sexta-feira, 4 de março de 2011

A luz do Manoel

foto de Luciana Castelo Branco
A luz desapareceu sem piscar nem olhar pra trás, o vilarejo mergulhou na escuridão, dava pra gente revelar fotografia no meio da rua.  A gente cogitava se seria outro blecaute ou falha passageira.  Quando o olhar foi se acostumando com o negrume, começaram os pisca-piscas.  Primeiro da purpurina prateada espalhada no céu, depois dos pirilampos inquietos faiscando fosforescência de um lado pro outro.
Silêncio de cemitério, pios, grilos.
A noite ficou a cara do Manoel de Barros


Manoel de Barros é aquele poeta matogrossense que nasceu no Beco da Marinha em Cuiabá e cresceu numa fazenda no coração do Pantanal. Passou a infância de pé no chão, de terreiro em terreiro, entre os currais e as coisas "desimportantes" que marcariam sua obra. Seus poemas falam de concha, de pedra, de borboleta...
"Ali o que eu tinha era ver os movimentos, a atrapalhação das formigas, caramujos, lagartixas. Era o apogeu do chão e do pequeno."
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Devido a estas reminiscências de árvore, de silêncio,  lembrei dele naquela noite escura ...
Alerta: que ninguém confunda a poesia de Manoel de Barros com regionalismo, com coisa pequena...
É um filósofo, um inventor da palavra.
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"O filósofo Kierkegaard me ensinou que cultura é
o caminho que o homem percorre para se conhecer.
Sócrates fez o seu caminho de cultura e ao fim
falou que só sabia que não sabia de nada. Não tinha
as certezas científicas. Mas que aprendera coisas
di-menor com a natureza. Aprendeu que as folhas
das árvores servem para nos ensinar a cair sem
alardes. Disse que fosse ele caracol vegetado
sobre pedras, ele iria gostar. Iria certamente
aprender o idioma que as rãs falam com as águas
e ia conversar com as rãs  (...)"

4 comentários:

Guiomar disse...

Manoel de Barros tem tudo a ver com Santo André, ou uma parte de Santo André, não?
"Uso a palavra para compor meus silêncios/Não gosto das palavras fatigadas de informar/Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão/ tipo água pedra sapo".
Aliás, vc. viu o filme sobre ele ("desbiografia oficial") Só 10% é mentira?

Jussara disse...

Olá, Olimpia,
Leio seu blog há algum tempo, por algum "retuíte" do Riq Freire. Já li todos os posts e assino o feed pra ler pelo reader. Isso faz com que eu fique com preguiça de entrar no blog pra comentar. Mas como vc falou do poeta Manoel de Barros, não resisti. Então ele é mesmo de Cuiabá? Uns dizem que sim , outros dizem que é de Corumbá - MS. Não sei.
Enfim, adorei a menção ao poeta.

Desde que comecei a ler seu blog fiquei com vontade de conhecer Santo André (além de Morro de SP). Gosto do seu jeito despojado de escrever, das fotos, dos pequenos textos.
Me comovi com aquele post sobre a Ana Luiza, e desde então tenho acompanhado o blog da mãe dela. Que menininha adorável, inteligente e guerreira. E que pais maravilhosos ela tem, humanos, éticos, espiritualizados. Torço muito por eles.

Abraços.

olimpia disse...

Como é bom saber que ainda tem gente que lê poesia, Jussara.
Não sabia dessa dúvida quanto ao local de nascimento do poeta... Enfim, o que importa é a obra dele.
Guiomar, não vi o filme, mas achei ótimo o título..."Desbiografia Oficial" cai como uma luva...

olimpia disse...

Jussara, esqueci de comentar que reenviei seu comentário carinhoso para os pais de Ana Luiza... eles estão precisando de apoio e conforto moral...

Obrigada, moça.