terça-feira, 31 de maio de 2011

Viaje Mais: Santo André da Bahia

A matéria abaixo é de autoria da jornalista GABRIELA MEGALE, realizada para a última edição da Revista Viaje Mais.
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 “Entardecer no Rio João de Tiba, que separa Santo André e Santa Cruz de Cabrália: depois da travessia de balsa, certos “sinais da civilização” ficam para trás”
“Apesar de vizinha da fervida Porto Seguro, a vila praiana mantém o sosseo e um certo afastamento das facilidades modernas, convidando a explorar um dos símbolos de preservação e charme rústico na Bahia.”
A precisão dos mapas é a prova. Caso contrário, não daria para acreditar que a encantadora e pacata vila de Santo André, sul da Bahia, fica a menos de 40km de uma das capitais brasileiras do agito, a festiva Porto Seguro. Primeiro porque o som dominante por lá não é o axé: o que faz a cabeça dos moradores é o forró,  por causa da proximidade com o Espírito Santo, e as flautas das crianças, de cujos instrumentos ecoam As Quatro Estações, de Vivaldi, ou Asa Branca, de Luz Gonzaga, composições bem mais elaboradas do que qualquer hit baiano de verão.
Outro diferencial da cidadezinha de cerca de 800 moradores, dona de praias de areias brancas e de um irresistível mar turquesa, é que a grande quantidade de turistas que “invadiu” os destinos da região, como a própria Porto Seguro e Trancoso (hoje tomada por mansões de milionários), não atravessou o Rio João de Tiba, que dá acesso à vila. Assim, Santo André continua preservada, como raríssimos trechos do litoral baiano. A palavra preservação, a propósito, tem tudo a ver com o lugar. É que o vilarejo, distrito de Santa Cruz Cabrália – onde foi realizada, em 26 de abril de 1500, a primeira missa após o  descobrimento do Brasil --, está dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Santo Antônio, onde não faltam cenários de cinema que mesclam mata atlântica, restingas costeiras, falésias, recifes de coral, e, claro, praias para de lá de especiais.
Santo paraíso
A beleza e o charme do vilarejo de pescadores estendem-se à singela lenda que dá nome ao lugar. Os moradores costumam contar que a imagem de um Santo André de ouro foi colocada sob aquelas terras por um padre temeroso que a valiosa peça desaparecesse. Tanto cuidado só serviu para batizar a vila, pois, de acordo com a história popular, a estátua de ouro de fato sumiu na areia.
A riqueza que ficou e que segue como grande trunfo de Santo André é a beleza natural da região. Ela pode ser apreciada já na travessia de balsa do Rio João de Tiba, que leva de Santa Cruz de Cabrália até lá. O percurso – que custa meros R$0,80 por pessoa e R$8,20 por veículo, incluindo o motorista – dura apenas dez minutos. O que é uma pena, pois revela um dos visuais mais bonitos da viagem, principalmente à noite, quando a luz dos astros ilumina as águas e até é possível ver estrelas cadentes. De dia, o trajeto também impressiona, já que o rio com nome de gente exibe um mangue vistoso em meio à paisagem de mata atlântica.
Ao pisar em Santo André, esqueça facilidades como bancos, caixas eletrônicos e máquinas para pagamento com cartões de crédito e débito, entre outros sinais de civilização. Salvo raras exceções, tudo fica para trás, antes da travessia de balsa.


Antes, porém, que o visitante de perfil urbano e tecnológico se desespere por estar no “fim do mundo”, é quase certo que ele acabará fisgado pelo ritmo bem baiano do povoado e de seus moradores, isto é, cheio de informalidade, alto-astral e outras cositas más. E pelas delícias locais. A começar pela praia que leva o nome da vila, a qual é sossegada e com mar mansinho, perfeita para quem está com crianças. E é na frente dessa faixa de areia que se concentram as casas e os empreendimentos hoteleiros do vilarejo, como o completíssimo Resort Costa Brasilis. Distribuído em cerca de 50 mil metros quadrados de área, o complexo é o único da região a contar com um SPA, o Ruby.
Vizinho ao Costa Brasilis fica a encantadora Pousada Victor Hugo, com um delicioso bar pé na areia aberto aos hóspedes e ao público em geral. O local é de propriedade do italiano Ugo Colomba, que chegou à vila nos anos de 1980 num passeio de bugue e nunca mais foi embora. Passar algumas horas no agradável barzinho à beira-mar, apreciando o vaivém das ondas, é um programa relaxante e altamente recomendável.
O encantamento é ainda maior para quem encarar a caminhada, por uma estrada de terra, rumo à praia semideserta de Jacumã, cuja porção esquerda recebe o nome de Tartarugas. Essa é a praia mais famosa de Santo André, na qual se formam convidativas piscinas naturais quando a maré fica baixa. Também é nesse pedaço que ocorre o principal agito do ano na vila, uma rave de réveillon chamada Dolce Vita Party, organizada pelo DJ e produtor Duty. A festa, que reúne turistas de várias partes do mundo, tem como palco o Restaurante Fazenda Amendoeira, um dos points gastronômicos da região. É de lá que se aprecia um dos mais belos pores de sol do vilarejo, que encontra concorrência só na outra ponta da praia, sob a sombra das castanheiras diante da foz do Rio João de Tiba.
Para ir além da contemplação do entardecer, pode-se conhecer os “caminhos secretos” do rio, num passeio guiado pelo nativo Carlindo (73-9142-1004). Com seis pessoas no barco, ele segue pelas águas do João de Tiba até o banco de areia Araripe, cercado de piscinas naturais localizadas a cerca de duas horas da costa.
Reduto gastronômico
Apesar de ser um lugar pequeno e rústico, Santo André impressiona quando o assunto é boa comida. Há estabelecimentos servindo lanches e refeições em todas as faixas de preço, os quais são capazes de agradar aos mais variados paladares, da simples lanchonete do Nelmo – que faz o melhor hambúrguer da região – ao Restaurante Fazenda Amendoeira. Na beira do rio, não faltam lugares para comer um peixe fresco e tomar um bom vinho enquanto se espera pelo pôr do sol. Comandado pelo chef italiano Stefano Arosio, o Sant’Annas, por exemplo, oferece massas frescas, algumas servidas no papillotte. Ali perto está o Gaivota que prepara a comida regional no sistema de prato feito. Só que os PFs da casa são mais elaborados, levando ingredientes como peixes e frutos do mar. Mais sofisticado, o El Floridita fica na Pousada Corsário. Das caçarolas “pilotadas” pela chef Mikie saem maravilhas como a lagosta com arroz negro, o peixe com gengibre e inhame rosti e o frango com queijo de coalho.
Para aproveitar a dobradinha boa comida e badalação num mesmo local, a boa é seguir para o Casapraia (73-3671-4155) de propriedade dos argentinos Pablo Delgado e Amadeo Romero, moradores da vila desde 2002. “Viemos para cá tocar o restaurante de um amigo e dois anos depois abrimos nosso próprio negócio”, relembra Pablo. “Hoje estamos muito entrosados com o povoado e acreditamos que fazemos parte da vida de Santo André. É difícil nos imaginarmos em outro lugar”, afirma o argentino. De frente para a Praia de Santo André,  o espaço com tendas gigantes é um mix de galeria de arte, hotel e restaurante, onde, em algumas noites, rolam baladas: Jam sessions, sessões de cinema e os agitos da alta temporada. A cozinha é contemporânea, com influências de vários lugares do mundo, resultando num cardápio que varia de acordo com a inspiração dos donos. No entanto, pratos de sucesso como o famoso arroz Santo André, que leva camarões, ocupa um lugar cativo no menu. O Casapraia também funciona como um hotel inusitado, pois tem apenas uma suíte. Com 100 metros quadrados e decoração pra lá de charmosa, a acomodação é perfeita para um casal em lua de mel ou que está em ritmo de comemoração.
“Entre os moradores da vila, não falta gente descolada, como os argentinos Pablo e Amadeo. Num passeio pela praia ou durante um almoço nos restaurantes locais, você encontrará brasileiros originários de grandes cidades que fizeram o mesmo movimento. É o caso da jornalista Léa Penteado, braço direito de Dody Sirena, um dos maiores empresários artísticos do país, que gerencia a carreira do “rei” Roberto Carlos. “Há seis anos vim morar em Santo André e, mesmo com o upgrade em serviços, como a balsa para a travessia do rio, luz, telefone, internet, pousadas e restaurantes, a vila mantém sua essência”, explica Léa, que descobriu o vilarejo através do irmão Victor. “Quando ele morreu, vim ver a casa para decidir o que nossa família faria com ela. Acabei comprando-a e fiquei por aqui”, conta a jornalista, que hoje se reveza entre a correria de São Paulo e a tranqüilidade da vila.

2 comentários:

Ivan e Gabi disse...

Olá, estou programando uma viagem com minha mãe para Santo André (BA) e gostaria de saber qual a melhor maneira de fazer o traslado do aeroporto de Porto Seguro até Santa Cruz de Calábria. Existem linhas de ônibus que fazem este trajeto? É seguro? Estamos pensando em ficar na Pousada Ponta de Santo André, o que acha? Agradeço suas dicas.

olimpia disse...

Olá!
Enviei-lhes mensagem; para o email que encontrei no seu site...
Sim, terei prazer em ajudá-los
A Pousada Ponta de Santo André é linda...!
Ótima pedida.
abs,
olimpia
(olimpiacalmon@gmail.com)