domingo, 20 de fevereiro de 2011

Amsterdã, Holanda

Em certa ocasião, uma amiga professora perguntou-nos se poderíamos hospedar seu namorado holandês que chegaria em breve de Amsterdã para dar um curso na Universidade de Brasília. Naquela época, meu marido e eu ainda morávamos em lugares distintos, o que veio a simplificar  a questão da divisão do espaço: Cláudio se mudou para meu apartamento e o dele foi cedido para o Klaas ocupar.  Não tenho dúvidas de que o holandês ficou bem instalado e se sentiu à vontade, porque precisei passar por lá alguns dias depois para pegar qualquer coisa que havia esquecido e não pude deixar de notar que os porta-retratos com as minhas fotos tinham sido guardados dentro dos criados-mudos.  Em compensação havia fotos da namorada dele por toda a parte...
Poucos anos depois vivemos a experiência inversa:  chegamos em  Amsterdã quando Klaas e nossa amiga professora estavam morando e trabalhando na cidade. Desta vez foi o Klaas que nos cedeu a casa dele: Cláudio e eu ficamos sozinhos num apartamento lindinho, com uma imensa janela de vidro projetada para fora do edifício, bem na frente de um daqueles encantadores canais da Veneza holandesa.  Pelo lado de dentro, havia uma  pequena mesa de madeira clara com duas cadeiras encostadas na vidraça da janela,  e uma grande árvore de galhos pendentes sobre o canal pelo lado de fora. As melhores memórias que guardo daquela cidade são desse cenário idílico e das cervejas e conversas de amantes em torno daquela mesinha.
Àquelas alturas a gente já sabia que o Klaas não era apenas antropólogo e palestrante: sempre fascinado pela África, dedicou grande parte de sua vida ao estudo dos conflitos do continente  e na década de 80 esteve ativamente envolvido na luta anti-apartheid. Em 1985 ele foi preso na África do Sul, acusado de contrabandear armas e explosivos para os aliados de Nelson Mandela, de quem se tornou amigo. Conseguiu se refugiar na embaixada holandesa em Pretoria, onde permaneceu por dois anos, causando um incidente diplomático de razoável incômodo. Mas só nos demos conta do quão famoso ele era na Holanda quando o vimos ser entrevistado na TV e pela maneira como o saudavam nos restaurantes e bares para onde nos levou.
Eu já tinha esquecido o sobrenome dele (Klaas de Jonge), mas foi bem fácil encontrar na rede.
Achei também uma notícia sobre a doação que ele fez de sua coleção particular de arte africana para o Museu Nacional de Etnografia em Varsóvia, de onde retirei a foto que ilustra este post.
Foram nossos (inesquecíveis) dias na casa do herói. 
Saúde, Klaas, onde quer que você esteja.
ilustração de Varvara

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