quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Lygia Clark: a revolução dos bichos

O escritor Ezra Pound diz em "ABC da literatura" que os poetas são as "antenas da raça", seres que sentem o rumo da mudança com antecedência visionária.  Acho possível incluir os artistas plásticos sob esse guarda-chuva. Eles também são "framebrakers" ("rompedores de molduras") -- revolucionários que expandem limites, quebram padrões, trazem ideias novas.  A mineira da foto ao lado, Lygia Clark,  fez isso ao pé da letra -- ela deslocou a pintura para fora do espaço apertado das telas. Pesquisou a "linha orgânica" que existe na junção de dois planos, como entre a tela e a moldura. Saltou a moldura, criando formas que literalmente escapavam das telas, como sua mais famosa série: Bichos.  Os bichos, são placas de metal articuladas com dobradiças que podem ser manipuladas livremente, criando um bicho diferente, a cada vez. A artista demanda  a participação do espectador, exige uma interação com o trabalho dela.
Quando passei por último em São Paulo, fiz exame clínico no Hospital Santa Catarina, início da Av. Paulista.  Bem defronte ao Itaú Cultural -- havia uma restropectiva aberta de Lygia Clark, uma mostra que caminha em paralelo com a trigésima  Bienal de São Paulo. Me arrastei até lá.
No piso térreo está o "espaço imantado" com duas obras sensoriais abertas à experimentação do público. Uma consistia em calçar pesados sapatos de ferro -- com ímãs na sola metálica -- e caminhar por uma forma geómetrica no chão, onde havia imãs ocultos sob a superfície, e se a pessoa não pisasse com cuidado, bem devagarinho... podia cair.
Alguns caíram.. rsss
Impagável (ninguém se machucou)

A outra experiência sensorial de ímas é feita com um cinto que as pessoas amarram na cintura. Alguns cintos tinham polo negativo, outros, o positivo. Quando duas pessoas com polos opostos ficavam próximas, os ímãs "puxavam" forte e eles davam umbigadas recíprocas.  Espetáculo não-programado... hilário... ri o tempo todo, só de ver o susto, o puxão, a umbigada.
No andar de baixo, duas salas exibem documentários da vida e da obra de Lygia Clark, falecida em 1988.  Que divertido, usar as máscaras e os capuzes que a gente  podia manusear à vontade.
alô? ..que tipo de visual é esse, hem
me senti na única posição confortável que existe num cadafalso
Esse arcoíris de macacões estavam arrumadinhos contra a parede. A parte lúdica consiste em escolher  a cor, vestir por cima da própria roupa.. . a textura é igual. Esse grupo levou um tempão discutindo quem ia ficar com qual cor... Os monitores do Itaú colaboram com o clima "absurdo": costuram a perna de um, com o braço do outro, vão "amarrando" a platéia e a obra
Lygia, que loucura.
(adorei as visões e o tateado, linda)
o que não deu pra entender, deu pra sentir

beijos, de sua
admiradora

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