Poucos temas são tão intrigantes para o gênero humano quanto o tempo. O tempo que passou, aquele que virá, o tempo que fará no domingo à tarde -- e o que será, que será?
Aconteceu de ontem e hoje me deparar com dois textos de tempo surpreendentes. Em 1986, pesquisadores brasileiros e britânicos contataram pela primeira vez os Amondawa, uma tribo amazônica feita de gente que não percebe o conceito de tempo como algo em que os eventos ocorrem. Tanto que a tribo não tem palavras para designar “tempo”, nem sequer conceitos triviais como “mês” ou “ano.” Tampouco se utilizam dos artefatos tecnológicos ligados ao tempo -- como calendários, ampulhetas ou relógios. Não sabem dizer suas idades, simplesmente assumem diferentes nomes para diferentes épocas da vida.
Que doido.
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O outro texto é literário, está no romance do escritor israelense Amós Oz, de título curioso “Não diga noite”. Noite, no idioma árabe (Laila), é uma palavra feminina, um nome de mulher. A Moniquinha de São Paulo apareceu com o livro, comecei a ler descompromissadamente e virou amor à primeira página.... A passagem que achei intrigante sobre o tempo é essa, na página 139 da Companhia das Letras: |
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“Era uma vez uma aldeia aos pés dos Cárpatos, uma aldeia com trinta casebres e só dois relógios. Um pertencia a Starosta, o ancião da aldeia, e o outro pertencia ao vigário. Um dia, um dos relógios parou e o outro se perdeu. Ou talvez tenha sido o contrário. A aldeia inteira ficou sem tempo. Então enviaram um rapaz, esperto, sabia ler e escrever, para o outro lado da montanha, para a cidade de Nadornaya, para trazer de volta o tempo e acertar o relógio que havia parado. Bem, o rapaz cavalgou um dia e meio, ou mais, chegou a Nadvornaya, viu o relógio na estação, anotou cuidadosamente a hora correta num pedaço de papel, dobrou a preciosa folha, escondeu-a no cinto e voltou para sua aldeia.”
Quer saber? Vou ligar pras minhas amigas gêmeas e me autoconvidar para celebrar o aniversário duplo. Hoje não estou para metafísicas. ------------ | |
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2 comentários:
Que guinada, hein?
Da inexistência à celebração do tempo, sem pular nenhuma linha!
:-)
E agora já é outro dia...
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