Deu para notar que a loira de óculos azuis andando ao meu lado no corredor lateral da estação falava comigo porque ouvi distintamente a sua voz (para que lado fica a Sé?). Eu sabia que só havia duas opções de resposta (Tucuruvi ou Jabaquara?) mas a paciência dela esgotou antes de minha lerdeza passar. Nas primeiras horas dentro de São Paulo a realidade fica sempre embaçada e a memória em curto-circuito ou em brancos. Sei de cor os nomes das estações – é a linha que utilizo – de Jabaquara até Tiradentes. Dali pra frente, quando o trem vai pra zona norte, só recordo os nomes das estações com palavras bonitas (Armênia, Parada Inglesa) ou com particularidades (Carandiru). (Na foto, André du Rap, sobrevivente ao massacre do Carandiru)
Tentei me situar enquanto aguardava minha vez na fila de recarga do cartão da catraca e me esforçava para entender a conversa da mulher que parou atrás de mim. Não guardei uma palavra do que disse; quando voltamos a nos encontrar na plataforma do trem ela me olhou de relance e com um largo sorriso me avisou que registrara o tempo na fila: 12 minutos. Talvez trabalhe com estatísticas?
Desci no Paraíso (estação lotada, quem diria, com esse nome...) e antes de mudar de linha parei para ler as poesias que neste dia recobriam as paredes, havia aquela da linda e louca Ismália
"Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar... A poesia, o estranhamento inicial da cidade e a garoa fina só contribuíam para a sensação de sonho e de fantasia -- rendi-me ao onírico sem culpa -- entrei na locadora e peguei três filmes na prateleira central: um cubano, um italiano e um chinês.
O dia seguinte amanheceu cheio de realidades – jejum e exame de sangue no laboratório da Augusta, receita para o casal. Saímos dali para tomar café na Livraria Cultura da Paulista que nesta manhã abriu as portas ao som de uma banda infanto-juvenil chamada Vila-Lobinhos formada por jovens da periferia paulistana. Na mesma hora lembrei dos projetos sociais de Santo André, do esforço do Centro Cultural, do IASA e da cooperação do Corpo Cidadão para disseminar cultura e arte entre os jovens lá da minha Vila baiana. Emoção. Mesmo com as sacolas dos livros ainda deu para entrar na Galeria de Arte do Sesi e percorrer a exposição de Arte Colombiana, uma coletiva que prima pela variedade – são 50 artistas (entre os quais Botero) com influências das vanguardas do século XX (concretismo, cubismo, abstracionismo) e 148 obras, como este óleo de Beatriz González chamado Suicidas do Sisga II -- a artista pintou o quadro depois de ler no jornal a notícia do suicídio de um casal em uma represa.
São Paulo tem dessas coisas...
Desci no Paraíso (estação lotada, quem diria, com esse nome...) e antes de mudar de linha parei para ler as poesias que neste dia recobriam as paredes, havia aquela da linda e louca Ismália
"Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar... A poesia, o estranhamento inicial da cidade e a garoa fina só contribuíam para a sensação de sonho e de fantasia -- rendi-me ao onírico sem culpa -- entrei na locadora e peguei três filmes na prateleira central: um cubano, um italiano e um chinês.
O dia seguinte amanheceu cheio de realidades – jejum e exame de sangue no laboratório da Augusta, receita para o casal. Saímos dali para tomar café na Livraria Cultura da Paulista que nesta manhã abriu as portas ao som de uma banda infanto-juvenil chamada Vila-Lobinhos formada por jovens da periferia paulistana. Na mesma hora lembrei dos projetos sociais de Santo André, do esforço do Centro Cultural, do IASA e da cooperação do Corpo Cidadão para disseminar cultura e arte entre os jovens lá da minha Vila baiana. Emoção. Mesmo com as sacolas dos livros ainda deu para entrar na Galeria de Arte do Sesi e percorrer a exposição de Arte Colombiana, uma coletiva que prima pela variedade – são 50 artistas (entre os quais Botero) com influências das vanguardas do século XX (concretismo, cubismo, abstracionismo) e 148 obras, como este óleo de Beatriz González chamado Suicidas do Sisga II -- a artista pintou o quadro depois de ler no jornal a notícia do suicídio de um casal em uma represa.
São Paulo tem dessas coisas...
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