sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Cine Cajueiro: o outro lado da tela





Hoje é gratificante, mas já passamos por maus pedaços. A primeira frustração foi logo no início, quando o Centro Cultural e de Convivência (CCC) nos convidou para passarmos um filme. O público formado pelos adolescentes que frequentam o Centro.
Animados, escolhemos o filme, o da Amelie Poulin. Foi um desastre! As pessoas não gostaram, acharam monótono, enjoado. O filme era legendado e a gente ainda não tinha se dado conta da dificuldade dos meninos para ler legendas. (Curioso como o cinema usa a linguagem verbal oral e escrita simultaneamente) No começo, até que a sala estava cheia, mas à medida que a fita desenrolava os espectadores foram saindo, um a um. Ao final sobramos nós, o Visigalli, e dois rapazes. Nosso conforto foi pensar que pelo menos aqueles dois haviam ficado para ver o final do filme. Até o momento em que percebemos que dormiam a sono solto...
Houve outros fiascos, naturalmente, como em qualquer empreitada. Paulatinamente, fomos nos liberando da obrigação de agradar sempre.
Outra noite complicada foi a do “ Ó Paí, Ó” , esse filme brasileiro que na verdade é um grande clip da Bahia, de Salvador, em particular. Parece um comercial da Bahiatur, mas é alegre, agrega identidade, é colorido, musical: enfim, lazer.
A gente acha válido passar filmes objetivando o lazer, simplesmente. Aqui na vila não há muitas opções de entretenimento, principalmente à noite. Então nem sempre passamos filmes recheados de mensagens edificantes ou educadoras, se for apenas lazer, está bom. Contudo, a gente tenta preservar o que achamos seja “de qualidade”.

Margeando esta questão – indo um pouco adiante – penso também que a arte deve estar desobrigada de questões morais ou políticas e gosto do velho slogan “arte pela arte”. Nas palavras de Paulo Leminski:

“A curiosa idéia de que a arte não está a serviço de nada a não ser de si mesma é relativamente recente. Data do romantismo europeu do século XIX, apogeu da Primeira Revolução Industrial e da hegemonia burguesa, momento em que o artista se torna um desempregado crônico.
Arte e artesanato. A indústria veio para substituí-lo.
Sem função social, mas ainda cheia de sua própria importância, a arte entre horrorizada e fascinada, volta-se contra o mundo utilitário que a cerca, negando-o, criticando-o, como um não-objeto feito de antimatéria.
O mundo burguês é anti-artístico. A arte não precisa mais dele. Já pode nascer a "arte pela arte".

Ah, sim, voltando à noite do “Ó paí, ó”: foi exibido no bar do Paulo, o Cabana Nativa, que nos pareceu muito adequado para o tipo de filme, pois lá tem música, cerveja, forró. Só que alguns pais levaram crianças e quando o filme terminou dois deles vieram nos questionar sobre a propriedade das cenas sensuais, com crianças presentes... Ai que sufoco!

Por outro lado, desde quando criança deve frequentar bar? Afinal, é local para adultos.

E as falhas técnicas? Quando o filme fica mudo e a gente descobre – depois de algum estresse – que esquecemos de ligar as caixas de som, ou colocamos o amplificador de cabeça para baixo (e não achamos os botões certos)... Quando a gente acerta tudo e esquece de levar o filme... quando os equipamentos começam a pifar... (já estamos no quarto aparelho de DVD, a corrosão da maresia)... quando o filme não “roda”...

Sem contar que sempre nos questionamos sobre a presunção de escolher filmes para os outros verem.

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