quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Fila de atendimento ao cidadão

ilustração Veridiana Scarpelli
A morena por trás do balcão me olhou de esguelha sem parar um segundo de chacoalhar o líquido amarelo no liquidificador, enquanto eu resolvia se iria pedir uma vitamina de mamão ou subir logo os lances de escada que dão para as salas do Serviço de Atendimento ao Cidadão. Peguei dois números de senha, uma para a carteira de motorista e outra para o passaporte.  No Detran, foi tudo rápido e simples...  saí em poucos minutos –  com a carteira nova na mão. Na Polícia Federal houve um probleminha com as impressões digitais: o programa do computador não reconheceu meus dedos.
Vá entender... são os mesmíssimos  dedos que mostrei  na semana passada!  A senhora desce as escadas e lava as mãos com sabão no banheiro da lanchonete, me disse a atendente de trás do guichê.
Funcionou. 
Assinei o protocolo de recebimento, peguei o novo passaporte de cor azul, com chip eletrônico na capa da frente – e já estava agradecendo a atenção e me levantando para sair,  quando a funcionária que me atendia reparou que a data de entrega do passaporte estava marcada para o dia seguinte.
Eu teria que regressar no dia marcado.
Amanhã.
-- Como assim, moça? perguntei,  incrédula, já sentindo o passaporte novo bater asas e voar...
-- Sinto muito... A senhora sabe, é o regulamento...
-- Olhe, por favor, eu nem moro em Porto Seguro... Sou de Santo André, tenho que pegar a balsa, tem problema de  trânsito da estrada... (a voz fraquejou)
-- Senhora... Procure compreender... Temos que seguir as normas...
-- Mas o passaporte está pronto... E eu estou aqui, na sua frente,  em carne e osso... Isto não faz sentido, é um desatino...
Resignada com a minha teimosia, ela explicou que é preciso fazer uma investigação na nossa folha-corrida pra saber se há antecedentes criminais.  Se encontrarem algum crime,  adeus tia Chica, o passaporte é negado.  O prazo para investigar  minha ficha só terminava no dia seguinte... Foi quando um pequeno milagre de boa-vontade iluminou a saleta onde nos encontrávamos: ela resolveu fazer a consulta naquele exato momento. Disse-me que o sistema é conectado com a CIA, a INTERPOL...
Tipo filme policial.
(nenhum problema com a Interpol, mas fiquei com medo que olhassem meu Facebook...)

Um comentário:

Jussara disse...

Nossa, torci aqui pra que vc não tivesse que voltar no dia seguinte. Que burocracia! Ainda bem que a boa vontade venceu (fato raro no atendimento ao público). Gostei do final engraçadinho do texto.
Preciso fazer um novo passaporte tb, e já estou com medo da má vontade dos funcionários ou de ter que pegar fila e perder horas. Tb tenho pavor daquela foto imensa. rsrs