artista americano)

Queria, quiçá, aludir à seca sufocante que assola o planalto central nesta época do ano ou à beleza gema-de-ovo dos ipês amarelos que explodem cor no céu azul-brilhante da capital.
Agora explico como é que Shakespeare e Júlio César surgiram nesta rede. Na peça, a mulher de Brutus (que se chama Pórcia) escolhe um modo terrível e incrivelmente original para se suicidar. Quando tem notícias das derrotas que Brutus enfrenta nas batalhas travadas durante a guerra civil desencadeada pela morte de César, Pórcia, apavorada, coloca brasas incandescentes na boca. Morre em duplo suplício -- queimaduras e asfixia.

Algo mais ou menos assim, como na segunda estrofe do poema de Haroldo

                                     aqui se mascam
                                     carvões ardentes

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