segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Belmonte: charmosa decadência


O artigo abaixo foi escrito e fotografado por um amigo argentino que nasceu em Brasília e veio passar uns dias de outubro em Santo André. Ele, e a mulher, Dora, foram parceiros de muitas viagens e vivências partilhadas por este brasil-afora.
Salve Boi-Peba!
Salve Diamantina!
Salve Milho Verde!
Salve Biribiri...! cidadezita-fantasma de duas ou três ruas, pras bandas do sertão mineiro.   
Andamos e rodamos por tantos povoados, cachoeiras, rios e veredas...  
Inevitavelmente, a curiosidade e o interesse de Lancelle nos fazia "ver" melhor as coisas verdes miudinhas, os detalhes das sacadas, a dobra da água do rio... Com a idade, ficou mais apurado. Meu Deus, eu nem acreditava quando vi a pilha de livros sobre Santo André e região que ele tomou emprestado da Mikie. Pelo jeito, leu tudo. 
Escolheu Belmonte,  para começar... espero que venham mais artigos tão bons quanto este.
Obrigada, Luís! 

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"Quem estiver de passeio pela deliciosa Santo André vale a pena dar uma esticadinha de poucos quilômetros (algo em torno de 50) e apreciar a inusitada arquitetura retrô de Belmonte.
Essa pitoresca cidadezinha baiana, fundada no começo do século XVIII no delta do rio Jequitinhonha (naquela época rio Grande), percorreu uma longa e monótona história em que pouco acontecia, não passando de unas poucas dúzias de casas de estilo pescador-colonial e muitas denominações diferentes (São Pedro do Rio Grande, Vila de Nossa Senhora do Carmo do Belo Monte, Vila do Rio Grande de Belmonte; Vila de São Pedro de Belmonte, Vila do Rio Jequitinhonha de Belmonte e, simplesmente, Belmonte).

Ate que vinte décadas mais tarde, por volta do final do século XIX, o cacau, levado a essa região por um francês cem anos antes, desponta no mercado internacional e provoca a aparição, desde Belmonte até além de Ilhéus, de uma raça muito especial de ricos coronéis chamados de “barões do cacau”. A história desses sanguinários caudilhos está fascinantemente relatada em “Terras do Sem Fim” de Jorge Amado (...”a melhor terra do mundo para o plantio do cacau, aquela terra adubada com sangue”...). 

Esses personagens, além de muito ricos, eram extremamente vaidosos, tendo uma verdadeira obsessão de ostentar suas riquezas que, devido a suas grandes restrições intelectuais, somente conseguiam mostrar nas fachadas de suas casas.

Assim, houve uma verdadeira invasão de engenheiros, arquitetos e construtores vindos de Salvador, Rio, e São Paulo que, totalmente influenciados pela moda “beaux arts” daquela época que, enriquecida com a presencia de abacaxis, pinhas, e outros elementos tropicais, misturam repúblicas, querubins, galgos, fantasiosos brasões, leões e exóticas aves e constroem palacianas fachadas, superando em grandiosidade a própria casa que as possui.A grande maioria dessas fachadas ainda sobrevive, não necessariamente bem conservadas e, além do que, adereçadas com “macarrónicos” cabeamentos elétrico-telefónicos  colocados posteriormente.
Como curiosidade adicional vale a pena visitar um pequeno chafariz de ferro fundido, feito em Glasgow, Escócia, que, segundo a lenda, estava coroado por uma graciosa garça regional, ainda que as más línguas digam que era uma cegonha, e que um prestativo gatuno decidiu “reciclar” junto com tampas de bueiros, trilhos de bondes, etc.
Outra lenda diz que o farol, feito na França na mesma metalúrgica que a torre Eiffel, realmente estava destinado a Belmonte, Portugal, e o capitão do navio, por pura vontade de conhecer uma linda mulata baiana, decidiu entregar erradamente em Belmonte, Brasil, porém, sem demérito das lindas baianas,  acho demasiada fantasia.A história não para por aí, na década dos anos 20 do século passado e, em decorrência da Semana do 22 de São Paulo, todo novo rico queria ser moderninho e assim, pagos com o rico cacau, desembarcaram na região novos “designers” da construção civil para, desta vez, soterrar o “art nouveau” e  consagrar o “art decô” em outras tantas fachadas.
 A riqueza do cacau foi varrida nos anos 60 pela “vassoura de bruxa”, e novamente Belmonte entrou num período letárgico de quase 50 anos. Agora, graças a CEPLAC e sua pesquisa destinada a exorcizar à bruxa, esperemos que volte a riqueza cacaueira e Belmonte deixe de ser uma “charmosa decadência” e reencontre seus anos de glória.
Luis Lancelle
luis@lancelle.com.ar

Um comentário:

Dagmar disse...

Obrigado pela Visita Olimpia. Bem vinda. Temos também facebook, junte-se a nós. O nome é Antônio Poteiro.
bjs
Dagui