terça-feira, 22 de novembro de 2011

João Artacho Jurado: um criador de prédios ousados

Se há uma figura esdrúxula na arquitetura de São Paulo, o nome dele é Artacho Jurado. A começar pelo nome e pelo fato de ter construído alguns dos edifícios mais comentados, criticados, e adorados da cidade, mesmo sem  ter diploma  de curso superior -- no currículo formal, apenas o curso de desenho em perspectiva que fez na juventude. Reza a lenda que o pai dele, o velho Ramón Artacho, um anarquista, simplesmente não admitia que o filho fizesse o juramento à bandeira, cerimônia obrigatória nas formaturas da época (décadas de 40 e 50).
A marca registrada de Artaxo era a mistura de estilos tão diversos como o moderno, o déco, o clássico, o nouveau... o uso de ornamentos decorativos como pastilhas, gradis, boulevards internos, pilastras, eram excêntricos para a época...
Edifício Parque das Hortênsias, na Avenida Angélica, em Higienópolis, de curvas acintosamente decorativas.  Um perdulário da forma.

É preciso esperar para comprar um imóvel nos edifícios cênicos idealizados por Artacho; a fila de espera é um fato. Este é o famoso Bretagne, considerado seu projeto mais charmoso. Na época de sua inauguração, em 1958, era o prédio mais alto da região. Sua estrutura assimétrica, em forma de "L", faz com que os apartamentos recebam a iluminação natural, além de permitir a existência de um grande jardim na entrada. 
O Bretagne foi o primeiro condomínio da cidade a ter piscina, playground, salão de chá e música. No espírito de glamour da década de 1950, o Bretagne tem uma série de pinturas, desenhos e texturas em seu interior que o torna único.
É um dos cartões-postais do bairro de Higienópolis -- e da cidade. A revista de arquitetura britânica Wallpaper o apontou como um dos melhores edifícios do mundo para se viver.

Outra obra de Artacho: o edifício Viadutos, bem no centro de São Paulo (Viaduto Maria Paula). Duramente criticado à época de sua construção, pela salada de estilos, hoje o prédio recebe elogios justamente por relembrar os sonhos hollywoodianos do cidadão comum daquela época. São 368 unidades, distribuídas em 27 andares onde moram mais de mil pessoas.  Artacho -- arrisco uma impressão -- era um pós-moderno avant-la-lètre ou uma espécie de Gaudi brasileiro. A mulher na imagem é a cantora Marina Lima gravando um clipe na cobertura do prédio.
Um prédio à beira-mar:  a cobertura do Edifício Verde-Mar, no litoral de Santos.

Nenhum comentário: