sábado, 27 de outubro de 2012

Billie Holiday (LADY DAY)



Nova York, manhã de 17 de julho de 1959.  A cantora Billie Holiday morre aos 44 anos num hospital do Harlem com o organismo debilitado pelo uso descontrolado de álcool e drogas. Silencia a voz de uma grande cantora de jazz.  A história dolorosa de Billie é bem conhecida – quando ela nasceu seu pai tinha 17 e a mãe apenas 13 anos.  O pai era guitarrista, banjoísta e egoísta. Largou as duas. Saiu da cidade. Na infância sem inocência Billie foi violentada por um vizinho. Mudou-se com a mãe para New York. Passou fome, se prostituiu ainda adolescente, teve casamentos e relacionamentos tumultuados, adquiriu o vício da heroína e a fama eterna. Foi o saxofonista norte-americano Lester Young que lhe deu o apelido de Lady Day. Os dois gravaram juntos cerca de cinqüenta canções repletas de swing, cumplicidade e talento invulgar.
quadro mostrando Lady Day com orquestra
Se fosse pela biografia, Lady Day seria Lady Night – até porque passou boa parte da existência apresentando-se em casas noturnas.  A primeira negra a se tornar cantora em bandas de branco no auge da segregação racial nos Estados Unidos.  Costumava terminar os shows cantando Strange Fruit, uma canção de protesto contra o racismo. A música compara  "as estranhas frutas" com os cadáveres dos negros linchados e dependurados pelos pescoços nas árvores do Sul do país.   Em 1999 – quarenta anos depois da morte de Billie – a revista Time elegeu Strange Fruit como a canção do século.
Há uma versão em português de Carlos Rennó

"Árvores do Sul dão uma fruta estranha
Folha ou raiz em sangue se banha 
Corpo negro balançando, lento
Fruta pendendo de um galho ao vento", dizem os primeiros versos.
A sequência é de arrepiar:
"Cena pastoril do Sul celebrado
A boca torta e o olho inchado
Cheiro de magnólia chega e passa
De repente o odor de carne em brasa
Eis uma fruta para que o vento sugue
Pra que um corvo puxe, pra que a chuva enrugue
Pra que o sol resseque, pra que o chão degluta
Eis uma estranha e amarga fruta".
"Lady Sings the Blues" 
Dona de voz única, Eleanora Fagan (seu nome de batismo) se fez conhecida  pela interpretação emocional doce e sensual de suas músicas, repletas de elementos trágicos, melancólicos, transbordantes de dor e tristeza. Reflexo da experiência pessoal de uma mulher negra, marginalizada pela sociedade de seu tempo. 
A artista influenciou os rumos do jazz -- virou mito. Fazia da voz um requintado instrumento e não cantava uma música duas vezes da mesma forma.   De 1933 a 1944, Lady Day viveu seu apogeu – depois o descontrole do vício começou a afetar o frescor e a jovialidade de sua voz. Mesmo vivendo a decadência, bastava Lady Day interpretar os primeiros versos de um blues, para o fiapo de voz assumir proporções gigantescas.
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ouça  strange fruit    

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