quarta-feira, 22 de outubro de 2008

os brasileiros estão voltando pra casa


Brasileiros vivem o fim do sonho americano

Lourival Sant'Anna

Quando Washington Souza deixou São Vicente, no litoral de São Paulo, seu filho Tiago era um menino de 9 anos. Hoje, é um rapaz de 16. Eles nunca mais se viram. Mas a crise da economia americana vai unir de novo a família. Cozinheiro há sete anos no restaurante Via Brasil, na Rua 46, em Nova York, Washington resolveu voltar para casa: com a crise econômica, o sonho americano se desfez para ele, como para muitos brasileiros - e americanos.

Num sinal da mudança de percepção em relação aos Estados Unidos - que por gerações exerceu enorme magnetismo sobre brasileiros em busca de uma vida melhor -, Washington conta que, antes de a crise se agravar, arrumou emprego num restaurante para Tiago em Nova York, mas o rapaz não quis vir: preferiu ficar para prestar vestibular para informática.

O cozinheiro não se arrepende de ter emigrado. Ele ganha US$ 760 por semana, trabalhando de segunda a sábado das 7 horas às 19h e nos domingos até as 13h. Pagando apenas US$ 50 por um quarto no apartamento de um cubano, com vista para a Times Square, ele fez formidável pé-de-meia. Construiu sua casa em São Vicente, com R$ 30 mil. Nos últimos sete anos ele juntou R$ 100 mil e investiu numa fazenda de engorda de boi e numa granja em Várzea Grande (PI), sua cidade natal. O negócio, tocado pela irmã, rende-lhe R$ 6 mil líquidos por mês.

Na lojinha de presentes Búzios, da baiana Marcela Ramos, também na Rua 46 (batizada de Little Brazil), as vendas caíram 10% em relação ao verão passado. "Tem mais lugares vazios para alugar e mais pessoas fechando seus negócios", observa Marcela, de 27 anos, há 9 nos EUA.

"Conseguir trabalho não está fácil", atesta a capixaba Alessandra Marques, de 31 anos. Ela trabalha meio período numa clínica de beleza e ganha US$ 400 por semana. Antes da crise, a clínica faturava de US$ 10 mil a US$ 15 mil por mês. Hoje, fatura US$ 4,5 mil. Antes, 40% das clientes eram brasileiras. Elas desapareceram.

Seu marido, o americano Frank Chavarrie, de 47 anos, trabalhava numa empresa de processamento de dados que tinha muitos clientes no World Trade Center. Depois do atentado de 11 de setembro de 2001, foi demitido. Depois de 10 anos nos EUA, Alessandra está voltando para Vila Velha (ES), com os dois filhos, de 9 e de 5 anos.

O paulistano João de Matos, cujo negócio principal é a agência de viagens BACC, diz que vende 50 mil passagens por ano.

Só que agora muitos estão comprando apenas o bilhete de volta para o Brasil.

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