segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Os delírios do cinema

DELÍRIOS EM 35mm
Desde as narrativas fantásticas de Meliès, o cinema tem exibido igual capacidade de tornar plausível o irreal, o imaginário, o alegórico, o fantástico. São muitos os filmes que não se limitam a colocar em cena uma reprodução daquilo que captam os nossos sentidos, indo além nas possibilidades de representação do que está além daquilo que vêem os nossos olhos. Nessas obras, geralmente categorizadas como surrealistas, expressionistas, alegóricas ou fantásticas, o mundo material é apenas uma das inúmeras possíveis dimensões da realidade, à qual se somam o sonho, a imaginação, o delírio, a fantasia.
Em homenagem àqueles cineastas que enxergam no cinema não apenas uma forma de reproduzir a realidade como ela nos aparece, mas também um meio de tornar real na tela tudo aquilo que nossos sentidos não podem captar, a Cinemateca Brasileira apresenta um pequeno ciclo de filmes marcados por uma estética delirante e, em muitos casos, pela mais desavergonhada fantasia, dos quais, felizmente, ainda restam cópias em película para o nosso deleite.
Além de uma obra pouco lembrada daquele que é talvez o maior representante deste cinema delirante, o italiano Federico Fellini, estão presentes filmes de grandes nomes do cinema onírico e fantástico dos anos 80 e 90, como David Lynch, Jean-Pierre Jeunet, Peter Greenaway e Pedro Almodóvar, além de obras atípicas de Steven Soderbergh e dos irmãos Coen. Seguindo a lição de grandes mestres como René Clair, Buñuel, Jean Cocteau e Alain Resnais, estes cineastas, profundamente autorais, utilizam o cinema como um instrumento para fundir vigília e sonho, presente e passado, percepção e alucinação. Seus filmes fazem desta mostra uma singela defesa da tela branca como o espaço do delírio traduzido em imagens e sons.
Texto da Cinemateca Brasileira (São Paulo)

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