“ Bachelard mostra que há poesia nos principais espaços preferidos pelo homem. Na casa, no sótão, no porão. Numa simples gaveta. Num cofre. Num armário. Ele busca a poesia do ninho e da concha, do cantinho da casa, da miniatura, do grande e do pequeno, e sobretudo na imensidão íntima que ressoa em seu interior. O autor de A Poética do Espaço tem a capacidade de nos mostrar que há poesia dentro do homem e à sua volta. Poesia que pode e deve ser participada pelos seres humanos atentos, sensíveis, imaginativos e abertos ao devaneio. Segundo ele, as coisas do quotidiano deverão ser redimidas pela atenção, pela nova significação que a elas devemos dar. Deverão ser vistas em sua profundidade. E entre elas, as mais usuais, as mais íntimas, aquelas que fazem parte de nosso quotidiano e que se relacionam profundamente com nossa vida social, pessoal e psicológica. Há formas que acariciamos simplesmente. Mas há símbolos a que damos profundidade e que nos oferecem, em troca, poeticidade, sensibilidade, intimidade. A sociedade contemporânea e seus indivíduos vivem hoje em enorme solidão. Em parte porque fazem de sua aventura humana no mundo uma mera experiência mercantilista do ter, do possuir e do consumir.
Uma dimensão ontológica do ser com todas as implicações filosóficas e fenomenológicas do conhecimento lhes dariam outra qualidade de vida, certamente. A poeticidade, o devaneio e o cogito do sonhador em dimensões de sentido elevam a consciência e a alegria do viver.”
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Percorri a casa dela olhando todos os detalhes: a fotografia antiga da família italiana em preto/branco/e sépia, no pé da escada (Giampi disse que uns trinta anos atrás a mesma foto estava no quarto dela de Bussana Vecchia), os quadros assinados (seriam de amigos, de artistas italianos?), as almofadas de cetim, as plantinhas, as fotografias, a diminuta cristaleira, os pequenos jarros, azulejos, corujas, as mantas coloridas sobre o sofá, as frigideiras e panelas presas na parede da cozinha em janelas sobre o jardim. Tudo pequeno, tudo tão gracioso e tão pleno de traços pessoais que só posso concordar com o filósofo, é possível ser um poeta do quotidiano. A minha vizinha, Dudu, era uma poeta da vida, está escrito em cada canto da casa dela. Talvez isso explique em parte a alegria que ela teve de viver.
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Um comentário:
querida, fica um pouco do perfume, da musica e de movimento mesmo quando não está mais quem o criou... quase 9 anos se passaram e ainda sinto o toque do Victor em casa...bj
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