terça-feira, 14 de setembro de 2010

Brasília em sol maior


os primeiros dias em Brasília

Quando saí de Santo André da Bahia no mês passado, foi com o coração apertado, pois sabia muito bem o que me esperava: um ambiente feito de argamassa com cristal. Lá no planalto central do Brasil passei dez dias que abalaram meu hemisfério pessoal. Precisei trocar uma casa grande e velha (onde morei por décadas) por dois apartamentos pequenos e novos. O que eu não sabia, era que me desfazer daquela casa muito engraçada – quando mudei para lá, não tinha vizinho, não tinha nada – iria fazer emergir memórias ternas misturadas com restos de demolição. Caramba, a gente não se conhece mesmo. Fazer operações imobiliárias na vida real não tem nada a ver com Banco Imobiliário ou Farmville – é um estresse enorme e ainda por cima atrelado a cartórios, certidões, escrituras e intermináveis visitas à procura de imóveis entupidos de corretores armados até os dentes de artifícios e propagandas enganosas (as exceções que me perdoem). Passou, consegui sobreviver. Mas não sei o que teria sido de mim não fosse o apoio do Cláudio, da família e dos amigos. Quem quiser que seja ilha, eu quero mesmo é ser arquipélago.
Do cristal o que recordo é o cristalino encontro com as pessoas que amo naquela cidade, a começar pela minha família que pude rever e abraçar graças a gentileza da Thelma e do Fausto que organizaram o tradicional churrasco de reencontro sanguíneo – de um ano até os 63 de idade quase todo mundo estava por lá, até mesmo o Thalis, meu único irmão, o único que ficou em Natal, um homem apaixonado por uma mulher chamada Adrenalina e que não por acaso estava participando do campeonato brasileiro de vôo livre na categoria senior. Deu-nos um susto – numa das largadas da rampa de lançamento a asa delta estolou e desceu em parafuso de um lugar muito ALTO – por um pequeno milagre só perdeu um pedaço do nariz, foi arrancado por um galho da árvore em que aterrissou.

Isadora e Luca

Enquanto isso, estávamos instalados na casa de duas amigas que se encontravam fora da cidade e nos emprestaram sua casa, ou melhor, sua mansão – uma residência lindíssima, cheia de salas e suítes, a gente estava gostando tanto que chegamos a desejar que as hóspedes fossem elas, rsrsrs... Cláudio adorou o home teather de última geração, TV Digital e outros mimos tecnológicos (obrigada, Nelma e Cleide). Quando voltaram, vimos que tudo não passara de um sonho e nos mudamos para a casa de Patrício e João que se não tinha piscina e conforto extremo, tinha o mesmo carinho, e uma graça de sala com puffão branco e pilhas de discos ótimos. Além de Sofia, a bichana que estava louca para fazer a malinha e se mudar para a Bahia, mas os malvados não permitiram. E principalmente tinha Marineide, um combo de cozinheira, mãe-de-santo e mordomo. Nunca vou esquecer dos olhos dela, tão atentos e doces, e de como estava engraçada vestida com aquela camisola branca e robe bordado no estilo cearense...Os encontros que promoveram para que pudéssemos conversar com outros amigos resultaram em intensas e inesquecíveis horas de bela amizade. Copiei uns 20 discos originais do Patrício, entre os quais Karina Buhr (uma cantora para a qual a Guiomar já havia me despertado a atenção), Tulipa Ruiz, Márcia Castro, Smoke City, Yoyo Ma, Andreia Dias, Beto Villares, Dona Zica, Carlos Careca, Moreno Veloso – uma verdadeira cachoeira de música. Presentão! Obrigada, Brod! Depois disso, veio a comida vienense na casa da Zuzu e Elisa, surgiu no meio de um improviso e acabou se transformando num jantar requintado. Ocasião perfeita para revermos Marlene. A alemã adora comer bem, ora se gosta. Uma ma-ra-vi-lha, adorei os bolinhos (knödel), acompanhamento delicioso para o o gulash.
Brasília tem hoje uma diversificada e sofisticada gastronomia, porém nada é melhor do que comer e beber (e amar, tem um filme assim, não tem, com a Júlia Roberts?) na casa de amigos... O bobó de camarão com batata baroa e o “escondidinho de bacalhau” da casa de Antonio e Alice me fizeram esquecer qualquer número da balança! No finalzinho da viagem afetiva, o “tchai” de Gisa Müller e a degustação de vinhos e queijos em casa de Piero e Fabrícia, as conversas boas, ricas – amo as conversas e o afeto, acima de tudo – a presença da Bianca e sua amiga paulista.

Os que não foram citados, não foi por esquecimento... É só para não esticar demais a postagem. Foi tudo muito forte, muito bonito. É isso que eu mais sinto falta de Brasília – das pessoas. A gente tem feito amigos novos e queridos em Santo André da Bahia – tem sido importante e reconfortante encontrar outros pares. Mesmo assim, amigo antigo a gente nunca esquece.

 Knödel 


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