quarta-feira, 11 de maio de 2011

Prezada Clara,

Lembra de nosso último encontro no ano passado em João Pessoa? E de como você ficou chateada comigo? Mal entrei na sorveteria de Tambaba avistei você e o Felipe caminhando para o balcão dos sorvetes de frutas; lembro que o dia estava anuviado, quiçá prenunciando o incidente; engraçado que naquela horinha mesmo eu estava saltitante por nada em especial; feliz só por estar viva. Ao lhe ver caminhando na minha direção, sorri, brinquei com você e fiquei na expectativa agradável de lhe dar bom dia. Aconteceu (de novo)... Você tomou como séria uma brincadeira banal... Nem me passou qualquer intenção de lhe aborrecer, Clara. É que tenho um jeito gaiato de olhar pra vida.  Sempre chego perto de você pisando em ovos, porque já percebi que temos desencontros causados pelo verbo, assim como já notei que simpatizamos mutuamente uma com a outra. O que nos impede de uma maior aproximação, creio eu, é o fato de termos tipos de humor completamente diferentes.   Quando você me falou que se sentira “agredida” com a bobagem que falei, fiquei perplexa... me senti uma elefanta pisando em cristal da Bavária. Afastei-me, frustrada, com a sensação de ter trincado uma delicadeza de casca de ovo...
Mais tarde (só hoje) pensei o caso com calma e me ocorre agora que talvez haja outra razão que lhe impede de me aceitar como sou.  É algo que também ocorre aqui em Santo André, de vez em quando. É mais ou menos isso... Parece que as pessoas fazem uma idéia de você a partir de dados divulgados pelo vento, sem se preocupar de olhar para você de fato e tirar as próprias conclusões. Tempo atrás, por exemplo, fui andar de bicicleta no povoado e, como gosto de fazer, fui parando aqui e acolá para um dedo de prosa com os conhecidos. Qual não foi a minha surpresa em descobrir que eu estava “brigando” para tentar ocupar o posto de diretora da Escola Municipal local....!  Uma senhora nativa até me censurou brandamente -- porque você está querendo tomar o emprego de quem precisa? Meu queixo caiu. Nesse caso, me dei ao trabalho de dar explicações. A última coisa que eu gostaria de fazer agora seria ocupar um posto difícil e para o qual nem tenho competência. Nada tão distante de mim – no entanto, era dado como certo, na voz corrente aqui da Vila, veja só.

Caso seja esse o seu caso –  se você já tem uma idéia formada sobre esta pobre vivente armazenada na sua cachola – peço-lhe que na próxima vez que nos encontrarmos olhe pra mim de verdade. Porque com esses óculos que você está usando pra me ver, Clarinha, eu fico muito pequenininha....     
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imagens das páginas de Juliana Cunha, LudaIlustra    
                      

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