sexta-feira, 26 de abril de 2013

velejar até Santo André da Bahia



Uma das coisas que me encantou durante os seis anos que vivi  no povoado de Santo André da Bahia foi o movimento das embarcações no rio João de Tiba; a constante visão dos barcos entrando e saindo do mar emociona, é mítica.  Os mais românticos, claro, são os veleiros e os mais desconcertantes são as chalanas, coitadas, como são feias e pesadas, se comparadas com as escunas, por exemplo. Quem nunca sonhou viajando os mares do mundo de veleiro? Há pouco tempo, encontrei num jornal de Natal, o depoimento de um velejador que esteve em Santo André. Veio para o rede furada, vai fazer parte da coleção de relatos sobre aquela particular vila baiana. 
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Nelson Mattos Filho - avoante1@gmail.com
"Santo André no sul da Bahia é um daqueles lugares que qualquer turista amante da natureza gostaria de conhecer. Típica vila de beira de praia, descolada, tranquila, poucas casas, praia belíssima entre o rio e mar, e com toda pinta de lugarejo ainda em estado bruto, apesar de já contar com boa infraestrutura de pousadas e restaurantes.
O belo destino turístico, distrito de Santa Cruz de Cabrália, conserva um suave ar de inocência e rusticidade em meio a uma mata verde e com diploma de  APA (Área de Proteção Ambiental). 
A proximidade com Porto Seguro lhe dá um charme especial e faz com que grupos de turistas perambulem pela praia todos os dias, levados por escunas e chalanas em passeios pelo Rio João de Tiba, para aproveitar o gostoso banho de mar, lavar os olhos com a bela paisagem e se deliciar na brisa gostosa que sopra sobre o lugar.
regata Costa-Leste 2010
 Santo André sempre fez parte dos nossos planos de navegação, aceitando a indicação de inúmeros amigos, porém faltava a oportunidade e força de vontade para ir até lá. Chegar de barco é quase uma aventura, devido aos arrecifes e bancos de areia que se estendem mar adentro. A grande maioria é totalmente invisível aos navegantes e por isso a navegação deve ser precisa. Fico imaginando como os comandantes das naus e caravelas enfrentaram aquelas barreiras naturais. A coisa deve ter sido feia!
O pequeno lugarejo tem apostado alto no turismo náutico e principalmente na pesca de oceano, aproveitando a proximidade com as grandes profundidades oceânicas, propícias a cardumes de Marlins e outras espécies que fazem a alegria dos pescadores esportivos.
Já faz um bom tempo que velejadores de cruzeiro mais afoitos adentram a barra de Santo André. Em tempos mais recentes, os guias náuticos da costa baiana incluíram o local em suas páginas, indicando rotas seguras e convidativas. Como hoje em dia as Cartas Náuticas digitais oferecidas ao navegante amador estão mais precisas, eficientes e se popularizam seguindo o rastro da informática, essas pequenas e difíceis barras estão cada vez mais acessíveis, incentivando novos velejadores a se fazerem ao mar e incrementando o turismo náutico.

O restaurante e pousada Gaivotas, que foi uma das antigas Bases de Apoio Náutico, continua prestando apoio aos navegantes que por lá aportam. Lá o velejador tem liberdade de utilizar os banheiros para um delicioso banho, pegar água potável e também a alegria de encontrar no cardápio um prato, com preço especial, denominado Veleiro. A toda essa facilidade ainda se soma a atenção e carinho dispensado pelos proprietários e funcionários.
Foi para esse palco da natureza que rumamos quando levantamos âncora de Ilhéus, a bordo do veleiro Naumi que levamos para o Rio de Janeiro. Foi uma velejada perfeita em mar de almirante e vento leste levando o Naumi a fazer a média de 5,5 nós de velocidade. Precisávamos chegar à entrada da barra com a maré cheia ou enchendo, mas a velejada foi tão boa que chegamos com folga de quase uma hora.
A aproximação é meio apreensiva para quem faz isso a primeira vez, como era o nosso caso, mas como eu estava super seguro e confiante na minha navegação, não tive nenhum sobressalto. A não ser redobrar a atenção na localização de uma pedra isolada e submersa bem na ponta do arrecife, já próximo à praia. A navegação a partir dessa pedra é colada ao arrecife e em profundidades que variam de 6 a 2,5 metros. A impressão que se tem é que de uma hora para outra as pedras vão lamber o casco. De um lado é pedra e do outro um imenso e raso banco de areia. Essas são as condições para chegar ao paraíso.

Mas não pense que a conta acabou, pois a ancoragem requer ainda mais atenção. O canal é estreito e o local indicado para ancoragem é limitado e raso. O Rio João de Tiba tem forte correnteza e o vento briga insistentemente contra ela. Tivemos de ancorar duas vezes, pois na primeira o barco garrou e na segunda não baixei mais a guarda.
Santo André é realmente um lugar muito bonito e vale ser conhecido, apesar do desassossego da ancoragem. Passamos dois dias ancorados por lá e deu vontade de ficar mais uns dois, mas precisávamos prosseguir viagem.
Uma deliciosa moqueca de dourado marcou a nossa presença em Santo André, mas não pense que foi em algum restaurante local. Foi preparada por Lucia e servida também à tripulação do veleiro Timshel que estava junto com a gente. Estava boa e apimentada como deve ser a boa moqueca baiana!"

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