domingo, 20 de maio de 2012

Homem Caminhando - Alberto Giacometti


De passagem por São Paulo, fui até a Pinacoteca apreciar a visão das obras do artista suíço Alberto Giacometti. A Mostra é um fruto da paciência. Foi preciso um trabalho de  contatos internacionais -- que durou três anos -- com a “Fundação Alberto e Annette Giacometti”, de Paris. Significante, traça as etapas da trajetória deste inclassificável artista cuja produção acompanha os grandes movimentos da modernidade: cubismo, surrealismo, abstração e retorno à figuração.
Um exigente caminho independente.
Lá estava, por exemplo, uma das mais queridas estátuas de Giacometti, a monumental escultura do Homem Caminhando, concebida para o projeto do Chase Manhattan Plaza de New York (a foto é da internet, não houve permissão para fotos na mostra paulistana).  A primeira escultura desta série – um bronze de 1,83m -- tornou-se uma das obras de arte mais caras já vendida num leilão da Sotheby’s. O lance inicial era 12 milhões de libras esterlinas. Oito minutos depois  foi arrematado por 65 milhões, por um tycoon anônimo que apostava pelo telefone. Jamais saberemos o que Giacometti teria feito com esta fortuna; a ironia consiste em saber que ele passou a maior parte de sua vida num estúdio diminuto em Paris.
Giacometti em seu estúdio (fotografado por Robert Doisneau)

Antes de "L'Homme qui marche" o recorde financeiro de obra de arte pertencia a uma tela de Picasso -- Menino com cachimbo -- inspirado na figura de um adolescente da vizinhança. Retrata um jovem pálido em meio a flores que formam uma coroa sobre sua cabeça e sugerem asas de anjo às suas costas. Na mão ele segura um cachimbo – referência ao ópio consumido no enfumaçado ateliê daquela fase boêmia (e rosa) do pintor catalão,  afirma a crítica.
Voltando para o Giacometti:  Mulher Colher é uma de suas obras que mostra a influência da arte primitiva em seu trabalho. A metáfora africana servia para representar o útero feminino em colheres utilizadas nos rituais de fertilidade. A escultura de Giacometti  reverte esta equivalência. Os críticos de arte dizem que ao tomar a metáfora e invertê-la ("a colher é como uma mulher" torna-se "uma mulher é como uma colher") o artista conseguiu intensificar a idéia e torná-la universal, elevando as formas das esculturas africanas para um prisma abstrato.
Este homem alto que caminha a passos largos e decididos me fez lembrar um amigo poeta, um homem antigo que no momento é um jovem professor da UnB, Piero Eyben -- na foto com a mulher, Fabrícia Wallace. Foi ele que me deu  a dica do livro - "O Ateliê de Giacometti", de Jean Genet.            (foto de Giacometti por Cartier-Bresson)

Lembro-o sempre do livro do Genet sobre esse que é um dos mais instigantes mestres do estatismo escultural:
“Mas também despertam em mim um curioso sentimento: são-me familiares, cruzam-se comigo na rua. Ora elas vêm do fim dos tempos, do princípio de tudo, e não cessam de vir ou recuar com soberana imobilidade. Se os meus olhos tentam aprisioná-las, aproximar-se, elas - sem fúria nem cólera nem ira, apenas pela distância entre nós, que eu ainda não notara, de tal modo reduzida e escassa, a ponto de as julgar ali mesmo - afastam-se a perder de vista: desdobra-se subitamente a distância. Para onde vão? Embora a sua imagem continue visível, onde estão elas?”

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Na saída não consegui resistir à tentação -- transgredi o código da Pinacoteca... cliquei rapidinho o professor conversando sobre Giacometti com os alunos ...

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