domingo, 14 de outubro de 2012

Salto Angel, Venezuela



Na manhã seguinte, tomaram ônibus para Ciudad Bolívar, distante 700 kms, um trecho da viagem dentro do Parque Nacional Camaina (Gran Sabana), patrimônio ecológico da Venezuela. Cheio de lagoas e rios, o parque dá oportunidade de se apreciar os tapuis,  formações naturais altíssimas parecidas com mesas gigantes.  É de Ciudad Bolívar que os viajantes decolam para a Laguna de Camaina, na rota do Salto Ángel.  O frete aéreo mais barato é de tecoteco, velhos e minúsculos Cessnas de precário chão de tábuas, cordinhas enroladas nas maçanetas das portas.  Chovia dentro e fora do Cessna. O pouso é no acampamento da aldeia Camaina, uma ilhota defronte a 3 cachoeiras estrepitosas.  Quartos amplos, agradáveis ao olhar, redondos. A noite foi de conversas e risos no jantar com um casal de turistas da própria Venezuela.  O marido ardoroso adepto de Chavez, a mulher uma oposição medonha. Discutiram e brigaram ao longo de todos os pratos e copos, sempre por motivos políticos. Antes de deitar, a lavagem da roupa suja nas tinas, algumas páginas de Machado de Assis.  

Únicos brasileiros naquela penca de turistas, variada de espanhóis alemães escandinavos japoneses.  Dali para o Salto Ángel segue-se em curiaras (uma canoa indígena comprida).  Numa delas coube os três brasileiros, um casal de franceses, um belga, e três indíos bilíngües em espanhol e kamarakoto. Um autêntico e maravilhoso programa com índios. A subida do rio leva quatro horas de luta com as corredeiras, aparecem pedras antigas à superfície, é preciso desviar-se delas a todo momento, parece sinistro, conta-se com  a perícia dos remadores. 
fotografia david dominguez
 A visão embarca os altíssimos tepuis, a rica vegetação, cascatas, pássaros. A canoa não virou. Próximo ao local de acampamento, no meio da mata amazônica que se espalha pela Venezuela,  é preciso passar repelente químico. Selva é lugar estranho pra quem vem da cidade. O percurso até a cachoeira é curto, a pé dá uma hora, e meia, montanha, acima, acima. Esfalfa-se.  Uma plantinha delicada, de frutos lilás, chamou a atenção de Cécille, a moça francesa. Estendeu a mão para colher o fruto.
Parou, quando o guia gritou:
No lo toques”
Era a planta do curare.  Que toque sinistro.
Um esforço final na subida e -- ecco -- surge o poço formado com água da cachoeira. É preciso torcer o pescoço todo pra cima pra enxergar de onde vem a água. Esse shangrilá foi encontrado pelos próprios venezuelanos em 1910. Em 1937, um aventureiro americano que procurava ouro, Jimmy Angel, "redescobriu" o lugar e conseguiu batizar a cachoeira com o nome dele: Angel Falls. Oscar, o guia índio faz um comentário em tom baixo... "nossos antepassados viviam aqui desde sempre...desde antes dos estrangeiros"
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(continua no próximo - e último -- post)


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