segunda-feira, 28 de março de 2011

procura-se porteiro para prédio próprio

Numa dessas nossas vindas para São Paulo, passou-se o episódio abaixo -- uma história de aeroporto, trânsito e taxista. Quer algo mais paulistano?  Na verdade já contei esta história, tempos atrás. Dei uma revisada no post e lá vai ele de novo...
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O comandante da Gol aterrissou o avião no aeroporto de Guarulhos precisamente no horário marcado. Bom começo – e a sorte continuou a me acenar: na esteira rolante das bagagens despontava minha mala personalizada por dúzias de mini adesivos redondos e coloridos. Saí apressadamente da sala de desembarque, desviando dos outros viajantes, dos carrinhos rolantes e das pilhas de malas: eu só tinha seis minutos para alcançar o ônibus da Gol que faz o trajeto bate-e-volta entre Guarulhos e Congonhas.
Felicidade! Cheguei a tempo. Quem não apareceu foi o ônibus. Perdeu-se, entre os dois aeroportos. Véspera de feriadão... Devia ter um milhão ou mais de pessoas tentando sair ao mesmo tempo de São Paulo. Não havia previsão.  Fiquei indecisa, esperei um tempo, mas acabei desistindo do ônibus gratuito.  Comprei passagem em outro serviço de ônibus executivo sem escapar do infortúnio de passar três horas presa no trânsito.
Para distrair, comecei a prestar atenção à conversa de um passageiro ao celular (olha que falta de educação).  Ele falava alto e telefonava alternadamente para a ex e para a atual mulher – queria convencer uma delas a buscá-lo no aeroporto enquanto explicava para a outra que não poderia ficar com as crianças naquele final de semana prolongado. Tantos telefonemas fizeram a voz dele fraquejar; e, o pior, nosso companheiro parecia estar em séria desvantagem. À esta altura quase todo mundo dentro do ônibus acompanhava em silêncio curioso o desenrolar das negociações.  As ligações do homem para as mulheres foram rareando, ele foi baixando o tom da voz  – e a gente ficou sem saber o resultado, como naqueles filmes que terminam “em aberto”.  Tivemos que nos consolar com a música de péssimo gosto que saía das ondas da estação de rádio escolhida pelo motorista do ônibus.
Minha aflição era intensa. Eu havia combinado com minha irmã, que estava chegando de Brasília, que  aguardaria por elas (vinha com a filha) dentro do apartamento da Vila Mariana. Elas não tinham chave, nem eu avisara a portaria. Pelas regras de segurança do prédio elas ficariam  do lado de fora até eu chegar – e estava frio.  Nem celular eu portava naquela hora.
Quando finalmente cheguei ao meu destino, não avistei ninguém em frente ao edifício. Eu pegara um táxi em Congonhas, o porteiro noturno reconheceu-me, abriu as grades e veio me ajudar com a bagagem. Perguntou-me logo se aquele taxista tinha se perdido no caminho.
- Não, respondi, surpresa. Ele veio pelo caminho certo.
- Mas ligaram para cá, perguntando como chegar.
- Como assim?,  retruquei, estranhando o assunto.
O porteiro abriu um sorriso exultante: 
- Eu sabia! Eu sabia que era um golpe!
- Golpe?, meu espanto só aumentava.
Só fui entender o que acontecera  realmente quando minha irmã e a sobrinha chegaram.
Quem estava perdido no trânsito era o motorista do táxi delas. Minha irmã tinha o número da portaria. Só que o porteiro da noite é um sujeito bem desconfiado e não a conhecia. O diálogo entre ele e minha irmã se passou mais ou menos assim:
- É da portaria do Edifício Casimiro de Abreu?,  perguntou minha irmã
- Quem está falando?, responde o porteiro.
- Eu sou a irmã da moradora do apartamento 121, estou vindo de Brasília.
(silêncio prolongado)
Minha irmã insiste: Estamos andando em círculos dentro de um táxi, o motorista não conhece a redondeza, o senhor pode explicar o endereço pra ele?
- Porquê?
- Porque não estamos encontrando a rua... preciso que o senhor ensine o caminho para o motorista do táxi. 
- Ah... Olhe, sinto muito, mas não posso fazer isto. É contra o regulamento do prédio.
- Moço, por favor, estou afirmando que sou irmã da proprietária do apartamento. Já tenho o endereço completo (deu até o CEP), estamos próximos, só não sabemos como chegar.
 (silêncio muito prolongado)
Com bastante calma minha irmã explicou tudo outra vez: estavam perdidas no trânsito, dando voltas e voltas, o taxista não conhecia a rua...
Debalde. O porteiro desligou o telefone. Mas não sem antes perguntar:
- Que tipo de golpe é esse, hem, minha senhora?

4 comentários:

Jussara disse...

Adoro essas histórias do cotidiano. Pena que não soubemos o desfecho do homem ao celular. Só achei meio cara de pau querer que a ex fosse buscá-lo.
Já sobre porteiros prefiro nem comentar. No caso do post, de certo modo ele agiu certo, do jeito que anda a violência.... mas é mto ruim ficar rodando sem encontrar o endereço, ainda mais num táxi com taxímetro girando.

olimpia disse...

Olá, Jussara!
Muito obrigada pelos comentários! São divertidos e interativos.
Valeu,
abs,
olimpia

m.Jo. disse...

Visão Poliana: deve ser melhor ficar dentro do taxi perdido em S.Paulo do que fora dele, na rua, sentada em cima da mala, depois de ser barrada na portaria.

olimpia disse...

Isso é o que se chama ter senso prático, Mazé... rsrsrs